Bar do Zé Batidão

Quem cola no sarau da Cooperifa descobre muito mais que as poesias recitadas. Localizado no Jardim Ângela, o Bar do Zé Batidão tem superação, solidariedade e alta gastronomia.

A infância e adolescência de seu Zé foram duras no trabalho quase escravo em uma fazenda de Minas Gerais. Com 17 anos, ele veio para São Paulo.

O primeiro bar do seu Zé foi na Chácara Santana, onde, em 1988, conheceu Sergio Vaz, parceiro que trouxe o sarau de Taboão da Serra para o Jardim Ângela. Já são 15 anos de Sarau da Cooperifa, sempre às terças-feiras, das 20h30 às 23h. O horário de término, porém, é só mera formalidade: ninguém quer ir embora do ambiente aconchegante e familiar.

Assim como a história de vida do seu Zé, os pratos são conhecidos bem pra lá do Jardim Ângela. Um dos mais mais pedidos é o escondidinho de carne seca. Ele revela algumas dicas que o tornam original e saboroso: a manteiga vem de Uberaba, Minas Gerais, e o purê é feito com mandioca, leite e queijo, além de um segredo “A mussarela deve ser ralada, não picada, pois assim entra dentro do purê, dando um verdadeiro sabor”, diz seu Zé.

O escondidinho, aliás, rendeu uma das histórias do bar. Um funcionário da Rede Globo, cliente fiel, sempre pedia o prato e levava um para viagem. O destino era Ana Maria Braga. Um dia, conta seu Zé, o rapaz sumiu e ele viu a apresentadora mostrar o mesmo prato, dizendo ser receita dela. Sem rancor, seu Zé apenas falou a quem estava ao redor que era dele a criação e recusou o convite feito pela produção para participar do programa.

A feijoada também é diferenciada. Tem só jabá, linguiça, costela, pé e orelha. “Essa é a original, não vai rabo nem lombo. Isso só dá mais volume, enche a panela e os clientes acabam não comendo essa parte.” A dele chamam de feijoada light. E tem o destaque do torresmo: direto do açougue, é frito em óleo a 180 ºC para ficar igual a pururuca.

Seu Zé tem um vasto currículo. No bar, fundou uma biblioteca para os jovens que não tinham condições de ir às de longe e uma escolinha onde mais de 90 crianças aprendiam a ler, escrever e a recitar seus próprios versos no microfone, alimentadas por suas comidas. É criador de um time de futebol e um dos responsáveis pelo Cinema da Laje, com sessão mensal em cima do bar. “Cinema é caro, Coca-Cola é cara, pipoca no cinema é cara”, justifica, sem esquecer da comida.

Publicado em agosto/2018. Estamos trabalhando para atualizar as informações do local 🙂

Bar do Lopes

Criado na década de 1940, o Bar do Lopes nasceu simples, um barzinho comum de bairro, nada de servir refeições completas. Mas assim como seu bairro (Jardim da Saúde), acompanhou o crescimento da região e foi se sofisticando até se tornar um bar e restaurante com mais de 75 opções no cardápio. O almoço por quilo tem mais de 20 tipos de pratos quentes e 20 de saladas. A noite, o cardápio à la carte conta com 25 opções de pizza e 13 de lanches. O destaque é o Bar do Lopes, que vem no pão de hambúrguer ou francês, com lombinho, queijo fresco, tomate e orégano.

Aqui, tradição não significa sempre pertencer a uma única família. O Bar do Lopes foi tocado por diferentes donos, sem perder o nome de seu fundador e as características que abraçam os clientes.

O lugar é ponto de encontro para filhos, mães, pais, avós, amigos… Para diferentes vontades e experiências. “E isso vem de pai pra filho”, conta Pedro, gerente do bar desde 1997. O Bar do Lopes serve tanto pra encher a pança como pra quem quer colocar o papo em dia. Atende bem e da mesma forma quem frequenta há mais de 15 anos ou novas clientes como eu.

Na mesa, são entregues dois cardápios. Um com refeições completas – desde o tradicional filé à parmegiana a um saboroso prato de bacalhau – e outro com uma variedade de 35 tipos de porções, que passeiam entre batata frita, pizzas e uma ampla variedade de frutos do mar. Para beber, 79 tipos de bebidas: sucos naturais, refris, cervejas, chopes, conhaques, vinhos, aperitivos, caipirinhas, destilados, aguardente…

Com o prato escolhido, fiz o pedido ao Seu Rufino, um garçom que trabalha no Lopes há vinte anos. “Sinta-se à vontade. Se precisar é só chamar”, diz sempre que passa pela nossa mesa. Depois de cinco minutos, chega lula à dorê, um prato farto de encher os olhos, com um aroma que te faz querer provar aqueles petiscos dourados o mais rápido possível.

