Casa Do Norte Dona Acarajé

Apesar do nome, o restaurante Dona Acarajé reúne diversos pratos e bebidas baianas no Jaçanã desde 2017. “Corria na veia a vontade de fazer o que eu conheço que é também o que eu aprendi a comer: a culinária baiana”, conta a proprietária, Tereza Cristina, de 38 anos, moradora do Edu Chaves.

Nascida na Bahia, Tereza veio para São Paulo com 16 anos em busca de uma condição de vida melhor. A trajetória na cozinha começou aos 19 anos, em Campos de Jordão. Hoje, seu restaurante é abrigo para aqueles que sentem falta dos ingredientes nordestinos no dia a dia. “Espero cada vez mais acolher esse grupo de pessoas e famílias que possuem uma identidade cultural em comum”, diz ela.

Para os frequentadores, a nostalgia está presente em cada garfada. A refeição feita ali possibilita que nordestinos e nordestinas de diferentes origens revisitem suas terras natais. “O Nordeste é uma terra muito rica e bonita, mas as pessoas ainda têm muito preconceito com esse território brasileiro”, reflete Isabel Marques, 51 anos, nascida em Crato, no Ceará. Hoje, ela mora na Vila Mazzei.

O Baião de Dois do Dona Acarajé é um dos seus preferidos. “Com certeza esse é um dos pratos mais saborosos e um dos mais pedidos no Nordeste”, conta. Dependendo da fome, ele serve de uma a duas pessoas (R$ 34).

É feito com arroz branco, feijão-decorda, pimentão, carne-seca desfiada, bacon defumado, cheiro-verde, queijo coalho, ovo frito, costelinha suína e manteiga de garrafa.

A variedade de sucos naturais com frutas típicas da região é outro atrativo. É possível escolher entre os sucos de cajá, cupuaçu, graviola, acerola, capim-santo com limão, goiaba, laranja e limonada suíça, todos por R$ 8. De quebra, o restaurante oferece caipirinhas e batidas nos mesmos sabores. A batida Trem do Jaçanã é preparada com sucos de caju, limão, vodca ou cachaça e gelo (R$ 18).

A decoração dos espaços também tem muitas características do Nordeste. Em algumas paredes estão penduradas fitas do Senhor do Bonfim, amuleto típico de Salvador, capital da Bahia. Também é possível admirar os potes de diferentes tamanhos e cores com pimentas em conserva.

No jantar, os pratos mais pedidos são as porções e caldos. Tem caldo de mocotó, mocofava, mandioca com carne-seca e caldo de peixe. Todos saem por R$ 16.

O Dona Acarajé abre durante a semana das 12h às 20h. Durante os fins de semana, das 12h às 23h30. É um restaurante de fácil acesso, de frente para o ponto de ônibus da rua Benjamin Pereira, na altura do número 804.

Publicado em novembro/2019. Estamos trabalhando para atualizar as informações do local 🙂

Bueno Bar

Quem se aproxima da esquina da avenida Antenor Navarro com a avenida Edu Chaves à tarde ou à noite, logo percebe a muvuca. É comum encontrar pessoas rindo, trocando ideias e compartilhando histórias na calçada do Bueno Bar, embaixo das quatro palmeiras que rodeiam o lugar. Com duas entradas – uma para cada avenida – o acesso ao balcão do bar fica mais fácil. É um ótimo ponto de encontro para se comer e beber ao ar livre. 

O cardápio oferece 12 opções diversas de porções para quem quer compartilhar a comida e continuar conversando sem muita formalidade. Entre elas, estão as clássicas porções de torresmo, de contrafilé com mandioca e de salame. Para quem procura refeições de maior sustância, no cardápio também tem caldinho de mocotó, pratos feitos tradicionais (com opções de mistura para acrescentar) e os pratos especiais, como o baião de dois e a mocofava, um tipo de caldo de mocotó com favas (uma espécie de leguminosa, como o feijão). Os preços estão entre R$ 15 e R$ 50.

O baião chega à mesa quentinho e bastante perfumado. Ele é temperado com alho, sal, bacon, cebola, pimentão e manteiga de garrafa. Em cima de tudo, pimentas-biquinho. O resultado conquista a clientela. Na hora do almoço, o prato mais pedido é o baião tradicional (R$ 30), que também pode ser acompanhado de favas (R$ 32). 

