Point do Acarajé

“Daria um filme…”

Se você nasceu da ponte pra cá, certamente leu essa frase com a voz do Mano Brown e ‘mil fita’ na mente. E, realmente, poderia até ser um Mano Brown ali, escrevendo sua história, no meio da selva de concreto e aço, marcada por tanta desigualdade. Mas não. Quem manda, desmanda e escreve uma nova história com sabores e delícias diferentes das impostas por aí é a queridíssima Teomila, dona do Point do Acarajé. Mulher e negra é ela quem semeia a única coisa que resiste no meio de todo esse caos: o amor.

O Point fica na Av. Hebe Camargo, na altura do número 6, que fica exatamente de frente para o cruzamento da Rua Herbert Spencer. Cruzamento esse que, curiosamente, representa muito bem a pluralidade dos clientes, moradores e transeuntes da quebrada de Paraisópolis. Da parte direita do cruzamento, só partem carros caros, pilotados por motoristas apressados; e da parte esquerda, carros econômicos andando lentamente, com o som estralando.

Antes vendedora de acarajé na Bahia, Teomila chegou em SP em 2012, mas somente em 2014 conseguiu abrir o Point do Acarajé. No começo, ela ficava em uma esquina ali perto e, depois de investir em suas receitas e até dar miniacarajés de graça, ela expandiu a clientela e a barraca para o novo point.

A expansão tem um motivo evidente: a singularidade da receita do prato principal de Teomila: seu exaltado Acarajé. A cozinheira segue atentamente as fórmulas ancestrais de sua tia, que diz que o prato tem que ser feita de puro feijão fradinho, com a massa preparada na cebola e frita no azeite. Esses passos deixam a massa única; crocante na medida, temperada minuciosamente, e em harmonia substancial com o recheio – que se mistura no céu da boca, e dá a exata sensação de, ao invés de só estar mordendo um pedaço de acarajé, estar vivendo o lado mais belo de toda a Bahia.

De cara, aquela ideia do amor, meio vazia, pode até parecer um papo bem boroca. Mas a real é que o Point do Acarajé, antes de ser o pico do melhor acarajé de São Paulo, é uma referencia cultural para a vida. Isso porque, segundo a própria Teomila, o diferencial desse acarajé, para qualquer outro, é o amor depositado no trabalho que ela faz. E quando o amor é combustível para algo, meus amigos, aí é que ninguém pode brecar.

Novos Veganos

Inaugurada em 26 de agosto de 2016, a hamburgueria Novos Veganos chegou na zona leste de São Paulo para atender uma demanda de veganos-vegetarianos-simpatizantes carente na região. O local fica perto de uma Avenida movimentada e seu entorno é animado e cheio de gente atraída por diversas opções de comida e bebida vendidas na mesma rua.

Trazer essa opção de comida sem crueldade animal para a quebrada se tornou a missão dos proprietários-namorados-veganos jornalistas Natalia Cirillo e João Steves, quando perceberam que não havia algo do tipo na ZL. As opções de vegetarianos que eles conheciam, como consumidores, não eram acessíveis nem em matéria de local, nem de preço. Criativos, batizaram cada lanche com um trocadilho, em menção a algumas personalidades que lutam ou lutaram por causas sociais ou pelo divulgação do vegetarianismo. Como por exemplo, o Eddie Vegger – em homenagem ao cantor vegetariano e líder do Pearl Jam, Eddie Vedder.

Para a criação das receitas e opções dos lanches, eles reuniram um grupo de, nas palavras do João, “monstros da culinária”. Cada um ficou encarregado de criar um sabor de hambúrguer, de pão ou queijo (lembrando que eles trabalham com opções de queijos vegetais). Todos estes “monstros sagrados” são pequenas empresas, como o Morrones, um food truck de comida vegana a preços acessíveis.

O preparo dos pedidos é revezado entre João e Natália, alternando os dias. Um dos mais pedidos é o Grande Vegano, monstro com três hambúrgueres de quinoa com soja, catupisalsa, vegarela, catupiveg, rúcula, alface, tomate, cebola roxa, bacon vegetal tudo servido no pão de cebola. Outra opção um pouco menor é o Bnegrão de Bico. De acompanhamento, você encontra no Novos Veganos batata frita tradicional e uma batata frita da casa, com
queijo e bacon de soja, e também as onion rings – cebolas empanadas e fritas. O combo vem com refrigerante e quem quiser ficar alegrinho pode experimentar as opções de cervejas artesanais.

