Vita Alimentos

TV ligada no canal 13. A cozinha maravilhosa da Ofélia era o programa de lei em todas as manhãs de Vita dos Santos, aos 10 anos de idade. Sua mãe, que era cozinheira e também confeiteira, saía para trabalhar e a deixava responsável por cuidar dos quatro irmãos mais novos e também de cozinhar para eles. Depois de assistir ao programa, imitava tudo enquanto fazia o almoço. “Agora você vai colocar o alho, depois a cebola, refogue em fogo baixo… Me divertia!”,
relembra.

Aos 13 anos, começou a trabalhar em casas de família e só parou em 2013, quando resolveu abrir seu próprio negócio: um carrinho de hot dog que não deu certo. Mas Vita não desistiu, voltou para o fogão e investiu em marmitex. Cozinhava na sua cozinha e depois vendia aos vizinhos. O sábado era o mais esperado pela clientela porque era dia de feijoada.

Só que as pessoas não queriam mais pegar a marmita no portão e simplesmente ir embora. Elas queriam ficar ali, conversar com Vita e outros clientes. Aos sábados, Vita começou então a servir sua feijoada na cozinha. Convidava o pessoal para entrar e pronto, e a tarde era de imensa alegria.

“Depois de um desses sábados, decidi conversar com meu marido. Disse que precisávamos reformar a garagem e transformá-la num salão. E fizemos”, conta. De pouco em pouco, ela foi comprando mesas e cadeiras. Juntando os utensílios que já existiam em sua casa, a garagem se transformou em um restaurante que serve comida bem caseira de segunda a sábado.

Bife à parmegiana, costela com mandioca, refogado de verduras e legumes – como opção vegetariana –, Vita faz o prato ao gosto do cliente, a maior parte deles de longa data. A milanesa, por exemplo, tem massa bem sequinha e crocante e é acompanhada por um arroz soltinho e feijão com caldo de casa de vó. “Não abuso do sal, pois sei que há clientes que têm hipertensão, nem da pimenta porque outros têm problemas estomacais”, diz. “Você cria o prato, transforma o alimento e depois satisfaz as pessoas, trazendo união, felicidade. Isso me renova. Não é só comer que é um dos prazeres da vida, cozinhar também é”, sorri Vita.

Bar do Zé Batidão

Quem cola no sarau da Cooperifa descobre muito mais que as poesias recitadas. Localizado no Jardim Ângela, o Bar do Zé Batidão tem superação, solidariedade e alta gastronomia.

A infância e adolescência de seu Zé foram duras no trabalho quase escravo em uma fazenda de Minas Gerais. Com 17 anos, ele veio para São Paulo.

O primeiro bar do seu Zé foi na Chácara Santana, onde, em 1988, conheceu Sergio Vaz, parceiro que trouxe o sarau de Taboão da Serra para o Jardim Ângela. Já são 15 anos de Sarau da Cooperifa, sempre às terças-feiras, das 20h30 às 23h. O horário de término, porém, é só mera formalidade: ninguém quer ir embora do ambiente aconchegante e familiar.

Assim como a história de vida do seu Zé, os pratos são conhecidos bem pra lá do Jardim Ângela. Um dos mais mais pedidos é o escondidinho de carne seca. Ele revela algumas dicas que o tornam original e saboroso: a manteiga vem de Uberaba, Minas Gerais, e o purê é feito com mandioca, leite e queijo, além de um segredo “A mussarela deve ser ralada, não picada, pois assim entra dentro do purê, dando um verdadeiro sabor”, diz seu Zé.

O escondidinho, aliás, rendeu uma das histórias do bar. Um funcionário da Rede Globo, cliente fiel, sempre pedia o prato e levava um para viagem. O destino era Ana Maria Braga. Um dia, conta seu Zé, o rapaz sumiu e ele viu a apresentadora mostrar o mesmo prato, dizendo ser receita dela. Sem rancor, seu Zé apenas falou a quem estava ao redor que era dele a criação e recusou o convite feito pela produção para participar do programa.

