Casa do Norte Nova Mandacaru

O restaurante Casa do Norte Nova Mandacaru fica no meio de uma das avenidas mais movimentadas da quebrada, a Avenida Itaberaba, no número 4629. A região é cheia de carros e busões, já que fica bem no miolo, pertinho do terminal, que faz a liga da quebrada com os centros.

Recém-reformada, a entrada da casa tá bonitona, com um letreiro brilhante, orgulho dos tiozinhos que ficam ali em frente resenhando, quase que o dia todo. Por ser pequeno na medida, dá uma sensação de conforto, e é muito convidativo independente do quanto você tenha para gastar. O rango mais barato do restaurante, o PF, custa R$ 10. O pico é frequentado por pessoas de diferentes idades, de todos os cantos de SP e até de fora, mas os clientes mais fiéis são ali da quebrada mesmo, os tiozinhos da resenha.

Seu Jeová, proprietário, adora chegar na humildade para conversar com os clientes e, numa dessas, foi nos contando que o restaurante, já existe há uns 40 anos. Foi criado, inicialmente, pelo seu Durval, e desde o começo ficou sempre no mesmo local, passando por poucas mudanças. No dia 17 de novembro de 2006, o seu Durval vendeu o estabelecimento para o Jeová. E qualé a do Jeová? Bom, ele sempre trabalhou em padarias, e já manjava fazer uns rangos daora, mas por ser de origem mineira não dominava tão bem a culinária nordestina. O que ele fez, então? Meteu o loco e vendeu uns rangos ruins? Não! Ele foi até o Centro de Tradições Nordestinas, contratou uma consultoria para as receitas que ele começaria a vender e procurou fazê-las com excelência. Jeová acabou acertando em cheio em uma receita depois da consultoria, e consolidou o prato como especialidade da casa: o famigerado baião de dois.

Incrivelmente tudo ali parece ser leve, incluindo o preço; R$ 38 o pequeno (serve 2 pessoas) e R$ 75 o grande (o mais caro do cardápio, que serve 4 pessoas de boa). Você pode escolher dois acompanhamentos entre filé de frango, pernil assado, carne seca ou carne de sol. Seguindo a especialidade da casa, o baião com as carnes seca e de sol (artesanal) são chave! O prato é acompanhado por uma mandioca perfeita, crocante por fora e molinha por dentro, e os grandes pedaços de queijo derretidos entre o feijão de corda e o arroz te darão um abraço!

Todos os pratos da casa são muito saborosos, e sempre ornam bem com a boa e velha pinga de alambique. Além das pingas, o drinque mais pedido é o Kariri com mel e limão, por R$ 5. A Casa do Norte Nova Mandacaru tem como di ferencial o grande seu Jeová e o melhor baião de dois que você vai comer na vida. A Casa do Norte Nova Mandacaru, sem dúvidas, é dona de um prato firmeza!

(FECHADO) Churrasquinho do Seu Domingos

Em uma quebrada tão distante, fora do município de São Paulo, o ex-presidente da cooperativa de churrasco da cidade de Diadema, Seu Domingos, estaciona seu carrinho de churrasco bem no meio da Praça da Rua Treze de Maio, número 228 – localizada no Jardim Canhema, em Diadema. E é exatamente lá que você encontra o melhor churrasquinho desse mundão.

A praça da Rua Treze de Maio é um ambiente pra você se sentar, jogar conversa fora, apreciar um bom churrasco e reparar em como as pessoas estão sempre correndo. Um ambiente tranquilo, em um ponto estratégico do bairro. Tem gente que atravessa Diadema inteira atrás das iguarias de carne e faz questão de levar os churrasquinhos para casa. São pessoas das mais variadas, desde criancinhas comprando pro pai até senhoras de idade que compram o churrasco para comer no jantar.