O ambiente é jovem e ativista, com público composto de grupos de amigos ou famílias e casais preocupados com questões ambientais, sociais e políticas. O clima da casa é descontraído, com música alta, de preferência rock. O atendimento e serviço ainda está em processo de adaptação, por conta do pouco tempo de funcionamento, mas os dois sócios-namorados, João e a Natallia, são atenciosos e comunicativos. Como João me disse, “todas as pessoas envolvidas no projeto Novos Veganos, não querem apenas vender lanches, mas fazer do mundo um lugar melhor, sem crueldade ao animais. Fazer do veganismo algo acessível a mais gente”.

 

Como chegar

Contato
Tel: 
Facebook

Horário de funcionamento

Destaque 

Preço médio 
R$30

Formas de pagamento 
Dinheiro, cartões de débito, crédito e VR

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Flor de Liz

“O melhor vegetariano de Osasco”, assim me foi apresentado o Restaurante Vegetariano Flor de Liz, localizado no centro comercial da cidade da região oeste da Grande São Paulo. Com tamanha propaganda, decidi que o vegeta de Oz tinha que entrar no nosso guia gastronômico das quebradas e fui conferir a qualidade do seu rango. Colando no local, no entorno da Praça Duque de Caxias, pouco depois das ruas do centro comercial, damos de cara com uma área com mesas ao ar livre, vista para a praça, muitas árvores, pássaros, crianças e alguns senhores(as) mais “experientes”. O restaurante é arejado e espaçoso, tem algumas paredes de madeira e é bem amplo. O ambiente é tranquilo e silencioso, com uma música baixa, quase imperceptível.

E como a parada começou? Lizandra Meira, vegetariana, tinha dificuldade de encontrar bons picos para comer, em Osasco, com preço acessível e que não incluíssem crueldade animal em suas receitas. Para encontrar comida sem carne, fora de casa, ela tinha, invariavelmente, que se deslocar até São Paulo. Se Liz não queria mais ir até a montanha, resolveu fazer a montanha vir até Liz e montou, há 2 anos e 9 meses, seu próprio restaurante, o Flor de Liz, para atender a demanda vegetariana e vegana da cidade.

O esquema no Flor de Liz é o “coma à vontade por valor fixo”. Ele oferece uma variedade de opções em seu serviço, como arroz integral, feijoada vegana, proteína de soja, diversos vegetais, legumes, saladas, pizza vegana e torta vegana. Para sobremesa as opções incluem: bolos, doces e canjica. Faz parte do pacote, ainda, opções de suco que variam durante a semana.

Aos finais de semana o preço é um pouco mais salgado, mas a variedade aumenta: yakisoba, tempurá de legumes, legumes salteados, festival de salgados e kibe de forno são algumas das opções que o consumidor encontra. A comida é fresca, levemente temperada e saborosa. Pra quem come pouco ou quer gastar menos, além do self-service, é possível fazer marmitex.

O Flor de Liz é uma opção para uma refeição completa, agradável, acessível para os vegetarianos/veganos que moram – ou estão de rolê – por Oz.

Mary Hamburgueria

Um dos mais novos empreendimentos de sucesso em Diadema, muito bem estruturado, e comandado por mulheres inteligentíssimas. A Mary Hamburgueria é um estabelecimento relativamente novo e carrega consigo a beleza da trajetória de uma mulher guerreira e criativa. A história de Maristela das Neves Reis, também conhecida como Mary, foi enraizada em muito trabalho, suor e dedicação que nem sempre foram investidos no próprio sonho. Moradora do Canhema há 23 anos, labutou muitos anos em trabalhos formais, passando por empresas e cozinhas. Até que, em 2012, resolveu quebrar o ciclo de uma história repetitiva, e quis escrever um novo capítulo no livro da vida, dando início a uma das histórias de sucesso mais marcantes do Jd. Canhema.