A feijoada também é diferenciada. Tem só jabá, linguiça, costela, pé e orelha. “Essa é a original, não vai rabo nem lombo. Isso só dá mais volume, enche a panela e os clientes acabam não comendo essa parte.” A dele chamam de feijoada light. E tem o destaque do torresmo: direto do açougue, é frito em óleo a 180 ºC para ficar igual a pururuca.

Seu Zé tem um vasto currículo. No bar, fundou uma biblioteca para os jovens que não tinham condições de ir às de longe e uma escolinha onde mais de 90 crianças aprendiam a ler, escrever e a recitar seus próprios versos no microfone, alimentadas por suas comidas. É criador de um time de futebol e um dos responsáveis pelo Cinema da Laje, com sessão mensal em cima do bar. “Cinema é caro, Coca-Cola é cara, pipoca no cinema é cara”, justifica, sem esquecer da comida.

Publicado em agosto/2018. Estamos trabalhando para atualizar as informações do local 🙂

Pastel Gigante

Quando você entrar no mercado de Santo Amaro, vai dar de cara com placas do Elvis Presley e, ao som de Beatles, poderá se deliciar com um pastel de 30 cm por R$ 14,50. Sim, galera, o sonho é real. E, se os 30 cm não forem suficientes, não se preocupe: tem pastel maior ainda. Até porque “quando gostamos de uma coisa gostosa, não queremos parar de comer”, diz Priscila, a dona da pastelaria Pastel Gigante, sobre suas criações.

O Pastel Gigante não é uma pastelaria comum. “O nosso foco não é um pastel de feira. É sem vento, para servir como uma verdadeira refeição. O recheio vai de ponta a ponta, podendo pesar até 400 g e dá até para dois”, diz Paulo, dono de outra unidade, em Santo Amaro. São 45 sabores de pastéis, entre eles o de costela, que é o carro-chefe; cordeiro, que é quase uma iguaria, já que as pessoas ainda têm receio de experimentar; mas o campeão de vendas ainda é o de carne com queijo. Também há a opção de montar o seu próprio pastel.

O tempero utilizado na pastelaria é o mesmo que o casal de donos, Priscila e Gilberto, utilizam em sua própria cozinha. Priscila gostava de cozinhar e fazia pastéis em casa até que, em 2008, mudou seu ramo de trabalho. Analisou as chances com seu marido e montaram o negócio perto de casa no Jardim São Luís. O cardápio sempre foi variado, já que gostam de oferecer coisas diferentes do que as pessoas estão acostumadas a experimentar. O teste do pastel é feito em casa: preparam antes, provam e, só depois, levam ao restaurante.

Desde de 2008, o Pastel Gigante tem a mesma família cuidando do negócio. Eles fazem cerca de 300 pastéis por dia em duas unidades. Paulo, sócio do casal, é amigo de Gilberto desde a infância e já tinha uma pastelaria. Se juntou para  ajudar a alavancar os negócios e assim nasceu o pastel gigante e super-recheado da nova unidade no mercado de Santo Amaro. Lá, o público é diverso com estudantes que saem das escolas da região, executivos de empresas e moradores da Cohab e do Campo Belo.

O sucesso não é por acaso. Há cuidado especial em todo o processo de produção: alguns dos ingredientes são comprados ali mesmo no mercado de Santo Amaro e a massa dos pastéis é especial e mais grossa para aguentar o peso dos recheios. “Quero poder comprar do melhor para oferecer o melhor por um preço viável. O cliente está disposto a pagar mais por qualidade”, afirma Paulo.

Bar do Lopes

Criado na década de 1940, o Bar do Lopes nasceu simples, um barzinho comum de bairro, nada de servir refeições completas. Mas assim como seu bairro (Jardim da Saúde), acompanhou o crescimento da região e foi se sofisticando até se tornar um bar e restaurante com mais de 75 opções no cardápio. O almoço por quilo tem mais de 20 tipos de pratos quentes e 20 de saladas. A noite, o cardápio à la carte conta com 25 opções de pizza e 13 de lanches. O destaque é o Bar do Lopes, que vem no pão de hambúrguer ou francês, com lombinho, queijo fresco, tomate e orégano.