Em 2002, Seu Domingos, ex-segurança de bancos, ficou desempregado por meses e precisava levantar uma grana para sobreviver. Foi aí que resolveu vender churrasco. Sem experiência alguma, começou como uma aventura que foi sendo vivida juntamente com um curso de cabeleireiro. Quê?! Ex-segurança de banco, churrasqueiro e cabeleireiro? Calma, que quanto mais a vida fica loka, mais ela fica daora. Bem no comecinho, ainda participando do curso de cabeleireiro, comentou com um dos professores que teria que largar as aulas para fazer uma grana, trabalhando integralmente como churrasqueiro. O professor quis ajudar; disse que manjava de churrasco e que tinha umas dicas que poderiam fazer o Seu Domingos ter um diferencial em seu carrinho. E realmente o ajudou. Passou receitas, modos de preparo, o tipo de carne e, em especial, o tempero secreto que faz a carne ficar suculenta de uma maneira única. As vendas foram um sucesso! Mesmo assim, Seu Domingos não se contentou. Além de ter melhorado a qualidade das carnes com processamentos e cortes, resolveu mexer no tempero do professor.

Por já ter sido motivo de longas brigas que dariam um livro, o segredo do tempero é guardado a sete chaves, e as únicas informações que obtivemos é que o churrasco é feito de “fraldinha maturada”, comprada de um fornecedor desde 2002, cortada e processada diariamente por Seu Domingos e sua esposa.

A especialidade da casa é o churrasco de carne e o diferencial é o já citado tempero secreto. O churrasquinho é tão bem feito que até as gorduras que ficam no espeto são temperadas. Lindimais! Depois de um tempo, aquele professor foi comer um espetinho e ficou surpreso. Ele notou uma grande diferença do tempero original que havia ensinado ao Seu Domingos. O mestre quis saber o segredo e, segundo o churrasqueiro, hoje, somente ele, o professor e sua esposa dominam essa arte do espetinho sagrado. Seu Domingos é rua até umas horas!

 

Bomboniere Bom Doce

O sino da igreja soa, os ponteiros acusam meio-dia: hora da saída na maioria das escolas da Vila Formosa. Aos poucos, os estudantes passam a se aglomerar no estabelecimento de esquina da Av. Renata com a Rua Carlito. “Cuidado com o cruzamento”, ouço minha vó falar enquanto me olha atravessar a rua – cena recorrente de uma memória distante e saudosista.

Brigadeiro é o nome da magia que faz gente grande voltar à Bomboniere Bom Doce só para apreciar: [piada ruim] o doce mais brasileiríssimo da cidade. Os ingredientes são cacau em pó, leite condensado e manteiga. “Só isso, dona Fátima?”, pergunto. Ela ri e afirma com ar de deboche: “Só isso”. Há com certeza um quarto ingrediente que jamais será revelado para minha tristeza e das possíveis próximas gerações. Porém, enquanto der pra adquirir a simpática bolinha marrom envolta por finas raspas de chocolate a R$2,50, o gosto da infância estará a salvo.

Mas nem sempre foi assim. Quando a Dona Fátima Dias ganhou essa receita de um antigo fornecedor, os primeiros exemplares tinham a consistência de uma pedra, segundo ela, que ainda complementa a “autozoação” ao contar que eles eram ótimos em caso de assalto, porque poderiam servir como arma para defesa. O mais louco de tudo isso é que a história do brigadeiro está intimamente ligada à proteção do patrimônio. O doce brasileiro ganhou fama em 1945, na campanha do milico brigadeiro Eduardo Gomes à presidência do Brasil. As mulheres passaram a trocar a guloseima por doações à campanha do candidato que não ganhou as eleições, mas propagou a receita do doce incrementado da Dona Fátima. O tempo passou, a receita foi sendo aprimorada e hoje, junto à outras especiarias como quindins, doces árabe e canudinhos de doce de leite, faz a renda da dona Fátima e mais duas funcionárias, a Antônia e a Cristina.

Outro sucesso da Bomboniere é o sorvete, sendo o sabor mais famoso o de leite ninho trufado. Existem outros 19 sabores, todos produzidos pelas mãos da senhora de 70 anos, e que, segundo a clientela, deixam no chinelo a massa de marcas tradicionais. Produzido com frutas frescas trazidas pelo filho da dona Fátima, Valdemir, a receita quase se perdeu quando uma franquia da Jundiá abriu as portas na mesma boa e velha Av. Renata. Desanimada. Dona Fátima chegou a ter um comprador firmado para o seu negócio e conta que só não vendeu porque Deus revelou: “A porta que eu abro ninguém fecha”. E assim se fez, após 1 ano e 6 meses, a franquia fechou e a Bomboniere lá ficou para nossa alegria. Amém! Ou melhor, Awoman – salve a Dona Fátima!