“Costumo vir aqui com a minha filha de 12 anos. Sempre pedimos esse baião porque, além de ser gostoso, com um tempero incrível, alimenta até três pessoas. Fica uma refeição barata. Gostamos de sair para comer, isso nos tira um pouco da rotina de só almoçar em casa”, fala Silmara Monteiro, 41 anos, moradora do Parque Edu Chaves.

Empório Padre Cícero

O Empório Padre Cícero, restaurante de comida nordestina sertaneja no centro de Jandira, região metropolitana de São Paulo, é a sede de uma cozinha que reúne sabores e famílias. O lugar preserva a memória da cidade por ser uma das primeiras opções de lazer jandirense e por permanecer há 38 anos no mesmo local.

“Faz pouco mais de vinte anos que me mudei pra cá. Sou de Santa Catarina e vim com meus filhos pequenos. Agora eles moram em Campinas, e nos últimos anos temos nos reunido aqui. Mesmo quando meus irmãos vêm me visitar, a gente se reúne no Empório. Não tem gaúcho na minha família que resista”, conta Ivete Corrêa, de 67 anos, cliente fiel do restaurante que, apesar de amar um bom churrasco, não abre mão de se reunir no Empório Padre Cícero para aproveitar uma boa comida do Nordeste.

Para Ivete, o destaque do cardápio é o escondidinho de carne-seca com uma camada de queijo derretido seguida por outra deliciosa de purê cremoso de mandioca com manteiga de garrafa. Por cima, a receita da casa traz conserva de pimenta-biquinho (uma das várias oferecidas) que, além de dar um aroma inconfundível ao prato, não arde a boca. 

A suculência e o vermelho intenso da pimenta-biquinho abrem o paladar para as próximas garfadas. O arroz soltinho, a couve frita na manteiga e o feijão de caldo grosso e bem-temperado não poderiam ser acompanhamentos melhores. Qualquer prato da casa no tamanho pequeno serve até duas pessoas, e os preços variam entre R$ 20 e R$ 40.

O estabelecimento possui ainda um empório onde o cliente pode comprar alguns produtos nordestinos, como rapadura, manteiga de garrafa e doces em conserva. 

“É no fim de semana que aqui fica bom, com música ao vivo. O pessoal se anima e se diverte. Dá para trazer neto, filho, sobrinho. É pequeno, mas sempre tem espaço para mais um”, comenta Ivete sobre os dias mais movimentados, quando o restaurante contrata artistas sertanejos locais para tocar.

Restaurante e Lanchonete Amizade

Atualização em junho/2020: Este lugar está fechado temporariamente devido à pandemia de COVID-19.

O Restaurante e Lanchonete Amizade é um espaço destinado aos amantes de feijoada e samba. O local, próximo ao Rio Pequeno, na Zona Oeste da cidade, tem decoração que remete à cultura do agreste. Como prato principal, todos os sábados, serve a versão nordestina da feijoada.

Para acompanhar, há sempre uma roda de samba ao vivo, composta por cinco músicos que variam entre o samba-canção, com ritmos lentos e letras românticas, e o pagode moderno, com uma agitada percussão.

Cristina Augusto, 52 anos, dona do lugar, afirma que a ideia de abrir o negócio vem da vontade de unir as famílias da comunidade, de oferecer um espaço a onde as pessoas possam ir e ouvir boa música, juntas. “Cada vez menos você encontra lugares para sair para comer, se sentar ou levar as crianças. Por isso, junto com meu irmão e com a ideia de manter a tradição de feijoada com roda de samba que acontecia aos sábados na nossa casa, criamos o restaurante. A feijoada é uma receita caseira de família e por isso se torna única. Tem esse nome para ser um lugar de fazer e aprofundar amizades”, diz.

A famosa Feijoada da Amizade tem diversos cortes de carne, costelinha e pé servidos com um suculento feijão-preto e acompanhados de toucinho, arroz e couve. Dá para até três pessoas e sai por R$ 37.

Patrícia Alves, 28 anos, mora em Taipas, Zona Noroeste da cidade, e se desloca todos os sábados com seu companheiro para comer o prato, o que para ela é uma viagem no tempo até a comida de sua avó e às origens de sua família pernambucana. “A comida aqui é bem temperadinha e caseira, mas a feijoada é de longe o melhor prato da casa e a melhor que já comi. O ambiente é bem acolhedor”, conta.