Aqui, tradição não significa sempre pertencer a uma única família. O Bar do Lopes foi tocado por diferentes donos, sem perder o nome de seu fundador e as características que abraçam os clientes.

O lugar é ponto de encontro para filhos, mães, pais, avós, amigos… Para diferentes vontades e experiências. “E isso vem de pai pra filho”, conta Pedro, gerente do bar desde 1997. O Bar do Lopes serve tanto pra encher a pança como pra quem quer colocar o papo em dia. Atende bem e da mesma forma quem frequenta há mais de 15 anos ou novas clientes como eu.

Na mesa, são entregues dois cardápios. Um com refeições completas – desde o tradicional filé à parmegiana a um saboroso prato de bacalhau – e outro com uma variedade de 35 tipos de porções, que passeiam entre batata frita, pizzas e uma ampla variedade de frutos do mar. Para beber, 79 tipos de bebidas: sucos naturais, refris, cervejas, chopes, conhaques, vinhos, aperitivos, caipirinhas, destilados, aguardente…

Com o prato escolhido, fiz o pedido ao Seu Rufino, um garçom que trabalha no Lopes há vinte anos. “Sinta-se à vontade. Se precisar é só chamar”, diz sempre que passa pela nossa mesa. Depois de cinco minutos, chega lula à dorê, um prato farto de encher os olhos, com um aroma que te faz querer provar aqueles petiscos dourados o mais rápido possível.

O ambiente me faz esquecer o movimentado bar ao lado, já que é dia de futebol. Com uma amiga, nem percebemos o tempo passar.

Comemos e bebemos à vontade, querendo ficar mais uma ou duas horas ali. Mas já era quase 23h30, o bar ia fechar e tínhamos que pegar um ônibus. Sorte nossa que o ponto ficava ao lado, ali mesmo na avenida do Cursino.

Pedacinho da Bahia

Um sonho trouxe Josi, a rainha do acarajé de Heliópolis, direto da Bahia para São Paulo. Batizada como Joanice Leandro dos Reis, teve uma vida repleta de dissabores. Por diversos problemas, quando criança a baiana teve que sair de casa. “Dormia nas varandas alheias e pedia comida nas ruas”, conta.

Ainda na infância, trabalhou em troca de comida e moradia. Era empregada doméstica e, entre uma folga e outra, observava sua patroa cozinhando e prestava atenção em como ela temperava a comida. Além de aprender como se preparava um acarajé, nascia também o gosto por cozinhar.

Aos 21 anos, Josi decidiu que iria para São Paulo realizar o sonho de viver do acarajé. O início não foi fácil: chegou com apenas R$ 23 no bolso. Morou em albergue e pensões e chegou a ouvir do dono de uma delas: “Volta pra Bahia!”.

Enfrentou assédio sexual e humilhações, mas resistiu em permanecer na cidade. Com menos de um mês na terra da garoa, conseguiu dois trabalhos. Um de panfletagem e outro num restaurante, que, juntos, rendiam R$ 250. Assim, se mantinha e ajudava seus dois filhos, que ficaram na Bahia. Semianalfabeta, Josi contava com a boa vontade alheia para conseguir sobreviver na cidade. Após se matricular em uma escola, um professor a ajudou na criação de um currículo, que a fez conseguir um emprego melhor. Com o primeiro salário, comprou o tacho, a colher de pau e alguns ingredientes para começar. Depois de quatro meses, conseguiu montar sua barraca de acarajé no Museu do Ipiranga.

Ela se dividia entre vários trabalhos: durante a semana, em uma tecelagem e em um bar; o acarajé era feito aos finais de semana.

A restrição para a venda de alimentos na rua a expulsou do Ipiranga e Josi, então, seguiu para Heliópolis. Lá conseguiu alugar uma casa, mas a restrição para ambulantes chegou à comunidade e Josi passou a cozinhar num restaurante local, vendendo o acarajé em quermesses.

A comida ficava cada vez mais conhecida na quebrada e, com o sucesso do tempero e a força de amigos, ela alugou um espaço para montar o Pedacinho da Bahia.