 

Pastelaria Orient

Pés caminham apressados, corpos se esbarram, ônibus passam lotados, bicicletas cruzam frenéticas e o sino da Igreja anuncia: são 18h, na cidade de São Paulo. Em meio a todo caos do horário de pico, no sentido Zona Leste, a Av. João XXIII oferece, além da rota alternativa para Av. Aricanduva, a Pastelaria Orient. Esta, por sua vez, conta com uma cozinha tão acelerada, quanto o ritmo de seus clientes.

O pico é ideal para quem precisa comer algo rápido e saboroso por um preço justo. Não por espaço, o ambiente é bem aconchegante, mas porque a agilidade do atendimento supera qualquer expectativa. Da culinária árabe à brasileira, a pastelaria é famosa pela sua esfiha de carne. Isso mesmo.

Sr. Mauro, nissei, conta que a receita é de família. Uma prima de segundo grau ensinou à mãe dele o preparo que traz à vida uma massa macia de gosto um pouco adocicado que, misturado ao sabor da carne moída bem molhadinha e com tempero fresco, deixa qualquer horário de pico menos odioso.

Apesar de fazer sucesso entre os apressados a pastelaria teve de ampliar a sua recepção para atender famílias, amigos e afins em seu ambiente que se tornou também ponto de encontro, sobretudo, nos finais de semana. A parte mais calórica do cardápio vai de pastéis a risoles, passando por uma coxinha digna de palmas. O segredo, segundo Sr. Mauro está na massa que é feita exclusivamente de batata. Outro diferencial é que os salgados não passam muito tempo na vitrine, já que o fluxo de clientes é bem grande, proporcionando salgados fresquinhos a todo momento. A tristeza é que mesmo tendo tamanhos consideráveis, os salgados da Orient deixam um gostinho de quero mais. Seus preços variam de R$ 4,95 a R$ 9,90. Para lubrificar a goela, eles também oferecem uma limonada cremosa. Limão, leite em pó e alguns “mls” de água formam um creme com gosto azedinho. Outra guloseima que você deve experimentar é o pastel de doce de leite com banana prata. A mistura, que num primeiro momento pode soar insensata, traz por dentro de toda a crocância do pastel um doce com pedaços da fruta que mais combina com essa mistura, por incrível que possa parecer. Sem contar que a massa do pastel é sequinha e não faz os dedos brilharem após a comilança 😉

O estabelecimento que já existe há 40 anos, antes de se tornar uma pastelaria, era a sapataria do pai do Sr. Mauro. Em dado momento da vida, o pai dele resolveu passar o ponto e o Sr. Mauro, que na época vivia a disputa pelo território entre os feirantes, preferiu comprar o ponto do pai e abandonar a vida loka de pasteleiro itinerante. Atualmente, ele emprega cerca de 10 pessoas e alimenta boa parte dos transeuntes da Vila Formosa.

 

Salsichão

Na calçada do maior cemitério da América Latina, Cemitério da Vila Formosa, fica a famosa lanchonete Salsichão. O nome sugestivo é mais uma das peculiaridades do local. O restaurante nunca produziu iguarias da culinária alemã, tampouco vendeu dogão. Na real, o nome vem de uma história bizarra contada por Manuel Basílio, sócio da lanchonete: no antigo endereço, quando ele e Wagner Sebonchine ainda não eram sócios, a Vila Carrão conheceu sua primeira hamburgueria há 50 anos.

O rolê era ideal para a larica da madrugada, especialmente quando exigia carne suculenta, bem temperada, acompanhada de bacon e ovos delicadamente batidos compondo o sabor suave de uma boa maionese caseira. O cenário do lugar contava com uma tubulação extensa de cor alaranjada que chamava atenção e lembrava uma enorme salsicha de Itu. Os clientes, que sempre tiveram uma relação de parceiragem com os cozinheiros, apelidaram o local escrevendo em cima da tubulação inspiradora: Salsichão. Na mão dos novos sócios, a lanchonete já assoprou 24 velinhas e as tubulações laranjas ficaram no antigo endereço, que não suportou a demanda de clientes que a lanchonete atingiu.