“Você vem aqui uma vez e gosta da comida e das pessoas; na segunda, já se sente em casa. Eu sempre procuro trazer meus filhos, pois é um espaço onde sinto que eles querem estar comigo e fico perto deles”, afirma Walter Ferreira, quarenta anos.

Durante os outros dias da semana, os clientes podem escolher a música que querem ouvir em um jukebox – uma máquina de música em estilo antigo –, que pisca luzes coloridas e toca desde um pagodinho até um rock mais pesado. O restaurante também agrada jovens e fãs de fast food, com lanches e porções de batatas e mandiocas fritas.

Agência Solano Trindade

Atualização em junho/2020: Este lugar está fechado temporariamente devido à pandemia de COVID-19.

Funciona na Agência Solano Trindade o primeiro armazém de alimentos orgânicos da quebrada de São Paulo. Foi criado em 2017 pela própria galera da Agência, a partir do entendimento da existência de desertos alimentares na cidade, que faz com que as pessoas andem muito para encontrar produtos in natura.

No espaço é realizada a Feira Organicamente, às quintas e sextas-feiras, das 8h às 17h, e aos sábados, das 8h às 12h (acompanhe as redes sociais para a confirmação da feira na semana). É possível saber a origem do que você irá comer pela proximidade com quem cultiva. Os alimentos orgânicos são fornecidos por produtores locais de São Lourenço, Parelheiros e Embu das Artes. Há como reservar uma cesta de alimentos que pode ser entregue por toda a Zona Sul. Tudo fresco. 

Na maior parte dos eventos que acontecem na Agência, quem prepara a comida é Cleonice Maria de Paula, 55, a tia Nice. O destaque é o Pastel de PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais). Entre outras opções, tem o pastel de capuchinha com alho-poró, de berinjela e de coração da banana com almeirão. Os valores variam entre R$ 5 e R$ 8. Vera Lucia Pires, 69, aposentada, mora na mesma rua da Agência Solano Trindade. “Comi um pastel PANC (nunca havia experimentado) e gostei. Em outra ocasião, comi um ravióli – se não me engano de ricota com espinafre, ao molho sugo – divino”, conta.

Além do pastel, tia Nice prepara refeições como o nhoque de mandioca artesanal, que fica entre R$ 20 e R$ 30. Tudo é feito com alimentos sem veneno, de produtores locais ou da própria horta da Agência.

Quem quiser provar a comida da tia Nice pode colar na Agência Solano Trindade, na Vila Pirajussara, ou entrar em contato por meio das redes. A casa fica próxima do Terminal Campo Limpo: basta atravessar a rua do terminal, passar pela praça que dá acesso à rua Batista Crespo e ir até o número 105. 

É uma ótima opção para quem escolhe uma alimentação mais saudável para a família toda. “Enquanto em muitos lugares determinados agrotóxicos são proibidos, aqui no Brasil é tudo liberado. Então, a gente de fato não sabe o que está ingerindo”, reflete Roseli Ezzy, 42 anos, professora de inglês e moradora do Jardim Umarizal. “E eu tenho filho pequeno. Acho que para uma criança em desenvolvimento é ainda pior consumir essa quantidade grande de veneno. Quando você começa a consumir o produto orgânico, você consegue sentir a diferença no sabor”, conta ela. 

“Você vai para os polos mais centrais da gastronomia e é caríssimo ter acesso a uma capuchinha, ora-pro-nóbis, a um peixinho”, conta Alex Barcelos, 39 anos, articulador e produtor cultural da Agência Solano Trindade, ao se referir às PANCs. “Essa riqueza temos aqui. A tia Nice, minha mãe e outras mulheres periféricas têm esse resgate do histórico da cultura alimentar. São coisas que eram tradicionais dentro da periferia. Antigamente, as nossas senhoras, nossas griots, sempre tiveram taioba e outras plantinhas no seu quintal”, explica.