Hoje, Josi produz aos finais de semana cerca de 60 acarajés tradicionais e no prato, além dos caldos, lanches, pastéis e sua também famosa feijoada. Você pode chegar, pedir e partir ou, se preferir, pode aproveitar para sentar, comer e observar o fluxo da quebrada.

Josi tem o dom do tempero que agrada das donas de casa à galera do funk – não é a toa que, aos finais de semana, o Pedacinho da Bahia fica a noite inteira aberto.

Dona Fran

Sabe aquela cheirosa e saborosa comida de vó? Preparada com bastante alho picadinho, temperos naturais, nenhum condimento industrializado e todo amor e carinho? Em Paraisópolis tem. E a boa notícia é que Dona Fran, a cozinheira, resolveu abrir as portas da sua casa para cozinhar para a comunidade.

Francisca Macedo dos Santos, 46 anos, é maranhense. Trabalhou durante muitos anos como empregada doméstica, e, nesse meio tempo, sempre esteve em contato com a cozinha. Seu desejo era que as pessoas experimentassem sua comida. Quando deixou o trabalho doméstico, chegou a ser camelô e a vender açaí, mas os negócios não deram certo. Dois amigos, encantados com seu tempero, a desafiaram a abrir um restaurante – assim surgia, no ano de 2010, o Restaurante da Dona Fran.

Todos os dias ela levanta às 7h para começar a preparar o almoço. O trabalho, no entanto, começa bem antes: as carnes ficam descansando no tempero de um dia para o outro. Não há muita variação no cardápio. A base sempre é composta por arroz, feijão, salada, macarrão e farofa de bacon. O que varia são os tipos de carne, sempre três à escolha do cliente. Frango à milanesa, coxa de frango assada, costela e feijoada são algumas das opções. Com R$ 27, duas pessoas comem muito bem.

O restaurante, em si, não é exatamente um restaurante. É a sala da casa da Dona Fran. Os clientes compartilham as mesas e podem ver Fran em ação, já que a cozinha fica logo ao lado. O local fica aberto para o almoço, mas o horário é flexível: ela conta que, em alguns dias, clientes aparecem para comer às 5h da tarde.

Apenas Dona Fran e sua sobrinha cozinham. Elas cuidam do almoço, servido de segunda a sábado, e também das encomendas. A comida da cozinheira já circula por toda Paraisópolis em entregas a pé, e sua fama já ultrapassou os limites da quebrada. Dona Fran conta que já recebeu pedidos no Portal do Morumbi, mas não pôde atendê-los por conta da distância.

Agora, o que ela quer é comprar uma moto para agilizar suas entregas e continuar colocando em prática o que sempre desejou: fazer com que mais pessoas possam experimentar o seu tempero de vó.

Publicado em agosto/2018. Estamos trabalhando para atualizar as informações do local 🙂

Espetinho Heliópolis

Alagoano, Leandro Santos saiu do Nordeste em 1998, aos 18 anos, com o desejo de vencer na vida. Chegou em São Paulo sem dinheiro, mas com vontade de trabalhar. “Quando a gente sai do Nordeste, sai para vencer e ganhar dinheiro… ser empresário”, conta. Mas o início não foi fácil.

Leandro trabalhou em diferentes restaurantes da cidade. Houve dias em que não tinha dinheiro para pagar uma passagem de ônibus e já precisou caminhar 10 km para chegar ao trabalho. Passou por dificuldades até para provar sua honestidade, quando foi acusado de roubo por uma cliente.

Mas todos os problemas que enfrentou não foram capazes de impedi-lo de caminhar com as próprias pernas.

No último restaurante em que trabalhou, antes de se tornar um empreendedor, Leandro encontrou um antigo amigo do interior de Alagoas, Cícero Costa, 40, hoje seu sócio. Juntos adquiriram experiência para que pudessem alçar voo. E, assim, aos 25 anos, ele sabia que estava pronto para gerir o próprio negócio.

Muitos desacreditaram por ser uma aposta na periferia, mas em um intervalo de quatro anos ele precisou mudar para um espaço maior. E foi no novo restaurante que aplicaram o padrão de qualidade que tanto prezavam.