Todos os lanches – cerca de 8.000 vendidos por mês – incluem carne e outros derivados de origem animal, mas, para os vegetarianos, boas notícias: o Wagner sempre encontra um jeitinho de satisfazê-los substituindo ingredientes ou criando receitas exclusivas com o famoso “o que tem pra hoje”. O diferencial é revelado pelo o chefe da cozinha: “tem que ser amigo, parceiro do cliente” e é isso que se percebe ao olhar o clima da galera trabalhando, uma piada aqui e outra ali e nem se percebe que o Salsichão atende até a 1 da manhã todo final de semana.

O cardápio varia de R$10 a R$30, sendo o valor mais alto destinado a pratos mais elaborados como os beirutes que, além de seguir as características tradicionais dos cardápio, tem o toque especial das iguarias salsichanoenses – a receita de hambúrguer caseiro e a maionese. Quanto ao tamanho das guloseimas, todos os pratos fazem juz ao aumentativo “SalsichÃO”, o beirute servindo facilmente duas pessoas.

Experimentamos o X-Bacon e a porção de batata canoa, ambos acompanhados da maionese exclusiva da casa, que é feita com pó de ovo, num esquema kilo a kilo para não correr o risco de estragar e ser consumido no mesmo dia, como pede a recomendação da Anvisa. O hambúrguer é feito por Wagner que se recusa a usar outra carne que não seja o coxão mole: “Carne aqui, só a de primeira”. Tudo no ponto: bacon por todos os lados, gema meio a meio [durinha por fora, cremosa por dentro], queijo prato derretido e o hambúrguer temperadinho como almôndega de vó. Para fechar a conta, o melhor pedido é a torta holandesa da Regina Cacau, uma fornecedora de sobremesas do Salsichão. Cremosa e com um chocolatinho meio amargo bem distribuído sobre o creme de baunilha, a torta contem ainda bolachas que levam o nome daquela banda que mistura os melhores ritmos do Pará.

Pastel Quero Mais

Desembarquei em Ferraz de Vasconcelos sem mapas ou internet, apenas em busca do famoso “melhor pastel da cidade”. Não encontrei pelo caminho alguém que conhecesse o lugar pelo endereço, mas todos sabiam onde fica o Pastel Quero Mais.

Quando cheguei ao viaduto que liga a rua da estação ao point, pude ver um grande número de pessoas sentadas no entorno do quiosque. Carlos Alberto Barbosa, o dono, sentou comigo em uma das mesinhas onde experimentei as delícias feitas na hora, e contou como se tornou o pasteleiro (e pagodeiro) mais famoso da cidade.

Peguei um pastel mineirinho, invenção da casa, com carne, milho, queijo cheddar, massa crocante, completamente sequinho e com preço justo (R$ 4,50). Para acompanhar, um caldo de cana, batido na hora com uma fruta à sua escolha (400 ml por R$ 4).

Mais jovem, Carlos era músico e montou com três amigos o único grupo de pagode da região: Toque de Amizade. Se apresentaram em bares e abriram shows de grupos maiores, participaram da coletânea Acendendo o Pagode Volume I e ganharam um festival. “Era legal, a gente se divertia com o assédio”, disse enquanto sintonizava um pagode no rádio. “Infelizmente, nem todos pensam da mesma forma, e nós tivemos que terminar.”

Carlos comprou uma Rural (carro da década de 1970 de fácil adaptação para vender comida) que já era usada por outro dono no ponto onde está hoje. Tanto no carro quanto no quiosque, a música está sempre presente: no toca-discos que ele leva para point aos sábados e nos grafites, onde Michael Jackson e Raul Seixas dividem as paredes com Ayrton Senna e Charlie Chaplin. Em breve, artistas nordestinos como Luiz Gonzaga também farão parte do grafite após a pintura anual.

Conversa vai, conversa vem, não me aguentei e pedi o pastel da casa: Especial Quero Mais. Carne, presunto, queijo mussarela, ovo, cheddar, milho e azeitonas (R$ 7 que valem por uma refeição).

