Maia Salgadinhos

Quem entra, num dia da semana qualquer, normalmente no horário de saída das escolas da região, entre 12:20h e 13:00h, na primeira quadra do Maia, Vila Iolanda II, vê uma aglomeração de jovens e adultos, em uma rua estreita e pouco movimentada. Se a pessoa segue se aproximando, consegue ouvir os gritos famintos de: “Ô, moçaaaaaa!”, jeito como a galera costuma chamar a Ana Paula, dona do estabelecimento. Com suas senhas na mão, todo aquele povo aguarda ansiosamente o momento em que a “moça” irá trazer seus salgados e churros quentinhos e recém-fritos.

A primeira quadra do Maia, antes era conhecido por um antigo e já fechado estabelecimento, a Tia Carmem da Fogaça, e hoje carrega o peso de ter outro cantinho popular entre os moradores: O Maia Salgadinhos. “Agora vem gente de escola, professora, diretora, vem gente até de Suzano, de Mogi, só pra comprar aqui. Você tem noção disso?”, se espanta Ana Paula sobre a fama de seu PRÓPRIO estabelecimento. A Dona Ana Paula, de 55 anos, teve que deixar seu apartamento e ir para a 1ª quadra do Maia vender seus famosos mini-salgados, há 3 anos. “Ficou pequeno pra tanta demanda!”, conta.

A fama de seus quitutes começou quando o seu filho, Rai Eduardo, na época com 9 anos, saiu de casa com um saquinho de salgados, que seriam servidos na festa de aniversário dele, que não aconteceu por dificuldade financeiras. Ele dividiu os salgados com os amigos e eles ficaram maravilhados com a qualidade e pediram para a Ana Paula começar a vender. Quando esgotaram todos os salgados que eles tinham na geladeira, Ana Paula começou a fazer mais, tudo manualmente, e sem ter noção do sucesso e do impacto que aquele simples ato teria em sua vida. Hoje a cozinheira mora em um casa alugada e o Maia Salgadinhos ocupa o primeiro andar inteiro da casa. Lá, ela possui 5 máquinas que empanam os alimentos, fazem a massa e modelam até 2 mil salgadinhos por hora. Ela trabalha com duas funcionárias fixas: sua neta e sua filha.

Os mais vendidos são as coxinhas, que custam R$1,00 a quinzena, e os churros, com os sabores de doce de leite, chocolate e goiabada, que são vendidos por R$2,00 a quinzena. “Não é qualquer pessoa que é capacitada para isso,
não, porque muita gente fala assim: eu vou comprar uma máquina dessa e vender também’. Mas se for assim achando que já ganhou, vai quebrar a cara. Você tem que ter perseverança, pique e acreditar. Tem que ter aquilo no sangue”, diz Ana Paula. Ela até deixa dicas para quem quer começar nesse ramo: “Muita gente faz salgados, né? Você tem que ter o diferencial, ir atrás de novos sabores e estar sempre aberta para mudar”.

Publicado em janeiro/2017. Estamos trabalhando para atualizar as informações do local 🙂

(FECHADO) Rei da Batata

Orégano, cheddar, bacon, calabresa, mostarda, ketchup, filé de frango, barbecue, queijo parmesão, Catupiry, churrasco, molho da casa e, como acompanhamento pra tudo isso, funk. É assim que os frequentadores do Rei da Batata podem fazer seus pedidos: combinando um, dois, três ou todos os ingredientes. Se você for vegetariano, pode pedir uma porção com: orégano, cheddar, mostarda, ketchup, barbecue, queijo parmesão, Catupiry e molho da casa. Caso seja vegano, pode tirar os queijos e ainda assim se deliciar com o mar de tempero e molhos.

E se você for com a galera e quiser compartilhar um prato, vale provar a super batata com azeitona, ovo de codorna e camarão. Ela é gigante e serve bem 10 pessoas. Vem inclusive numa caixa de pizza – pra vocês terem uma ideia do tamanha da parada.

Sempre que você for comer por ali, vai notar a presença de um… Menino. O nome dele é Lucas Alves – mas não necessariamente você vai notá-lo, porque ele é um jovem de 18 anos, muito tímido, quase não fala. Anota os pedidos dos clientes com um sorriso leve no rosto e logo vai conversar com o Rato, que é o cara que cuida da chapa. Lucas é, na verdade, o dono do estabelecimento. Foi ele quem, há um ano, pra suprir necessidades financeiras da família, decidiu abrir, no seu bairro, o Jardim Marilu, na Zona Leste de São Paulo, o Rei da Batata. Hoje, o lugar se tornou popular entre os moradores. O estabelecimento fica na antiga garagem da avó de Lucas, dona Albertina, de 60 anos. O lugar foi criado pelo xovem, mas hoje é administrado pela família quase toda. Na garagem do Rei, todo mundo põe a mão na massa. A mãe, a tia e o Lucas fazem de tudo, menos o Rato – o Rato é só o cara da chapa.