O ambiente me faz esquecer o movimentado bar ao lado, já que é dia de futebol. Com uma amiga, nem percebemos o tempo passar.

Comemos e bebemos à vontade, querendo ficar mais uma ou duas horas ali. Mas já era quase 23h30, o bar ia fechar e tínhamos que pegar um ônibus. Sorte nossa que o ponto ficava ao lado, ali mesmo na avenida do Cursino.

Pedacinho da Bahia

Um sonho trouxe Josi, a rainha do acarajé de Heliópolis, direto da Bahia para São Paulo. Batizada como Joanice Leandro dos Reis, teve uma vida repleta de dissabores. Por diversos problemas, quando criança a baiana teve que sair de casa. “Dormia nas varandas alheias e pedia comida nas ruas”, conta.

Ainda na infância, trabalhou em troca de comida e moradia. Era empregada doméstica e, entre uma folga e outra, observava sua patroa cozinhando e prestava atenção em como ela temperava a comida. Além de aprender como se preparava um acarajé, nascia também o gosto por cozinhar.

Aos 21 anos, Josi decidiu que iria para São Paulo realizar o sonho de viver do acarajé. O início não foi fácil: chegou com apenas R$ 23 no bolso. Morou em albergue e pensões e chegou a ouvir do dono de uma delas: “Volta pra Bahia!”.

Enfrentou assédio sexual e humilhações, mas resistiu em permanecer na cidade. Com menos de um mês na terra da garoa, conseguiu dois trabalhos. Um de panfletagem e outro num restaurante, que, juntos, rendiam R$ 250. Assim, se mantinha e ajudava seus dois filhos, que ficaram na Bahia. Semianalfabeta, Josi contava com a boa vontade alheia para conseguir sobreviver na cidade. Após se matricular em uma escola, um professor a ajudou na criação de um currículo, que a fez conseguir um emprego melhor. Com o primeiro salário, comprou o tacho, a colher de pau e alguns ingredientes para começar. Depois de quatro meses, conseguiu montar sua barraca de acarajé no Museu do Ipiranga.

Ela se dividia entre vários trabalhos: durante a semana, em uma tecelagem e em um bar; o acarajé era feito aos finais de semana.

A restrição para a venda de alimentos na rua a expulsou do Ipiranga e Josi, então, seguiu para Heliópolis. Lá conseguiu alugar uma casa, mas a restrição para ambulantes chegou à comunidade e Josi passou a cozinhar num restaurante local, vendendo o acarajé em quermesses.

A comida ficava cada vez mais conhecida na quebrada e, com o sucesso do tempero e a força de amigos, ela alugou um espaço para montar o Pedacinho da Bahia.

Hoje, Josi produz aos finais de semana cerca de 60 acarajés tradicionais e no prato, além dos caldos, lanches, pastéis e sua também famosa feijoada. Você pode chegar, pedir e partir ou, se preferir, pode aproveitar para sentar, comer e observar o fluxo da quebrada.

Josi tem o dom do tempero que agrada das donas de casa à galera do funk – não é a toa que, aos finais de semana, o Pedacinho da Bahia fica a noite inteira aberto.

Dona Fran

Sabe aquela cheirosa e saborosa comida de vó? Preparada com bastante alho picadinho, temperos naturais, nenhum condimento industrializado e todo amor e carinho? Em Paraisópolis tem. E a boa notícia é que Dona Fran, a cozinheira, resolveu abrir as portas da sua casa para cozinhar para a comunidade.

Francisca Macedo dos Santos, 46 anos, é maranhense. Trabalhou durante muitos anos como empregada doméstica, e, nesse meio tempo, sempre esteve em contato com a cozinha. Seu desejo era que as pessoas experimentassem sua comida. Quando deixou o trabalho doméstico, chegou a ser camelô e a vender açaí, mas os negócios não deram certo. Dois amigos, encantados com seu tempero, a desafiaram a abrir um restaurante – assim surgia, no ano de 2010, o Restaurante da Dona Fran.