“Para você ser empreendedor, não é só ter dinheiro, tem que saber trabalhar”, diz Leandro, que está atento a todos os aspectos envolvendo o Espetinho Heliópolis, desde a limpeza dos banheiros à qualidade do produto final. A ideia dele é levar para a periferia o padrão de qualidade dos restaurantes do Centro – e tem dado certo.

O bar-restaurante oferece 16 opções de espetinhos entre tradicionais e especiais: salmão, carne de sol, chuleta gaúcha, picanha e três tipos de costelas (todos com acompanhamento). Também há oito opções de pratos rápidos que servem de uma a três pessoas, caldos, saladas, porções, petiscos, guarnições e sobremesas. Para beber, cervejas 600 ml (R$ 9) ou long neck, sucos, refrigerantes e outros drinques.

“Nós temos o essencial para o cliente vir, gostar e voltar”, diz Leandro com orgulho.

Acarajé da Baiana

Quem passa pela movimentada avenida Carlos Lacerda, no Jardim Rosana, divisa com Capão Redondo, não imagina que, em meio à lojas e mais lojas, exista uma baiana vendendo acarajé. Uma dica é ficar atento ao aroma caracterísco, já que a baiana não está caracterizada como de costume, com roupas brancas, guias e turbante. Mas é impossível não saber quando Dona Meire frita os bolinhos feitos de feijão selecionado no seu original tacho de alumínio. “Até mesmo quem não gosta, vem experimentar e volta”, conta a baiana que mora e vende acarajé há 20 anos em São Paulo, sempre na mesma calçada.

Foi por causa da religião que Dona Meire escolheu não se caracterizar para trabalhar. E sua escolha acabou aproximando o público evangélico, além do baiano. Ela já perdeu as contas de quantas vezes o lugar proporcionou o reencontro de familiares e amigos que vieram da Bahia. Tem vezes que a conversa fica tão boa que falta lugar pra sentar e espaço em volta do fogueiro da Dona Meire. Mas não que isso seja um problema: a barraca oferece marmitas para os clientes, dando conforto para quem quiser levar o acarajé para casa.

Foi com 20 anos de idade que Meire começou no ramo do acarajé, ainda em Itabuna, sua cidade natal, no sul da Bahia. Começou por necessidade e sobrevivência. Sua vinda para São Paulo foi causada pelo desemprego do marido, José Cássio – e, desde então, o casal segue servindo acarajé na cidade.

As quatro filhas e o filho mais novo decidiram seguir outras carreiras. O principal vínculo familiar que ela tem em seu espaço de trabalho é com o marido e o neto, que ajuda o casal. Para a avó, essa é a forma de Wesley Jonas entrar no mercado de trabalho. E para o neto, a barraca é uma forma de perder a timidez e fazer amigos.

Quando o assunto é concorrência, a baiana se diz tranquila. Disse que já trabalhou ao lado de várias baianas e nunca houve brigas por vendas. Porém, o marido afirma que existe uma diferença no mercado baiano e paulistano: “Na Bahia é mais união e amor, aqui é mais rivalidade e negócio”.

Meire diz que há muitos boatos no mercado do acarajé e que muitos começam a vender objetivando o lucro. Mas garante que com ela é diferente: foi por “precisão” e amor. Ela afirma que se não tiver essa combinação, o comércio não vai pra frente. E ela sabe sobre o que está falando. “Quem faz acarajé há muito tempo carrega isso como um dom”, diz a baiana que faz acarajé há 36 anos (a mesma idade da minha mãe!).

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Açaí Conquista

Quase todo mundo sabe o que é um bom açaí: batido, cremoso, servido com frutas e granola. À primeira vista, o açaí servido no Açaí Conquista, em Diadema, não difere muito dos outros. Mas um paladar mais atento consegue perceber que, em cada copo, há também o sabor de todo o Sudeste.

É que a massa feita com a frutinha amazonense leva também frutas frescas compradas em diferentes estados da região. A dona do local, Angélica, é casada com um caminhoneiro. Por suas andanças, ele tem contato com diferentes culturas regionais: músicas, danças, artes, lazer, comidas locais e… frutas.