Ceará Porções

Ao sair do terminal João Dias, não é difícil encontrar a rua do Ceará Porções. Agora, achar o bar já são outros quinhentos. A rua é uma ladeira e a cada passo tem um bar (é sério!). Contei oito bares ao longo da subida e, ao olhar dentro de cada um, minha expectativa aumentava junto com os meus passos. Enquanto o pensamento já estava na comida que iria saborear, olhava o ambiente ao redor e o pessoal dentro dos outros bares. Mas e o Ceará? Pedi informações para moradores e eles: “logo ali…”, “a tenda azul…” e, no fim da rua, encontrei. Com garrafas de pinga de decoração, o cheirinho do tempero do Nordeste, música típica e o que a gente sempre vê em bares de bairro: pessoal na mesa tomando uma e jogando conversa fora.

De Orós para a cidade grande, José Ferreira Júnior, mais conhecido como Ceará, veio para São Paulo em 1993 em busca de uma vida melhor. A história dele é a mesma de outros 1,5 milhão de nordestinos que vieram para São Paulo na década de 1990. É um costume bem paulistano chamar a pessoa pelo nome de seu estado de origem. Mas Júnior, nosso Ceará, não deixa de mostrar sua singularidade.

Ele mora na mesma rua desde que chegou. E foi lá que abriu seu estabelecimento em 2012. Em sua cidade natal, trabalhava na terra e sonhava em vir para a capital paulistana para trabalhar com comida. Durante 20 anos, ele e a esposa Marineide, que aprendeu a cozinhar com a mãe desde pequena, trabalharam em diferentes restaurantes até abrirem o seu próprio negócio.

“Vou abrir pra fechar”, pensava Ceará, sem fé. Acreditava que não aguentaria nem seis meses no local. Começaram com uma loja de salgados.

Hoje, depois de alguns anos, oferecem um amplo cardápio de comida nordestina com direito a galinha caipira, carne seca com mandioca e baião de dois todos os dias, além de mais de 30 opções de porção. O bar é tão conhecido na região que, mesmo sem fazer entregas, os clientes encomendam e fazem questão de buscar seus famosos pratos. Seu carro-chefe é o peixe: a tilápia frita e empanada servida com baião de dois. “Se faltar peixe eu nem posso abrir”, brinca Ceará. O tempero de Marineide é famoso, mesmo sem muito segredo: cebola, alho, coentro e cheiro-verde.

O casal faz o máximo para todos saírem dali satisfeitos. Não só em relação à comida, mas também aos serviços. “Fiz o bar que gostaria que fosse copiado”, relembra Ceará. Ele montou um lugar aconchegante onde não fez só clientes fiéis, mas também amigos. Quando fecha seu bar, vai em outro na mesma rua para beber com eles. Os clientes são reunidos em um grupo no WhatsApp, onde recebem cardápio, preço e horário de funcionamento
para ninguém ficar desapontado. “Agente tá aí, na luta”, define Ceará.

Chubiba Bar

Quem passa pela avenida Hebe Camargo, principal via de Paraisópolis, logo repara nas pessoas circulando em suas calçadas, que fazem da avenida um verdadeiro local de lazer e ponto de encontro. Um dos principais points da região para saborear deliciosas refeições é o Chubiba Bar, bar e cozinha que tem trazido o sabor nordestino à comunidade. Luiz Pereira, 45 anos, e Evandro Bezerra, 38, são sócios desde 2016. Juntos, decidiram abrir um bar e servir comida nordestina.

Luiz é cearense, trabalhava como porteiro, mas como sempre gostou de cozinhar, assumiu a parte de fazer os pratos que seus clientes adoram. Evandro, pernambucano, passou a vida toda trabalhando de garçom, outras vezes de ajudante cozinha; como não poderia deixar de ser, ele é o responsável por atender e servir os clientes. Uma das refeições mais pedidas é a tilápia frita inteira, acompanhada de salada e baião de dois, que custa apenas R$ 30. Também há sarapatel por R$ 15 além de outras opções como a galinha caipira temperada com sabor baiano, marinada no vinho. Seu principal segredo é deixar a galinha descansando nos temperos de um dia para o outro ainda congelada e, para ficar mais saborosa e com o sabor da roça, é servida acompanhada de pirão.

Atualmente, Luiz também trabalha como jardineiro na parte da manhã, pois o atendimento no Chubiba Bar só começa, de segunda a sexta, às 17h e, nos finais de semana, com a rotina mais  pesada, inicia às 10h. As entregas são feitas somente aos sábados e domingos, no bairro de Paraisópolis e arredores.