Todos os dias ela levanta às 7h para começar a preparar o almoço. O trabalho, no entanto, começa bem antes: as carnes ficam descansando no tempero de um dia para o outro. Não há muita variação no cardápio. A base sempre é composta por arroz, feijão, salada, macarrão e farofa de bacon. O que varia são os tipos de carne, sempre três à escolha do cliente. Frango à milanesa, coxa de frango assada, costela e feijoada são algumas das opções. Com R$ 27, duas pessoas comem muito bem.

O restaurante, em si, não é exatamente um restaurante. É a sala da casa da Dona Fran. Os clientes compartilham as mesas e podem ver Fran em ação, já que a cozinha fica logo ao lado. O local fica aberto para o almoço, mas o horário é flexível: ela conta que, em alguns dias, clientes aparecem para comer às 5h da tarde.

Apenas Dona Fran e sua sobrinha cozinham. Elas cuidam do almoço, servido de segunda a sábado, e também das encomendas. A comida da cozinheira já circula por toda Paraisópolis em entregas a pé, e sua fama já ultrapassou os limites da quebrada. Dona Fran conta que já recebeu pedidos no Portal do Morumbi, mas não pôde atendê-los por conta da distância.

Agora, o que ela quer é comprar uma moto para agilizar suas entregas e continuar colocando em prática o que sempre desejou: fazer com que mais pessoas possam experimentar o seu tempero de vó.

Publicado em agosto/2018. Estamos trabalhando para atualizar as informações do local 🙂

Espetinho Heliópolis

Alagoano, Leandro Santos saiu do Nordeste em 1998, aos 18 anos, com o desejo de vencer na vida. Chegou em São Paulo sem dinheiro, mas com vontade de trabalhar. “Quando a gente sai do Nordeste, sai para vencer e ganhar dinheiro… ser empresário”, conta. Mas o início não foi fácil.

Leandro trabalhou em diferentes restaurantes da cidade. Houve dias em que não tinha dinheiro para pagar uma passagem de ônibus e já precisou caminhar 10 km para chegar ao trabalho. Passou por dificuldades até para provar sua honestidade, quando foi acusado de roubo por uma cliente.

Mas todos os problemas que enfrentou não foram capazes de impedi-lo de caminhar com as próprias pernas.

No último restaurante em que trabalhou, antes de se tornar um empreendedor, Leandro encontrou um antigo amigo do interior de Alagoas, Cícero Costa, 40, hoje seu sócio. Juntos adquiriram experiência para que pudessem alçar voo. E, assim, aos 25 anos, ele sabia que estava pronto para gerir o próprio negócio.

Muitos desacreditaram por ser uma aposta na periferia, mas em um intervalo de quatro anos ele precisou mudar para um espaço maior. E foi no novo restaurante que aplicaram o padrão de qualidade que tanto prezavam.

“Para você ser empreendedor, não é só ter dinheiro, tem que saber trabalhar”, diz Leandro, que está atento a todos os aspectos envolvendo o Espetinho Heliópolis, desde a limpeza dos banheiros à qualidade do produto final. A ideia dele é levar para a periferia o padrão de qualidade dos restaurantes do Centro – e tem dado certo.

O bar-restaurante oferece 16 opções de espetinhos entre tradicionais e especiais: salmão, carne de sol, chuleta gaúcha, picanha e três tipos de costelas (todos com acompanhamento). Também há oito opções de pratos rápidos que servem de uma a três pessoas, caldos, saladas, porções, petiscos, guarnições e sobremesas. Para beber, cervejas 600 ml (R$ 9) ou long neck, sucos, refrigerantes e outros drinques.

“Nós temos o essencial para o cliente vir, gostar e voltar”, diz Leandro com orgulho.

Bar do Almir

Atualização em junho/2020: Este lugar está fechado temporariamente devido à pandemia de COVID-19.

Se você for até a Vila São José, em Diadema, atrás de um lugar para comer e se divertir, todos os moradores saberão te indicar a localização do Bar do Almir, o maior ponto de encontro da região.

Paralela à avenida Fagundes de Oliveira fica a rua dos Jasmins, e é ali onde você encontra Almir, o baiano que prepara o melhor churrasquinho que você respeita. Devido às dificuldades em arrumar trampo onde morava, Almir foi pra São Paulo tentar se estabelecer financeiramente. Foi morar em Diadema, onde virou metalúrgico. Porém, sabe aquela vontade de largar tudo para fazer o que gosta? Almir fez isso e abandonou sua profissão para preparar o espetinho que conquistou o bairro todo. Do trailer ao boteco, do boteco ao bar – ascensão conquistada graças aos 25 anos no ramo do churrasco.

