Churreria Damac

Atualização em junho/2020: Este lugar está fechado temporariamente devido à pandemia de COVID-19.

Em 2009, Alice Araújo resolveu colocar na rua um carrinho de churros para complementar a renda de casa. Começou sem inventar muito, vendendo apenas churros doces pelas ruas de Guarulhos, mas conforme foi ganhando experiência passou a receber sugestões dos clientes que sempre pediam algo salgado. “Não podia ser qualquer salgado, aí eu incrementei o churros com queijo, orégano e tomate”, conta. Mas Alice não parou por aí: o cardápio salgado inclui sabores como pizza, camarão, três queijos e carne seca com cheddar.

A ousadia deu certo e, depois de dois anos perambulando entre pontos estratégicos do bairro Pimentas, um cliente a alertou sobre a possibilidade de alugar um box dentro do Supermercado Seta, um atacadão bem movimentado que estava sendo inaugurado na época e possibilitaria mais comodidade para a crescente clientela. Depois de superar as próprias expectativas com o carrinho de churros, descolar um endereço fixo e inovar o mercado lançando sabores salgados, Alice pensou em incrementar gostos e formatos dessa vez com os doces. E de suas mãos inventivas surgiram churros com frutas caramelizadas, mini-churros e o famigerado churros gelado, que despertou curiosidade em toda redação aqui da Énois e até da TV Câmara – que colou lá para se deliciar com a gente e deixar a Alice ainda mais famosa.

Mas que parada é essa de churros gelado? A gente explica: o churros gelado consiste em uma massa frita que depois de pronta é banhada em chocolate e por cima recebe a benção de um chantilly bem airado e leve que pode ser acompanhado de frutas como morangos, kiwí e outros – a depender do sabor escolhido. Além dessa doce fartura por fora, você pode optar por um dos recheios tradicionais: doce de leite ou chocolate. As possibilidades da casquinha dos churros gelados também oferecem escolha. “Tem da branca e tem da preta”, diz Daniel Sampaio, marido de nossa heroína, que deixou de ser sócio em um negócio mais ou menos para somar ao trampo da esposa.

Outra invenção curiosa de Alice foi o nome do estabelecimento: churreria. “Ao se deparar com uma loja especializada em churros como chamá-la?”, se perguntou. “Procuramos muito e não achamos nada, então, ficou churreria mesmo”, conta a dona do negócio que hoje ostenta mais de 300 sabores criativos de churros e compõem 100% o orçamento da família de Alice e Daniel, que chegam a vender 3.000 churros por mês. O carrinho deu lugar a um pequeno caminhão que leva os famigerados churros à festivais gourmets e outros eventos onde sempre conquista novos corações.

 

Mocofava do Cazuza

Oito horas da noite, eu e mais dois camaradas estávamos andando pela Brasilândia. Nas ruas escuras e num bairro em que não conhecíamos; o silêncio reinava e só era interrompido por algumas reclamações minhas do tipo “Onde que a gente tá?” ou “Acho que errei o caminho.” Após alguns minutos de caminhada, meu nariz percebe alguma coisa. É um cheiro de comida, mas eu nunca havia sentido aquilo. Todos se entreolham e seguiram correndo para onde o cheiro apontava. Estávamos, finalmente, no Mocofava do Cazuza.

O nome travalinguístico do lugar me deixou bastante curioso. Eu não fazia a mínima ideia do que diabos era uma mocofava e me senti totalmente atraído pelo título deste estabelecimento, que me proporcionaria uma nova experiência de rango. Poderia ser uma desgraça, poderia ser uma delícia, eu não sabia. Mas queria muito descobrir.

Ao entrar no restaurante, estávamos numa atmosfera sensorial de nordeste. O cheiros das carnes, o calor, o sotaque dos atendentes. A novidade era muita e acabamos meio confusos sobre o que fazer. Colocamos as bolsas nas mesas, trocamos ideias com os garçons, pedimos a tal da Mocofava. Acompanhada de pão, o prato é um mix de carneseca, fava (uma espécie de feijão nordestino), linguiça e caldo de mocotó; além de salsinha e cebolinha. A mistura, servida numa cumbuquinha, parecia uma sopinha a priori. Quando enfiei a colher no prato e senti a viscosidade do caldo, que envolvia todos os ingredientes, a leveza aparente do prato já tinha ido por água abaixo. Nesse mesmo momento, descobri quem comandava o cheiro que vinha lá de fora: cominho. A especiaria tomou, de súbito, o meu nariz e agora tudo fazia sentido.