Ele conta que, em um dia, vende em média 60 peixes e que, de vez em quando, surgem surpresas, como uma família com cerca de 30 pessoas que, após um batizado, foi comemorar lá por saber da comida deliciosa. Sem aviso prévio, ele teve que se virar para atender as 30 pessoas e mais as entregas que não paravam. O local da alimentação é ao ar livre, com mesas e cadeiras em frente ao estabelecimento. A cozinha é aberta para que todos os clientes vejam como a comida é preparada. O perfil dos fregueses é, em sua maioria, de famílias que se reúnem a fim de comer uma boa refeição. Amigos também se encontram depois do trampo para beber uma breja, jogar papo fora e, claro, aproveitar as refeições e porções generosas.

Luiz e Evandro gostam do que fazem. E fazem com o aprendizado que ganharam na época em que viveram no Ceará e em Pernambuco, estados que têm em comum o sabor da típica comida nordestina.

Pedacinho da Bahia

Um sonho trouxe Josi, a rainha do acarajé de Heliópolis, direto da Bahia para São Paulo. Batizada como Joanice Leandro dos Reis, teve uma vida repleta de dissabores. Por diversos problemas, quando criança a baiana teve que sair de casa. “Dormia nas varandas alheias e pedia comida nas ruas”, conta.

Ainda na infância, trabalhou em troca de comida e moradia. Era empregada doméstica e, entre uma folga e outra, observava sua patroa cozinhando e prestava atenção em como ela temperava a comida. Além de aprender como se preparava um acarajé, nascia também o gosto por cozinhar.

Aos 21 anos, Josi decidiu que iria para São Paulo realizar o sonho de viver do acarajé. O início não foi fácil: chegou com apenas R$ 23 no bolso. Morou em albergue e pensões e chegou a ouvir do dono de uma delas: “Volta pra Bahia!”.

Enfrentou assédio sexual e humilhações, mas resistiu em permanecer na cidade. Com menos de um mês na terra da garoa, conseguiu dois trabalhos. Um de panfletagem e outro num restaurante, que, juntos, rendiam R$ 250. Assim, se mantinha e ajudava seus dois filhos, que ficaram na Bahia. Semianalfabeta, Josi contava com a boa vontade alheia para conseguir sobreviver na cidade. Após se matricular em uma escola, um professor a ajudou na criação de um currículo, que a fez conseguir um emprego melhor. Com o primeiro salário, comprou o tacho, a colher de pau e alguns ingredientes para começar. Depois de quatro meses, conseguiu montar sua barraca de acarajé no Museu do Ipiranga.

Ela se dividia entre vários trabalhos: durante a semana, em uma tecelagem e em um bar; o acarajé era feito aos finais de semana.

A restrição para a venda de alimentos na rua a expulsou do Ipiranga e Josi, então, seguiu para Heliópolis. Lá conseguiu alugar uma casa, mas a restrição para ambulantes chegou à comunidade e Josi passou a cozinhar num restaurante local, vendendo o acarajé em quermesses.

A comida ficava cada vez mais conhecida na quebrada e, com o sucesso do tempero e a força de amigos, ela alugou um espaço para montar o Pedacinho da Bahia.

Hoje, Josi produz aos finais de semana cerca de 60 acarajés tradicionais e no prato, além dos caldos, lanches, pastéis e sua também famosa feijoada. Você pode chegar, pedir e partir ou, se preferir, pode aproveitar para sentar, comer e observar o fluxo da quebrada.

Josi tem o dom do tempero que agrada das donas de casa à galera do funk – não é a toa que, aos finais de semana, o Pedacinho da Bahia fica a noite inteira aberto.

Acarajé da Baiana

Quem passa pela movimentada avenida Carlos Lacerda, no Jardim Rosana, divisa com Capão Redondo, não imagina que, em meio à lojas e mais lojas, exista uma baiana vendendo acarajé. Uma dica é ficar atento ao aroma caracterísco, já que a baiana não está caracterizada como de costume, com roupas brancas, guias e turbante. Mas é impossível não saber quando Dona Meire frita os bolinhos feitos de feijão selecionado no seu original tacho de alumínio. “Até mesmo quem não gosta, vem experimentar e volta”, conta a baiana que mora e vende acarajé há 20 anos em São Paulo, sempre na mesma calçada.