O local vende uma ampla variedade de espetinhos, como os de carne, frango, queijo, kafta e calabresa, além de muitos rótulos de cervejas e cachaças. Com as próprias mãos, Almir e sua mulher preparam tudo: o corte da carne, o tempero, o molho verde que serve de acompanhamento, o vinagrete e o pãozinho.

E já na primeira mordida, a carne suculenta e bem tostada, misturada ao molho verde, quase vicia instantaneamente. Se preferir, o espetinho de queijo crocante por fora e derretendo por dentro faz seu paladar explodir de sabor. Há também a opção do espetinho de frango dourado e crocante, que dá aquela sensação gostosa de “almoço de domingo”.

Mas, se ainda não ficou claro o diferencial do churrasco do Almir, ele mesmo responde com muita modéstia: “Não tem muita diferença de qualquer outro espetinho. Às vezes um temperinho a mais, um lugar legal e muita conversa boa”.

Temperinho a mais significa uma carne bem maturada, imersa em água e vinagre com salsa, alho e sal e o ingrediente secreto do chefe, que o chama de realçador. Os espetinhos ganham o título de “os melhores de São Paulo” pelo Seu Geraldo, que ignora a distância e atravessa duas cidades só para saboreá-los.

Atualmente, o Bar do Almir vende cerca de 500 espetinhos por semana, e tem também shows ao vivo e encontros de futebol. O objetivo continua sendo o mesmo que o do início: “Reunir os amigos, aproximar as pessoas para comer um bom churrasco e se divertir”, diz.

Para curtir um bom pagode ou ver o jogo do Corinthians, o Bar do Almir é, com certeza, a melhor escolha. Pôr o papo em dia, ouvir uma boa música ao vivo e comer essa delícia de churrasco nutre qualquer corpo de bons sentimentos. E com certeza fará seu estômago sorrir.

Rock It

O município de Itapevi (na Grande São Paulo) tem vários bares, mas desde 2015 o Rock It supera em originalidade muitos bares de lá e tantos outros da capital paulista.

Quem entra no bar itapeviense se depara com discos de vinil nas paredes, sofás e chão xadrez, lustre de fitas cassete, mesas de sinuca e pôsteres de Elvis e de pin-ups. Parece um bar de rockabilly ou rock clássico. Mas não é só isso.

Francine Motta, a proprietária, afirma que, desde o começo, a ideia era abrigar todas as tribos, algo que ela mesma buscava. “Se quiséssemos fugir da rotina, as opções eram ir pra Barueri ou para o centro de São Paulo. E é um saco ter que ir pra longe para se divertir.”

Quem reclama de mesmice não tem problemas no Rock It. Cansou de rock? A próxima noite é de reggae. Tá a fim de dançar? Tem a de pop.

Não está no clima para ouvir música? Tem sinuca e fliperama. Quer só conversar e comer com a galera? O Rock It também serve pra isso – e muito bem.

A comida é tão caprichada quanto a sua decoração e programação musical: tem porções, pastéis e lanches, quase todos com opções veganas. Até a comida é ideológica, como tudo no bar que tem Primeiramente, Fora Temer em descrição de evento no Facebook e festas girl power só com mulheres discotecando. “Como muita gente se torna vegetariano ou vegano por questões ideológicas – em defesa dos animais ou da natureza –, a gente optou por oferecer a opção de substituir a carne em qualquer item do nosso cardápio”, explica Francine. Dá para pedir pastel, quibe, coxinha e qualquer um dos lanches de hambúrguer artesanal na versão soja – o preço é o mesmo.

Quem fica na cozinha é a mãe de Francine. No começo, Dona Edna achou estranha a ideia de largar o emprego para abrir um bar, conta a filha. Hoje conhece toda a galera que cola lá eprepara os lanches nas noites de festa ou em eventos, como os Flash Days de tatuagem, saraus, bazares e encontros de carros antigos.

E, se ainda não estiver convencido de que vale a pena atravessar São Paulo pra curtir o Rock It, Flávia Teodoro, moradora da Brasilândia, diz que faz mais sentido fazer uma viagem de 26 km até lá do que uma de 8 km até a Vila Madalena. “Tô de saco cheio de bar blasé.”

O bar, criado para evitar ter que ir para o Centro se divertir, está trazendo gente de toda São Paulo para Itapevi.

Samambaia Bar & Lanches

Quem caminha à noite pelo Tatuapé já deve ter notado a quantidade de barzinhos na região, que mais parecem cópias dos da Vila Madalena e do centro expandido. Esses bares atendem ao público jovem da região, que sofreu um boom imobiliário e tem atraído cada vez mais pessoas de outros lugares.