Carlos disse tentar usar sua influência para pedir melhorias para a região. “É mentira se eu disser que não sou famoso, eu sou”, disse depois de ser cumprimentado pelo secretário do prefeito. “A minha briga agora é arrumarmos as calçadas dessa região, as pessoas podem se machucar.”

Lá também tem opções de pastéis doces. E é depois de comer um de queijo com goiabada que me despeço de Carlos e de sua história. Volto a São Paulo clamando vida longa ao rei… dos pastéis.

Publicado em agosto/2018. Estamos trabalhando para atualizar as informações do local 🙂

Bar do Ari e Miriam

Atualização em junho/2020: Este lugar está fechado temporariamente devido à pandemia de COVID-19.

Desde criança, o alviverde imponente sempre foi minha paixão – e isso não largo de jeito nenhum. Num certo domingo, como torcedor assíduo, decidi ver o jogo fora de casa. Palmeiras e Fluminense, quatro horas da tarde. O local escolhido foi o famoso Bar do Ari e Miriam, um curioso lugar no bairro do Tremembé, Zona Norte de São Paulo.

Antes de tudo, preciso contar o que é o estabelecimento: fundado há 10 anos pelos sócios que dão nome ao boteco, é um ponto de encontro de toda a galera da região da Av. Cel. Sezefredo Fagundes e da Av. Mário Pernambuco. Bem, a pergunta que não quer calar é por que diabos ele se diferencia de qualquer outro “Bar & Lanches” da região? Então, o Ari é palmeirense. A Miriam, corintiana. São casados há 24 anos. Quando precisaram – e quiseram – abrir um negócio próprio, observaram a rivalidade e resolveram abrir um estabelecimento que unisse a Barra Funda com Itaquera. Surgiu assim o único bar de São Paulo que junta alvinegros e alviverdes.

Quando me sentei na mesa do boteco, o Ari Filho logo se apresentou e perguntou o que eu queria. Com uma camisa da Mancha Verde, já pudemos ver que o membro mais novo da família puxou o pai. Pedi um litrão e uma recomendação de rango. A porpeta foi a escolha. Alguns minutos depois, bola rolando! O Felipe, que é o garçom oficial do bar e são-paulino, me traz uma gelada e avisa que o belisco já está chegando.

Quando a porpeta aterrissou na minha mesa, reparei que as mesas eram divididas entre fotos da Gaviões da Fiel e da Mancha Alviverde. Os adornos e penduricalhos em todo o bar eram de ambos os clubes e os uniformes de cada um dos donos era bordado com seu time do coração. O salgado veio num pratinho acompanhado de um vinagrete, com uma deliciosa cebola roxa. Fatiadinho em quatro pedaços, pra dividir com os amigos, a receita da Rosa, pilota da cozinha do bar, tem uma casquinha crocante e de-li-ci-osa, além da carne no meio estar bem rosadinha, estilo “no ponto”, do jeito que eu curto. Se você der uma temperadinha no miolinho da porpeta com o molhinho, vai ficar difícil prestar atenção no jogo.

Enquanto todos estavam de olhos grudados no jogo, comecei a observar as pessoas que ficavam de olhos grudados na TV: crianças, mulheres, adolescentes, velhos: todo tipo de gente estava ali. Gente com camisa do Corinthians, do Santos, do Palmeiras, é claro, e do São Paulo. As mesas iam até a calçada do outro lado da rua e vários pais estavam brincando com seus filhos na rua em que raramente carros passavam – e, se passavam, paravam no bar para ver o jogo ou comer alguma coisa. Uma boa parte da galera mandava pra dentro a porção de frango à passarinho que sai aproximadamente 9 mangos por pessoa e serve até 5 fanáticos por futebol.

Esse clima de convivência e de paz entre as torcidas é na verdade um reflexo de grande parte das famílias paulistas, divididas em tricolores, alviverdes e alvinegros que se amam muito além das rivalidades. E é por isso que o Bar do Ari e Miriam acaba por unir as famílias e se torna esse ambiente tão gostoso para os moradores da Zona Norte.