Foi por causa da religião que Dona Meire escolheu não se caracterizar para trabalhar. E sua escolha acabou aproximando o público evangélico, além do baiano. Ela já perdeu as contas de quantas vezes o lugar proporcionou o reencontro de familiares e amigos que vieram da Bahia. Tem vezes que a conversa fica tão boa que falta lugar pra sentar e espaço em volta do fogueiro da Dona Meire. Mas não que isso seja um problema: a barraca oferece marmitas para os clientes, dando conforto para quem quiser levar o acarajé para casa.

Foi com 20 anos de idade que Meire começou no ramo do acarajé, ainda em Itabuna, sua cidade natal, no sul da Bahia. Começou por necessidade e sobrevivência. Sua vinda para São Paulo foi causada pelo desemprego do marido, José Cássio – e, desde então, o casal segue servindo acarajé na cidade.

As quatro filhas e o filho mais novo decidiram seguir outras carreiras. O principal vínculo familiar que ela tem em seu espaço de trabalho é com o marido e o neto, que ajuda o casal. Para a avó, essa é a forma de Wesley Jonas entrar no mercado de trabalho. E para o neto, a barraca é uma forma de perder a timidez e fazer amigos.

Quando o assunto é concorrência, a baiana se diz tranquila. Disse que já trabalhou ao lado de várias baianas e nunca houve brigas por vendas. Porém, o marido afirma que existe uma diferença no mercado baiano e paulistano: “Na Bahia é mais união e amor, aqui é mais rivalidade e negócio”.

Meire diz que há muitos boatos no mercado do acarajé e que muitos começam a vender objetivando o lucro. Mas garante que com ela é diferente: foi por “precisão” e amor. Ela afirma que se não tiver essa combinação, o comércio não vai pra frente. E ela sabe sobre o que está falando. “Quem faz acarajé há muito tempo carrega isso como um dom”, diz a baiana que faz acarajé há 36 anos (a mesma idade da minha mãe!).

Publicado em agosto/2018. Estamos trabalhando para atualizar as informações do local 🙂

Cantina Teimosa

O nome Cantina Teimosa surgiu, segundo o dono, por conta da persistência que foi necessária para que o lugar existisse. Nascido no Piauí, Antenor vive em São Paulo há mais de 30 anos. Veio a trabalho. Ao sair do emprego em uma fábrica de vidros em São Bernardo do Campo, decidiu que abriria uma banca de jornal. Porém, por insistência de um amigo, acabou abrindo um restaurante de comida nordestina caseira, localizado na entrada do Jardim Limpão, um bairro construído por trabalhadores vindos do Nordeste do país, que prestavam serviço nas fábricas dos municípios do ABC paulista.

O restaurante Cantina Teimosa, ou Teimosinha, como é conhecido, foi inaugurado em 2012 e já tem uma clientela bem fiel, atraindo moradores do centro de São Bernardo e de municípios vizinhos, como Mauá e Santo André.

Antenor conta que, ao vir para São Paulo, não imaginava abrir um comércio relacionado a comida, apesar de algum conhecimento na área. Em seus empregos anteriores, participava de palestras sobre alimentação e agregou esse saber à culinária oferecida no restaurante.

Pratos como frango à passarinho, feijão tropeiro, carne de panela e galinha caipira são os mais pedidos. A feijoada, que a mãe costumava fazer no Piauí, também está incluída no cardápio com muita variedade de sabores do nordeste e faz sucesso às quartas e sábados. Como todos os pratos, o modo de preparo da feijoada é artesanal: é feita com alho frito e picado na hora e preparada pela manhã, para tirar o excesso de sal do jabá e cozinhar bem todo feijão.

As carnes são escolhidas pela qualidade, ainda que sejam mais caras. A galinha caipira, por exemplo, é comprada em uma granja que Antenor conhece e, por isso, consegue verificar de perto a higiene do local.

Entre uma pergunta e outra, são várias as interrupções de clientes e conterrâneos que fazem questão de cumprimentar Seu Antenor e receber em troca um forte aperto de mão acompanhado de um sorriso largo. Simpatia, cheiro de comida de vó de dar água na boca, cadeiras e mesas de madeira e sossego compõem esse restaurante que celebra os sabores do Nordeste.

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