Aparentemente despretensioso, o Samambaia Bar & Lanches é a união do saudosismo bairrista com as paixões de Carol e Tiago, ambos criados no Tatuapé. A dupla decidiu abrir um negócio após terminar a faculdade de ciências sociais. Tiago queria ver no bairro o antigo movimento, com pessoas que se conhecem e estabelecimentos que fortalecem a cultura local.

O som ambiente é gerado por uma vitrola, alimentada pelos mais de 300 discos que eles têm na casa. “Aqui não tem reprodução automática. Nós temos que parar o que estamos fazendo e ir trocar. E isso acaba nos trazendo de volta pra realidade”, falou Carol. “Para nós, os algoritmos não servem para nada. Preferimos o fator humano”. Sempre que possível o bar promove “atividades extracurriculares”, como flash tattoos e projeções de filmes independentes.

A casa tem um cuidado especial com as bebidas, privilegiando a variedade e os pequenos produtores. Há muitas opções de cachaças, separadas por regiões do Brasil. Se preferir algo gelado, aposte nos chopes. Sempre com pelo menos duas opções, as bebidas são trocadas semanalmente, oferecendo maior variedade e marcas menos conhecidas. Tiago pode dar uma aula sobre cervejas, basta solicitar. Toda segunda-feira tem chope em dobro.

Para comer, o carro-chefe é um clássico de boteco: moela. Comprada da avícola mais antiga do bairro, é cozida na cerveja preta, temperada com especiarias e servida em uma cumbuquinha com salsinha (colhida da horta do próprio bar) e uma cesta de pães. “A ideia é servir um prato que é muito conhecido entre os mais velhos, mas com uma cara nova para a geração atual”, conta Rafael, mestre-cuca do bar e amigo de longa data dos donos. A porção pode ser dividida entre duas pessoas numa boa. A ideia do cardápio é combinar elementos da culinária contemporânea aos gostos dos donos e à proposta do ambiente. Entre as opções estão desde ovos coloridos a pratos mais sofisticados.

Um dos resultados dessa mistura – e o preferido de Carol, vegetariana –, é o lanche vegano de legumes marinados no pão ciabatta. O pão, feito com farinha orgânica e com fermentação natural, produzido e entregue no bar por uma amiga da Carol, é recheado com abobrinha e berinjela seladas na chapa, acompanhadas de rúcula e tomate confit. É de lamber os dedos literalmente: você vai lamber o tempero que ficar em seus dedos e rezar para o sabor não ir embora jamais.

Casa do Norte Nova Mandacaru

O restaurante Casa do Norte Nova Mandacaru fica no meio de uma das avenidas mais movimentadas da quebrada, a Avenida Itaberaba, no número 4629. A região é cheia de carros e busões, já que fica bem no miolo, pertinho do terminal, que faz a liga da quebrada com os centros.

Recém-reformada, a entrada da casa tá bonitona, com um letreiro brilhante, orgulho dos tiozinhos que ficam ali em frente resenhando, quase que o dia todo. Por ser pequeno na medida, dá uma sensação de conforto, e é muito convidativo independente do quanto você tenha para gastar. O rango mais barato do restaurante, o PF, custa R$ 10. O pico é frequentado por pessoas de diferentes idades, de todos os cantos de SP e até de fora, mas os clientes mais fiéis são ali da quebrada mesmo, os tiozinhos da resenha.

Seu Jeová, proprietário, adora chegar na humildade para conversar com os clientes e, numa dessas, foi nos contando que o restaurante, já existe há uns 40 anos. Foi criado, inicialmente, pelo seu Durval, e desde o começo ficou sempre no mesmo local, passando por poucas mudanças. No dia 17 de novembro de 2006, o seu Durval vendeu o estabelecimento para o Jeová. E qualé a do Jeová? Bom, ele sempre trabalhou em padarias, e já manjava fazer uns rangos daora, mas por ser de origem mineira não dominava tão bem a culinária nordestina. O que ele fez, então? Meteu o loco e vendeu uns rangos ruins? Não! Ele foi até o Centro de Tradições Nordestinas, contratou uma consultoria para as receitas que ele começaria a vender e procurou fazê-las com excelência. Jeová acabou acertando em cheio em uma receita depois da consultoria, e consolidou o prato como especialidade da casa: o famigerado baião de dois.

