Oito horas da noite, eu e mais dois camaradas estávamos andando pela Brasilândia. Nas ruas escuras e num bairro em que não conhecíamos; o silêncio reinava e só era interrompido por algumas reclamações minhas do tipo “Onde que a gente tá?” ou “Acho que errei o caminho.” Após alguns minutos de caminhada, meu nariz percebe alguma coisa. É um cheiro de comida, mas eu nunca havia sentido aquilo. Todos se entreolham e seguiram correndo para onde o cheiro apontava. Estávamos, finalmente, no Mocofava do Cazuza.
O nome travalinguístico do lugar me deixou bastante curioso. Eu não fazia a mínima ideia do que diabos era uma mocofava e me senti totalmente atraído pelo título deste estabelecimento, que me proporcionaria uma nova experiência de rango. Poderia ser uma desgraça, poderia ser uma delícia, eu não sabia. Mas queria muito descobrir.
Ao entrar no restaurante, estávamos numa atmosfera sensorial de nordeste. O cheiros das carnes, o calor, o sotaque dos atendentes. A novidade era muita e acabamos meio confusos sobre o que fazer. Colocamos as bolsas nas mesas, trocamos ideias com os garçons, pedimos a tal da Mocofava. Acompanhada de pão, o prato é um mix de carneseca, fava (uma espécie de feijão nordestino), linguiça e caldo de mocotó; além de salsinha e cebolinha. A mistura, servida numa cumbuquinha, parecia uma sopinha a priori. Quando enfiei a colher no prato e senti a viscosidade do caldo, que envolvia todos os ingredientes, a leveza aparente do prato já tinha ido por água abaixo. Nesse mesmo momento, descobri quem comandava o cheiro que vinha lá de fora: cominho. A especiaria tomou, de súbito, o meu nariz e agora tudo fazia sentido.
Quando mergulhei de cabeça no mar sertanejo da mocofava do Cazuza, provei nas papilas gustativas uma deliciosa linguiça calabresa, alguns pedaços de carne-seca e também grandes favas (deliciosamente macias). Apesar disso, percebe-se que o ingrediente mais forte e mais vistoso do prato é o caldo de mocotó, que reúne todos os imersos e torna a combinação não somente possível, mas essencialmente nordestina e única.
Após eu devorar cada um dos ingredientes com fome e com a devida atenção, me surpreendi com a sensação de sustância que a iguaria me deu. Talvez pelo peso de seus ingredientes, o rango consegue sustentar qualquer um por um bom tempo. E o preço é justo: 12 mangos na mocofava pequena (a que comi) e 20 na mocofava grande, que dá pra rachar. A experiência gastronômica que tive no restaurante foi o meu primeiro contato com uma comida essencialmente nordestina. Os sabores que permeavam minha boca naquele restaurante me levaram direto daqui para o sertão do Brasil… Pra uma primeira vez, acho que valeu a pena se enrolar falando “Mocofava do Cazuza” e indo pra Cachoeirinha, no fundão da Zona Norte, pra experimentar as delícias que o restaurante nos serve.