 

Casa da Árvore – Bar e Cultura

Atualização em junho/2020: Este lugar está fechado temporariamente devido à pandemia de COVID-19.

“Casa humilde de maderite/Mansão e os grafite/Tudo misturado/ Isso é Piritubacity!”. Essa música do Pollo, que estourou em 2011, era a única referência que eu tinha a respeito do bairro, localizado entre a zona Norte e a zona Oeste, antes do jornalismo me fazer atravessar a cidade e pegar pela primeira vez a Linha 7 – Rubi da CPTM para conhecer a Casa da Árvore, em Pirituba.

A primeira impressão do jornalista que vinha de longe era de que estava chegando na casa de um amigo. O climão leve e descontraído era ditado pela trilha que ia de Emicida a Planet Hemp e pela decoração viva e urbana, a começar pelo grande muro grafitado, com suas formas e cores saltando aos olhos e às lentes da minha câmera. Não podia esquecer que ainda era o jornalista e fotógrafo que vinha de longe para fazer um trabalho naquele lugar. E que lugar grande! Ao contrário de uma casa de árvore, espaço era o que não faltava ali.

Os três ambientes confortáveis já viram dias mais decrépitos. Quando Marcelo Mota, dono do pico, abriu o negócio em outubro de 2015, o lugar estava abandonado e esquecido. Com a ajuda de amigos, ele transformou a Casa da Árvore em um espaço onde poderiam ter uma comida boa e um ambiente cultural para confraternizar perto de casa. Deu tão certo que muita gente das redondezas e de fora passou a frequentar a casa, que ainda contará com duas pistas de skate gratuitas e um estúdio de música, que estão em construção. Enquanto o estúdio não fica pronto, o palco da área externa segura bem a parte musical, que recebe artistas de quebradas dos mais diversos estilos, todos os dias, valorizando ainda mais a cultura periférica.

Indo para o cardápio; o jornalista, fotógrafo e especialista em gastronomia que vinha de longe precisava provar e avaliar tecnicamente algumas das receitas principais da casa. Dentre lanches, porções e pratos propriamente ditos, fui na clássica combinação hambúrguer e Coca-Cola. Os hambúrgueres de 110g e 220g não trazem toda aquela firula gourmet das hamburguerias artesanais, apesar de serem preparados lá mesmo. Ainda bem, pois isso não combinaria com o clima. O que chega à mesa é um hambúrguer no ponto, macio, muito bem temperado e suculento, com acompanhamentos que cumprem o seu papel, complementando perfeitamente o sabor. Roots, extremamente honesto e apetitoso, é daqueles lanches que dá vontade de cair de boca sem garfo, faca ou cerimônia, como fazemos entre amigos.

O jornalista, fotógrafo e especialista em gastronomia que vinha de longe saiu de lá se sentindo apenas Guilherme e não vê a hora de levar os amigos para atravessarem a cidade e se sentirem em casa também.

Doce Feitiço Rotisseria

Atualização em junho/2020: Este lugar está fechado temporariamente devido à pandemia de COVID-19.

É bem ali, na Rua Moraes de Apocalipse nº 129, entre uma UBS e um piscinão cheio de nada, que você vai encontrar a rotisseria com os bolos mais delicinha desse brasilsão véio e sem porteira. Em um ambiente pequeno, que chama a atenção pela beleza e cuidado com os detalhes, mesmo que sem lugares pra sentar, a diversificada clientela da região dá uma pausa na rotina do corre-corre e pede aquele pedaço de bolo, que na real mesmo, mais parece um sonho.

A Doce Feitiço Rotisseria, no auge dos seus 19 anos de história, começou com vendas casuais. As receitas, com um toque especial da família, sempre foram feitas pelas irmãs Rosana e Lena, e eram vendidas unicamente para amigos e familiares. Os bolos eram tão bons, que na primeira oportunidade de expandir essas vendas para além do círculo mais próximo, elas apostaram todas suas fichas em um negócio. Compraram a antiga loja de doces, deram um tapa no visual e estão na rua há quase duas décadas.