Incrivelmente tudo ali parece ser leve, incluindo o preço; R$ 38 o pequeno (serve 2 pessoas) e R$ 75 o grande (o mais caro do cardápio, que serve 4 pessoas de boa). Você pode escolher dois acompanhamentos entre filé de frango, pernil assado, carne seca ou carne de sol. Seguindo a especialidade da casa, o baião com as carnes seca e de sol (artesanal) são chave! O prato é acompanhado por uma mandioca perfeita, crocante por fora e molinha por dentro, e os grandes pedaços de queijo derretidos entre o feijão de corda e o arroz te darão um abraço!

Todos os pratos da casa são muito saborosos, e sempre ornam bem com a boa e velha pinga de alambique. Além das pingas, o drinque mais pedido é o Kariri com mel e limão, por R$ 5. A Casa do Norte Nova Mandacaru tem como di ferencial o grande seu Jeová e o melhor baião de dois que você vai comer na vida. A Casa do Norte Nova Mandacaru, sem dúvidas, é dona de um prato firmeza!

Bar do Ari e Miriam

Atualização em junho/2020: Este lugar está fechado temporariamente devido à pandemia de COVID-19.

Desde criança, o alviverde imponente sempre foi minha paixão – e isso não largo de jeito nenhum. Num certo domingo, como torcedor assíduo, decidi ver o jogo fora de casa. Palmeiras e Fluminense, quatro horas da tarde. O local escolhido foi o famoso Bar do Ari e Miriam, um curioso lugar no bairro do Tremembé, Zona Norte de São Paulo.

Antes de tudo, preciso contar o que é o estabelecimento: fundado há 10 anos pelos sócios que dão nome ao boteco, é um ponto de encontro de toda a galera da região da Av. Cel. Sezefredo Fagundes e da Av. Mário Pernambuco. Bem, a pergunta que não quer calar é por que diabos ele se diferencia de qualquer outro “Bar & Lanches” da região? Então, o Ari é palmeirense. A Miriam, corintiana. São casados há 24 anos. Quando precisaram – e quiseram – abrir um negócio próprio, observaram a rivalidade e resolveram abrir um estabelecimento que unisse a Barra Funda com Itaquera. Surgiu assim o único bar de São Paulo que junta alvinegros e alviverdes.

Quando me sentei na mesa do boteco, o Ari Filho logo se apresentou e perguntou o que eu queria. Com uma camisa da Mancha Verde, já pudemos ver que o membro mais novo da família puxou o pai. Pedi um litrão e uma recomendação de rango. A porpeta foi a escolha. Alguns minutos depois, bola rolando! O Felipe, que é o garçom oficial do bar e são-paulino, me traz uma gelada e avisa que o belisco já está chegando.

Quando a porpeta aterrissou na minha mesa, reparei que as mesas eram divididas entre fotos da Gaviões da Fiel e da Mancha Alviverde. Os adornos e penduricalhos em todo o bar eram de ambos os clubes e os uniformes de cada um dos donos era bordado com seu time do coração. O salgado veio num pratinho acompanhado de um vinagrete, com uma deliciosa cebola roxa. Fatiadinho em quatro pedaços, pra dividir com os amigos, a receita da Rosa, pilota da cozinha do bar, tem uma casquinha crocante e de-li-ci-osa, além da carne no meio estar bem rosadinha, estilo “no ponto”, do jeito que eu curto. Se você der uma temperadinha no miolinho da porpeta com o molhinho, vai ficar difícil prestar atenção no jogo.

Enquanto todos estavam de olhos grudados no jogo, comecei a observar as pessoas que ficavam de olhos grudados na TV: crianças, mulheres, adolescentes, velhos: todo tipo de gente estava ali. Gente com camisa do Corinthians, do Santos, do Palmeiras, é claro, e do São Paulo. As mesas iam até a calçada do outro lado da rua e vários pais estavam brincando com seus filhos na rua em que raramente carros passavam – e, se passavam, paravam no bar para ver o jogo ou comer alguma coisa. Uma boa parte da galera mandava pra dentro a porção de frango à passarinho que sai aproximadamente 9 mangos por pessoa e serve até 5 fanáticos por futebol.

Esse clima de convivência e de paz entre as torcidas é na verdade um reflexo de grande parte das famílias paulistas, divididas em tricolores, alviverdes e alvinegros que se amam muito além das rivalidades. E é por isso que o Bar do Ari e Miriam acaba por unir as famílias e se torna esse ambiente tão gostoso para os moradores da Zona Norte.

 

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