A Grande São Paulo (região metropolitana com mais de 39 municípios vizinhos da capital paulista) possui uma população de cerca de 21 milhões de habitantes. Em contrapartida, existem somente 17 sacolões municipais, o que reduz o acesso ao alimento fresco, principalmente nas regiões periféricas. E vem daí o diferencial do Açaí Conquista: em meio à pouca distribuição de frutas e outros gêneros in natura nos grandes centros urbanos, você tem a oportunidade de experimentar frutas frescas de todo o Sudeste dentro de um copinho.

Prove o morango de Minas, as bananas do Rio, ou o abacaxi plantado em São Paulo, além da massa do açaí, claro. Em cada copo há o sabor das frutas de toda a região.

A massa do açaí é feita de maneira artesanal por amigos de Angélica. A fabricação em pequena escala faz com que o Açaí Conquista seja diferente dos servidos na região. Seu gosto é acentuado e não há aquele sabor artificial típico dos açaís industrializados.

O preço varia entre R$ 5 (300 ml) a R$ 20 (1,5 l) – você mesmo monta o seu açaí e decide o quanto do Sudeste quer provar.

O estabelecimento foi inaugurado em novembro de 2016 e está cada vez mais conquistando a população do bairro. Toda semana são vendidos cerca de 100 copos de açaí. A ideia de Angélica, que surgiu como tentativa de se livrar do desemprego, foi além: tornou-se também uma tentativa de levar algo novo para o bairro, que é a mistura do seu açaí com o amor pelo o que faz.

E se você também é amante dessa frutinha maravilhosa, ou dessas misturas de frutas e grãos combinados à massa, talvez o Açaí Conquista te conquiste como me conquistou.

Mil Sabores

Avenida Almeida Leme, pedaço de asfalto que dá acesso à Vila São Pedro e ao Montanhão, duas periferias da cidade de São Bernardo do Campo. Essa mesma via, que durante a manhã é comum, à noite vira o maior centro alimentício da região. Em meio à barracas de milho, salgados, pichorras e hot dogs, você encontra o Mil Sabores: o único lugar do local que prepara yakisobas.

O Mil Sabores nem sempre foi esse restaurante decorado. Camila Pereira, a dona do estabelecimento, começou a vender essas maravilhas numa barraca simples e pequena na mesma região, onde conquistou o apetite de seus clientes.

Camila, que era vendedora de roupas, tinha a pretensão de não passar a vida inteira trampando para os outros e queria deixar algo para seus filhos. Juntou suas economias e começou vendendo tapioca.

A receita de tapioca? Aprendeu cedo com a mãe, que transmitiu a ela o segredo nordestino da massa. Mas Camila era astuta: logo que conquistou o espaço, quis inovar e aprimorou as receitas de yakisoba, deixando o prato do seu jeito. A ideia do yakisoba surgiu da sua prima que, além de gostar do prato, reclamava da falta que fazia um lugar que preparesse e vendesse um bom yakisoba por ali.

Hoje, o restaurante faz jus ao nome. Vendendo tapiocas, lanches, bebidas e o famoso yakisoba, comporta “mil sabores” em seu cardápio. O prato custa R$ 12, mas a nutrição sentimental vai muito além do valor cobrado pela refeição.

Além de um ótimo restaurante, ainda há a preocupação com o social: Camila compra todos os seus ingredientes dentro do próprio bairro, desde as carnes na avícola da Vila São Pedro, até os legumes, nas feiras de agricultura que ocorrem por lá.

“Comprando meus ingredientes aqui dentro, ajudo os produtores da região e faço o dinheiro girar por aqui. Afinal, queremos ver o bairro crescer”, diz.

Talvez esse seja o maior motivo do sucesso desse yakisoba: legumes macios e bem-cozidos, somado ao macarrão frito no molho shoyu, mais as carnes mescladas à maionese – com cada ingrediente vindo de dentro da própria quebrada. Saborear esse prato provoca o que os gregos chamavam de catarse.

Assim, o Mil Sabores conquistou uma vasta clientela, desde point pré-rolê com os amigos até jantar com a família. Montanhão e Vila São Pedro sempre escolhem saborear o famoso yakisoba da Camila.

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