Quando mergulhei de cabeça no mar sertanejo da mocofava do Cazuza, provei nas papilas gustativas uma deliciosa linguiça calabresa, alguns pedaços de carne-seca e também grandes favas (deliciosamente macias). Apesar disso, percebe-se que o ingrediente mais forte e mais vistoso do prato é o caldo de mocotó, que reúne todos os imersos e torna a combinação não somente possível, mas essencialmente nordestina e única.

Após eu devorar cada um dos ingredientes com fome e com a devida atenção, me surpreendi com a sensação de sustância que a iguaria me deu. Talvez pelo peso de seus ingredientes, o rango consegue sustentar qualquer um por um bom tempo. E o preço é justo: 12 mangos na mocofava pequena (a que comi) e 20 na mocofava grande, que dá pra rachar. A experiência gastronômica que tive no restaurante foi o meu primeiro contato com uma comida essencialmente nordestina. Os sabores que permeavam minha boca naquele restaurante me levaram direto daqui para o sertão do Brasil… Pra uma primeira vez, acho que valeu a pena se enrolar falando “Mocofava do Cazuza” e indo pra Cachoeirinha, no fundão da Zona Norte, pra experimentar as delícias que o restaurante nos serve.

Restaurante da Camila / Espaço da Onça

“O sonho era estar perto do meu filho”, conta Camila Feitosa, 48 anos, nascida e crescida no bairro do Campo Limpo, periferia de São Paulo. Seu filho Davi é uma pessoa com deficiência (PCD) intelectual. “Eu tive vários problemas na infância. Violência doméstica agressões, isso me fez sair de casa cedo’’, diz Camia. Depois de um casamento que não deu certo e já com o filho, ela trabalhou em um supermercado por 8 anos e depois foi faxineira doméstica. Ralando muito, percebeu que valia muito mais a pena ser autônoma e voltou a estudar, mas não conseguia estar perto do filho como gostaria.

A guerreira queria fazer algo diferente, que transformasse sua vida, mas a dúvida se conseguiria estabilidade fazia com que não arriscasse. Então, um amigo que tinha uma lanchonete malsucedida no bairro do Campo Limpo, soube do desejo de Camila de abrir um negócio e ofereceu a ela um trabalho na tal lanchonete, ganhando R$ 800 por mês. “Para mim não compensava, eu tirava muito mais fazendo faxina’’. No dia seguinte, em uma palestra de aperfeiçoamento da carreira profissional, refletiu sobre os conselhos da especialista Ana Raia: “Ela disse que a gente precisava acreditar nos nossos sonhos. Eu não tive dúvidas’’.

Camila é extremamente grata por aquela palestra até hoje. Ao sair da escola, foi conversar com o dono da lanchonete fazendo uma contra proposta: que cedesse o espaço pelo aluguel no valor dos mesmos R$ 800. O espaço era bem pequeno e ficou menor ainda para o número de clientes já do primeiro mês. Após o sucesso, vendeu sua casa no bairro Vila das Belezas e logo encontrou um lugar adequado. “Eu estava realizando o meu sonho, podia tocar o meu negócio perto do meu filho’’.

A casa é modesta. Na parte da antiga garagem, mesas e cadeiras. No corredor, o espaço do self-service, uma TV e uma mesa de vidro redonda. À direita, o banheiro, masculino e feminino, que também serve para a família da Camila. Um pouco mais à frente, a cozinha da Camila; uma cozinha domestica, que conta com um fogão de 8 bocas, um pequeno forno, uma pia e muito amor.

“Eu começo a cozinhar às 06h e às 10h tem que estar tudo pronto, porque começam os pedidos via delivery’’. O almoço inclui arroz, feijão, salada, farinha e alguns molhos. Após o prato montado pelo próprio cliente, à vontade, ele mesmo solicita a mistura, que vem em um pratinho separado. As opções são: contra filé, filé de frango ou linguiça na cerveja. Em média saem 110 refeições por dia. Nas opções de sobremesa, o que faz sucesso é o pudim, preparado pela própria Camila. No local trabalham 3 pessoas, um entregador, um garçom e a chefe.

Camila acredita que seu sucesso na região do Campo Limpo deve-se muito ao amor pelo filho: “Eu acredito no amor que coloco na refeição’’.

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