Desde sempre, foi a única proprietária, enfrentando diversos desafios, desde descrenças até dificuldades para administrar tamanho sucesso. Felizmente, pôde contar a ajuda da filha, Mayara, principalmente na reinvenção do seu modo de operação e criação de novas receitas além dos lanches já consagrados. Lanches como “Especialidade Mary” (pão baguete, peito de peru, pepperoni, presunto, mussarela, azeitona, pimentão, cebola, tomate, alface maionese) e o “Triplo Picanha” (pão de 120g, 3 hambúrgueres de picanha de 90g, queijo prato, onion rings, bacon, salada, molho especial e maionese) foram unanimidade desde a sua criação. O que dá um toque especial são os molhos de acompanhamento, especialmente pensados para ornar com os sabores que essas misturam proporcionam.

Os preços do cardápio variam entre R$ 4,50 (X-Burguer Pequeno,) a R$ 20 (Beirute). O lanche mais pedido, um dos carros chefe da casa, é o “Mr. Bacon” (pão de 120g, 3 hambúrgueres de picanha de 90g, bacon, cheddar, mussarela, presunto, batata palha, salada de alface e maionese). Dá pra dividir entre duas pessoas fácil e, se bobear, até entre três, dadas as proporções. Nem cabe na mão direito! Esse maravilhoso lanche que mistura de tudo que a gente procura em uma mordida custa só R$ 17.

Definitivamente, Mary Hamburgueria é uma boa pedida para quem procura se alimentar bem, e não gastar o olho da cara. A melhor parte disso tudo é que toda as informações bonitas citadas acima ficam pertinho de gente real, que trabalha com sorriso no rosto, vive a vida enfrentando as dificuldades, e não precisa de nenhum selo gourmet para ser autêntica. É de ‘noiz pra noiz’, gente humilde – os pobre ‘loko’. Uma hamburgueria em que você se sente bem e vai querer voltar depois.

Cantinho do Bolo Caseiro

A movimentada região central de Itaquera, bairro da zona leste de São Paulo, tem muitas opções para quem precisa fazer um lanche rápido, mas nada parecido com o que encontramos no Cantinho do Bolo Caseiro. Com recentes 3 anos de existência, o lugar é um diferencial no bairro, com preços acessíveis e sabores de qualidade – uma boa opção de café ou chá da tarde para quem estiver passando pela região ou para quem precisa de um espaço confortável para trabalhar, animado por doses de açúcar e cafeína.

Renata, fundadora do Cantinho do Bolo Caseiro, era fisioterapeuta, mas resolveu mudar de ramo, usando como trunfo algumas receitas de família. Começou preparando, ela mesma, os bolos que vendia e, de um ano pra cá, transformou o lugar numa confeitaria e cafeteria. Hoje, Renata não prepara mais as delícias da casa, mas segue administrando o lugar e vigiando tudo de perto, desde o preparo até o atendimento. As receitas dos bolos, em sua maioria, são de família.

Os destaques são o “Bolo cremoso de milho” e o “Bolo de festa de morango” – que podem ser encomendados inteiros ou comprados em pedaços no salão da loja. O bolo – molhado, cremoso, macio, suavemente doce, com morangos frescos – é o mais pedido para encomendas. Na casa, também são vendidos outros sabores de bolo caseiro como churros, abacaxi e nozes. Eles podem ser levados na hora ou encomendados e entregues até no mesmo dia, dependendo da disponibilidade. Além disso, o local conta com uma lista de bebidas quentes, como café expresso, capuccino e chocolate. Para quem está com fome e precisa de algo salgado, existem as opções de sopa, em determinados horários, e também tortas. Para encomendas de festas, rola a opção de bolo de pasta americana, tudo feito por uma equipe de confeiteiros e ajudantes, ali mesmo – com exceção dos salgados para a festa, que são terceirizados.

O local é arejado, claro e tranquilo. Sua música ambiente quase imperceptível e a disponibilidade de wi-fi livre e tomadas no canto das mesas atrai quem está trabalhando ou em reunião, mas também podem ser encontrados, neste cantinho de Itaquera, casais, grupos de amigos e famílias inteiras.

A decoração é outro diferencial do espaço idealizado por Renata. Existe até um espaço reservado para apresentação e venda de artesanatos como, panos de mesa decorativos e bonecos típicos da cultura mineira. Renata me explica que, pelo menos uma vez ao ano, ela vai até o sul de Minas Gerais para conhecer, conversar e entrar nos ateliês de artesãos locais, de onde traz os produtos para vender, além de usar alguns itens na decoração do salão, trazendo um toque ainda mais caseiro para o Cantinho.