Os jovens são clientes fieis. Tem a galera da escola, César Donato Calabrez, a 2 minutos dali, que estuda no período noturno, e que sai 23h e vai direto para o Rei, especialmente às sextas-feiras. Tem também uma turma que vai sempre no final de semana, já que ao lado do Rei da Batata existe o Espeto da Vila, uma tabacaria que complementa o rolê.

O Rei da Batata, com seu cardápio lotado de opções e com um ambiente simples, mudou a cara do quarteirão da Praça William Alexandro Dias Vaz, que é apelidada de rua de lazer pelos próprios moradores. Ao lado do estabelecimento, por exemplo, tem uma praça que antes ficava vazia e hoje, de quarta a sexta, das 17:00h às 01:00h, horário e dias de funcionamento do Rei da Batata, é possível ver famílias reunidas e até crianças usufruindo do parquinho. “Eu gosto desse trabalho porque a gente reúne diversas pessoas de estilos diferentes pra não só comerem, como estarem juntas”, orgulha-se o chapeiro Rato, de 33 anos, que é primo do Lucas.

As batatas simples custam entre R$5,00 e R$25,00 e podem vir acompanhadas de bacon, calabresa e qualquer um dos 13 acompanhamentos listados no inicio do texto. Já as batatas para compartilhar com a galera, custam de R$35,00 e R$50,00 e podem vir com ovo de codorna e camarão. Além das batatas, rolam também lanches com hambúrguer artesanal. Você tem a opção só lanche ou combo, que vem com a batata e refri junto.

Maria Bonita

Parque do Rodeio, Cohab Inácio Monteiro, Zona leste de São Paulo.

– Oi, moço, onde tu comprou essa marmita aí?
– Comprei no restaurante seguindo a rua aqui, aquela casa do norte

Diálogo direto e reto. Mas foi assim que eu descobri a Casa do Norte Maria Bonita.

Ninguém nota um movimento muito significativo quando passa na Rua Cachoeira Morena de manhã ou de noite, mas no horário de almoço, entre 12h e 14h, não tem jeito: é notável o constante fluxo de pessoas. O pessoal disputa avidamente uma das oito mesas – ou uma marmita – na Casa do Norte Maria Bonita. A dona do local não se chama Maria, se chama Areta Camargo, tem 31 anos, e também mora no bairro onde se encontra o restaurante, Cohab Inácio Monteiro, um lugarzinho entre Cidade Tiradentes e Guaianases. Areta abriu o, até então, Bar Maria Bonita, em 9 de julho de 2008, junto com seu marido Michel Paulino, de 34 anos. Era pra ser só um bar, mas aí… “Os clientes começaram a pedir comida e, dois meses depois, nós começamos a vender os pratos do norte mais famosos: arrumadinho e baião de dois.”, conta.

O prato mais pedido é o que dá nome ao restaurante, o Maria Bonita, porque foi elaborado pela galera que trampa ali. Ele inclui arroz com jabá, feijão fradinho, costela frita, carne seca desfiada, queijo coalho e vinagrete e custa R$17,00, a menor porção, e R$32,00, a maior. A coisa é bonita mesmo e não tem miséria. Mesmo a porção pequena, vem um montão.

Se você estiver com menos fome – porque pra comer no Maria Bonita tem mesmo que ter espaço no estômago – rola uma feijoada mais leve do que a tradicional, a feijoada light, que vem sem pé e orelha, e custa R$25,00, a porção pequena, e R$36,00, a grande. Os pratos mais baratos têm preços que variam de R$12,00 até R$26,00, e tem desde macarrão até picadinho. Os mais caros têm preços que variam de R$18,00 até R$36,00, e têm desde as duas opções de feijoada – a tradicional e a light – até parmegiana de filé de frango ou de bife. Comida boa e com sustância, o Maria Bonita acabou se tornando uma referência para as famílias do bairro. Também sai muita marmita para os professores e funcionários da escola que fica no final da rua, E.E. Cohab Inácio Monteiro. É ao lado dessa escola, que fica o Parque do Rodeio, onde os jovens e as famílias da redondeza se encontram, fazem festas nos quiosques, andam
de bicicleta, skate e patins – e de quebra ainda rola aquele futebol entre as minas e os manos.