Para quem vai lá para lá pegar algo salgado, a rotisseria conta com um cardápio muito amplo: arroz, saladas, aves, carnes, massas…. Mas o principal são as sobremesas, que se destacam pelas receitas próprias e por nenhum uso de produto industrializado. Os preços são a maioria por quilo, variando de R$22 até R$68,80 e o produto mais barato é o cuscuz, por R$14 o quilo.

As receitas de bolos das irmãs variam em mais de 35 sabores. Diamante Negro, bem-casado e brigadeiro saem bastante, mas a especialidade da casa é o fofíneo bolo de ameixa. 100 gramas do delicioso bolo custam R$ 4,30, e o bicho é tão lindão, que antes de morder, dá vontade de fazer umas fotos. Mas aí quando você morde… Malandro… Aquela massa branca macia, juntinha do doce de leite, do coco ralado, da leve camada de açúcar de confeiteiro e com o toque final do gosto de ameixa, te dão uma calorosa sensação de que um bom bolo pode facilmente resolver qualquer guerra. O mundo livre s/a cantava “Deixe esse bolo de ameixa e vem mexer comigo”. No caso desse bolo, não dá pra deixar.

 

Paraíso da Cachaça

Encontrar o Paraíso da Cachaça não é uma missão muito difícil. Ao caminhar pela Avenida Direitos Humanos, na região do Lauzane Paulista, você pode ver, à distância, mesas na calçada, gente tatuada, maços de cigarro nas mesas, cerveja, jovens e velhos barbados. Conforme vai rolando uma aproximação, não terá certeza se realmente está na Zona Norte de São Paulo ou em plena Califórnia, num bar de motoqueiros dos anos 60. A trilha sonora é composta pelo rock ‘n’ roll e o burburinho de seus frequentadores na calçada da rua.

Como as poucas mesas dentro do bar estão sempre cheias, você terá de sentar lá fora: a música não é alta, dá pra conversar em bom tom, sem precisar gritar, exceto quando você for chamar o garçom: o único cara que fica atendendo a galera é muito gente fina, mas precisa cuidar de muitas mesas, portanto, pra chamar o mestre, você vai ter que elevar a voz.

O mestre Bola irá lhe dar algumas recomendações de cervejas: realmente, a carta da casa é bastante variada, com brejas nacionais, holandesas, inglesas, alemãs… Você pode encontrar Lagers, Weisses, IPAs e Pilsens geladas e muito saborosas. Comparativamente, os preços são mais justos do que os encontrados em qualquer bar descolado no centro da capital.

Para forrar o estômago, o bolinho de carne é uma delicia. Além de combinar muito com as brejas, vem sempre quentinho. A carne é temperada com cheiro verde, sal, cebola e pimenta do reino. A massa é bem macia e a casquinha bem crocante… O preço fica em 4 mangos. E, segundo o Carlão, dono do bar, a receita é de sua vó, que só entregou o passo a passo para ele. Não adianta insistir, você não vai conseguir a receita.

Se você não estiver a fim de beber uma breja e prefere um drink, a especialidade da casa é a gengibrina. Feita com cachaça artesanal e raspas de gengibre (o resto da receita é segredo de estado!), ela é servida trincando de gelada e esquenta a alma de qualquer um que prová-la. Para experimentar a deliciosa bebida, você paga apenas 6 dinheiros em um copo americano de 300ml e 3 reais num “shot”.

Pra combinar com a bebida de raiz, a dica é que você peça uma porção de bolinho de carne seca, desenvolvido por Carlão, em busca de uma variedade maior para os salgados do seu estabelecimento. “Curtimos inovar”, resume minimalista.

“Venho aqui pra experimentar as cachaças, tem (envelhecida no) carvalho, (na) umburana… Cada coisa”, diz Daniel, frequentador assíduo do estabelecimento e dono de um lava-rápido da região. Sem barba, jaqueta de couro ou óculos aviador, ele conta: “Fui no Rock in Rio 1991, eu curto rock, Guns, Metallica, tá ligado?”. Conhecer o Carlão, o Bola e pessoas novas faz parte do rolê. E não se pode ir lá somente para os drinks deliciosos ou pros rangos diferenciados, mas também pela experiência rústica de colar na casa mais pauleira da Zona Norte.

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