Publicado em janeiro/2017. Estamos trabalhando para atualizar as informações do local 🙂

(FECHADO) Cozinha Libertária

Atravessei a cidade de SP rumo a São Miguel Paulista e, no meio das baldeações, uma pequena ansiedade me acompanhava. Não é todo dia que se conhece de perto o trampo dos parça de luta, não é mesmo? Chegando à estação Brás, entrei num trem velho e sem ar condicionado, rumo à estação Calmon Viana, e percebi o quão nítido é como a região determina a qualidade do transporte. Quanto mais quebrada, mais descaso. E a ansiedade, que me acompanhava desde a baldeação na Sé, se tornava mais presente e intensa.

Chegando na estação São Miguel, Ulisses, um dos cozinheiros libertários, me buscou na estação para irmos onde tudo acontece. No zigue-zague das ruas, sobe e desce das ladeiras, chegamos em uma ruazinha com estêncils estampados nos muros, que era o sinal de que havíamos chegado onde nasce e é produzida comida revolucionária.

A Cozinha Libertária surgiu na ocupação “Casa de Permacultura Maria do Espírito Santo”, em janeiro de 2015, que tinha como proposta disseminar o conheci mento de permacultura na quebrada. A ocupa ficava na região da Penha, mas infelizmente não foi pra frente. Entretanto, num ato de resistência, a cozinha ressurgiu como alternativa de pagar as contas da casa e fornecer uma comida vegana, saudável e de qualidade em São Miguel Paulista para geral da quebrada e para os trabalhadores que frequentam a região. A Cozinha trampa num esquema de delivery, então não é possível ir lá, sentar e prestigiar a comida, mas rola colar, trocar uma ideia firmeza com seus produtores e depois levar o prato quentinho pra comer no conforto de casa ou pedir que entreguem na sua goma – um dos bicicleteiros leva a comida pra você e sem poluir a cidade.

Em janeiro de 2016, iniciada a época das jacas, o time de cozinheiros libertários formado por Oneide (mãe de Ulisses), Renato e Vinicius iniciou a produção de coxinhas veganas pra vender em eventos no centro e na periferia pra completar a renda da casa. Com jacas orgânicas colhidas nos arredores da vizinhança, as coxinhas têm um gosto sem igual. O sabor da jaca fresca sempre bem acentuado, coberta por uma massa bastante crocante, me faz lembrar que a anarquia tem gosto bom.

Quando as jacas estão fora de época, os guerrilheiros gastronômicos investem no PF, que é temperado com ingredientes como sal do himalaia, chia e amaranto e custa R$ 10. Rola também o prato do dia, a consultar na hora. Um dos favoritos é um hambúrguer coberto por queijos caseiros da Dona Oneide, que custa R$ 6, e mostra que uma comida de qualidade e saudável, pode ser, sim, barata e acessível para o morador da perifa.

 

Trailer Yakissoba

Um carrinho de comida que vira restaurante não é uma história difícil de se encontrar na quebrada, é o seu Zé que vende churros e abre uma “churreria” ou a dona Ana que faz aquela tapioca, faz sucesso e expande o negócio. A história se repete com protagonistas e sabores diferentes, mas infelizmente não na quantidade de vezes que gostaríamos, seja por motivos que já sabemos que envolvem falta de incentivo e verba para pequenos empreendedores na periferia, ou pelo simples fato de que muitos preferem morrer antes de ver a quebrada vencer.

Mas rolou no Canindé: acompanhada de um amigo, saí do extremo sul rumo ao metrô Armênia e, depois de caminhar pelos labirintos próximos a Av. do Estado, encontramos o restaurante tranquilo, e com azulejos brilhando de tão limpos. Seu Antônio e Dona Cleonice, que são os protagonistas da história do trailer Yakissoba, um simples carrinho saído da Av. Rio Bonito que se transformou num point com clima tranquilo e Itubaína barata, são reservados e até um pouco distantes.

Ao chegarmos, o atendente Bruno nos recepcionou com carisma e teve paciência com a nossa indecisão em relação ao tamanho do prato. Em uma segunda ida ao restaurante, acompanhada por outra amiga, ele a presenteou com um doce Dedo de Moça e um sorriso no rosto. Mas de volta à primeira visita, com o yakissoba de 1kg nas mãos, custando R$22 realidades e podendo alimentar aproximadamente 4 pessoas, sentamos ali mesmo e mandamos ver. Comemos muito bem e obviamente não conseguimos terminar tudo. Pedimos para embrulhar pra viagem e meu amigo levou para casa, jantou e almoçou no dia seguinte.

Feito na hora, o yakissoba vegetariano tem legumes brilhantes a dar de sobra e com aspecto de terem saído direto da feira e caído no meu prato, banhados com caldo suficiente para cobrir e temperar todos seus componentes. Falando em tempero, uma variedade considerável de molhos fica a disposição pra dar aquela tunada no prato, com molhos como o de alho e gergelim, mas com medo de estragar o que estava bão demais, decidimos deixar eles de lado. Os carnívoros não ficam de fora! A opção “normal” de yakissoba conta com carne ou frango, ou os dois, se você preferir. E também tem o chiquérrimo yakissoba de camarão, que é um dos sucessos da casa.

O rolê valeu a pena: das pistas da Av. Rio Bonito para as mesas quadradas do Canindé, a quebrada manda a ideia de que comida é resistência porque também diz sobre sobrevivência.

 

(FECHADO) Baba Hassum

Um cliente chega invadindo a cozinha e pede por 5 esfirras. Sua mãe corre desesperada tentando impedir o filho, um garoto de 5 anos, de se jogar nos braços do simpático Hussein que se abaixa e recebe o garoto num abraço de urso.

Hussein, que aprendeu as artimanhas da culinária em solo libanês e na não concluída faculdade de gastronomia, é o cozinheiro e faz-tudo do nosso achado. Perdido na rua Rio Grande do Sul, o Baba Hassum é um estabelecimento pequeno e bem aconchegante, com azulejos brancos nas paredes que registram um antigo desejo de ser um açougue. A decoração delicada e simples foi feita por sua esposa brasileira Marcela. Ela conta que não é raro ver clientes sorridentes servindo uns aos outros, cobrando e ajudando o marido, que cria um clima família com sua energia contagiante e animada.

Após ter passado por lugares como os Emirados Árabes Unidos, o Kuwait, e claro, o famigerado centro de São Paulo, Hussein se encontra em São Caetano do Sul, no corre de uma vida melhor, acompanhado por Marcela, seu amor, que está ao seu lado há quase 4 anos. Cerca de um ano atrás, a brasileira o ajudou a abrir o pico no solo do ABC (DMRR) Paulista. Com um sotaque que não esconde suas raízes, Hussein fala entusiasmado sobre as comidas que vende, conhecimento que é herança de família: pão libanês, bolinho de carne moída ao ponto (também conhecida como kafta), rodelas de tomate, alface, homus (uma pasta de grão de bico e tahine), uma pasta de gergelim – tudo feito pelas mãos do dono.

A carne da kafta, assim como todas as carnes presentes no restaurante, é Halal, o que significa que o boi foi abatido de acordo com as normas muçulmanas, com respeito, e de cabeça pra baixo fazendo com que todo o sangue escorra e que ele morra com menos dor, tornando sua carne mais saborosa e livre de impurezas. À primeira dentada, a kafta é churrasco de gente diferenciada, porque o gostinho de alho permanece, mas, ao invés de vinagrete, vem o gostinho do tahine, que não é amargo, nem sem sal; é algo que fica ali, num meio termo e aliado ao homus toma um rumo macio e úmido lembrando um patê. O curioso é o acompanhamento. Além de mais uma porção de pastas árabes, o rango vem traz a miscigenação com o mundo ocidental em forma de batatas fritas; tanto dentro do lanche, como na bandeja ao lado do combo. Aliás, o combo, que é o item mais caro, custa R$ 28, alimenta duas pessoas e é o suficiente para só querer comer depois deste banquete um halawi (“raleu”) – doce árabe de consistência dura, mas que aparentemente é mole. A contradição é o tom dessa história.

 

(FECHADO) Casa da Lagartixa Preta “Malagueña Salerosa”

A Casa da Lagartixa Preta era como um esconderijo para mim. Uma extensão da minha casa que só eu sabia como chegar; um bauzinho cheio de conhecimentos, vivências e gente gostosa pra se confiar e transbordar o que era mais íntimo. Ainda é um espaço de desconstrução; foi lá que deixei toda a roupa velha que me foi vestida pela sociedade, foi lá que me despi de máscaras, apresentei meus monstros, minhas angústias e minhas belezas, e permaneci assim. Depois de ter conhecido esse lugar, passei a me vestir de algo mais sincero, mais orgânico, mais eu e ainda permaneço assim.

A Casa da Lagartixa Preta “Malagueña Salerosa” é laboratório de vivências e práticas libertárias que fica no meio da babilônia santo andreense e que resiste há exatos 12 anos, onde acontece, também, a noite de pizzas veganas mais roots e barata da região. A casa carrega esse nome pela quantidade de lagartixas pretas que habitam o local, e o “Malaguenã Salerosa” foi uma homenagem ao vizinho Seu João que cantava essa música todas as manhãs.

Gerida pelo coletivo anarquista Ativismo ABC, a Casa da Lagartixa Preta não é um restaurante e, portanto, não tem funcionários. As pizzadas acontecem com a colaboração de todos e têm como objetivo pagar as contas da casa (como aluguel, luz, água, etc). O pessoal da casa cobra apenas R$ 18 por pizza revolucionária à vontade. O espaço é muito aconchegante e mesmo nos dias de pizzada mais lotados todo mundo fica bem confortável.

O rolê oferece atividades culturais, políticas e outros eventos bacanudos durante todo o mês, futebol de duas bolas (onde o objetivo é bugar geral), oficinas pro conserto de bikes pras minas, grupos de estudos, debates y otras cositas más estão inclusos.

O espaço se encontra na rua Alcides de Queirós, uma ruazinha tranquilex que atravessa o bairro Casa Branca e que tem uma vizinhança tranquila e amistosa. Pra chegar na casa, basta seguir as pixações anarcas da Av. Arthur de Queirós. Ao chegar na rua, não é muito difícil encontrar a casa, que tem muros estampados com frases e símbolos de luta e resistência.

 

Dr. Naturalle

O setor de restaurantes vegetarianos vem crescendo na cidade de São Paulo. Segundo uma pesquisa do IBOPE, de 2012, cerca de 792.120 de paulistanos se dizem vegetarianos. Mas, apesar disso, poucas são as opções nas periferias da cidade. Por isso a procura pelo Dr. Naturalle é grande. Ele fica na Rua Agenor de Barros, na Vila Ponte Rasa, Zona Leste. O pico, que antes dava lugar a uma loja de produtos naturais, hoje também se tornou um restaurante vegetariano.

Aberto em julho de 2015, o Dr. Naturalle atende, principalmente, os trabalhadores da região – por estar localizado em uma área comercial da Vila Ponte Rasa. Professores de escolas próximas costumam comer por lá, mas para ganhar tempo, optam pela marmita. “Pedem tanta marmitex que quase não damos conta.”, conta Gabriela, 27 anos, filha dos donos, que é vegetariana desde que nasceu. Hoje Gabriela trabalha na cozinha do restaurante dos pais e lembra de quando a mãe Marilene, também vegetariana, a levava para comer em lugares muito distantes – por não terem essa opção perto de onde moram, na Patriarca. Ela conta que às vezes iam em restaurantes não focados no vegetarianismo e pediam algo sem carne: “Daí a atendente dizia ‘mas não é carne; é só presunto, é só frango, é só patê…’, o que indica que muitas vezes as pessoas não tem conhecimento sobre o vegetarianismo”.

Abner, marido de Marilene, e também dono do restaurante, não é vegetariano mas admira o movimento e considera importante ter pessoas vegetarianas no comando do fogão diariamente. “Por exemplo, temos a Jô, que também é vegetariana e trabalha com a Gabriela na cozinha. Já a Simone, de 32 anos, é atendente e também é vegetariana”” explica. Para Simone, que mora em Guainases, a existência de restaurante vegetariano na quebrada, aproxima as pessoas do movimento, que ainda é muito desconhecido por lá – e também no bairro onde mora.

A maioria de funcionários da loja não é vegetariana, mas a Gabriela disse que como eles comem lá sempre, acabaram se atentando mais para a alimentação saudável. “Eles curtem o movimento e isso acaba atingindo a vida pessoal deles também”, comemora.

Dr. Naturalle conta com cardápios que variam conforme os dias da semana e você pode comer a vontade por R$ 14,90 nas segundas-feiras. Nos demais dias, o valor é R$ 19,90. O destaque é a lasanha de berinjela que, segundo a Gabriela, é o que mais sai e o que mais atrai a curiosidade da galera, juntamente com os refogados de legumes.

 

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