 

Sorveteria Sabrina

Atualização em junho/2020: Este lugar está fechado temporariamente devido à pandemia de COVID-19.

“Flocos, napolitano, morango e coco são os sabores tradicionais que mais saem na Sorveteria Sabrina”, diz Sérgio, dono e responsável pelas mudanças que rolaram no estabelecimento, em 2005. Mas são as cores, que parecem ainda mais vivas através dos vidros brilhantes dos freezers, e os sabores inusitados que mais chamam a atenção de quem passa na Rua Adolfo Campos de Araújo, saindo da estação de metrô Vila das Belezas – entre Campo Limpo e Vila Andrade.

“Parece que estamos comendo a fruta fresca do pé”, conta um cliente sobre o sorvete de jaca. Dá pra gastar horas se aventurando entre os 36 sabores inventados na fábrica, em Embu das Artes, onde uma consultoria foi contratada só pra inventar e testar novos sabores – que são distribuídos nas filiais da marca. A dica, pra quem vai pela primeira vez e quer ousar no pedido, é experimentar os lançamentos recentes, como kiwi, mousse de uva, tapioca, caipirinha, blue ice, chiclete e Sonho de Valsa. Os dois últimos são sucesso entre os mais jovens – um pelas cores e gosto característico de “chiclete da Barbie”, daqueles que vinham com adesivo ou tatuagem, e o outro pelos pedaços suculentos de bombom.

Apesar de toda inovação, o ambiente tem cara da típica sorveteria de bairro: paredes em amarelo vibrante, pôsteres de milkshake e banana split espalhados e um self-service a R$2,99 por 100 gramas – que servem mais ou menos duas bolas. E como não podia faltar, oferece de acompanhamento farofinha de castanha de caju, granulado, calda quente de chocolate e as tradicionais balinhas Fini.

Peça o sorvete na cestinha para comê-la ao final, enquanto observa o movimento na rua, as crianças de uniforme saindo da escola, com o sertanejo universitário e o pagode como trilhas sonoras. Dá até pra voltar no tempo.

Tapiocaria Paladares do Sertão

Atualização em junho/2020: Este lugar está fechado temporariamente devido à pandemia de COVID-19.

O encontro da Paraíba com a Vila Flórida se deu graças aos irmãos Alves Nogueira, que há 3 anos abriram a Tapiocaria Paladares do Sertão, para compartilhar com a vizinhança a receita mais preciosa da família: a tapioca. A Tapiocaria fica numa rua majoritariamente residencial de Guarulhos, mas o sucesso dos produtos, que não se restringem aos 23 sabores de tapiocas, foi tanto que os empreendedores já pensam em ampliar o espaço.

Além das tapiocas, você pode consumir pratos típicos como o Rubacão (baião de dois), pães, bolos e biscoitos caseiros, cocadas, molhos exclusivos da tapiocaria, como o chutney de abacaxi com pimenta, entre outras especialidades da casa.

Para incorporar ao cardápio o clima arretado de Cidinha e Antônio, todas as receitas são nomeadas por expressões paraibanas que causam um verdadeiro tirinete na cuca do paulistano.

Aprumadas, as massas saem da simplicidade branca da goma de mandioca e ganham cores e sabores através da hidratação com diferentes ingredientes. A técnica tradicional de hidratar a goma com água vem do estado de origem, Paraíba e, aliada a ela, Antônio, que se formou em Gastronomia, agrega elementos da culinária contemporânea, hidratando o subproduto da mandioca com sucos de cenoura, beterraba, couve, limão, além de vinho e café, o que resulta num magote de tapiocas únicas.

Na Tapiocaria Paladares do Sertão é impossível se manter sibita. O bucho tem cores que saltam os zói e cheiros que prendem as venta. Ah, a Sibita Baleada, o sabor mais barato do cardápio (R$5) é perfeito para acompanhar um café. Leva apenas manteiga de garrafa no recheio. É simples e bela, como o cordel e toda a cultura nordestina. O sabor preferido da Cidinha, que prepara tudo com uma alegria tão grande, quanto o tamanho das tapiocas, é o Calango do Nordeste (R$15). Peito de peru, queijo branco, cream cheese, rúcula e pedaços de tomate seco te levam a uma experiência saborosa, de gostos opostos que se complementam, como a cremosidade leve do cream cheese e o sabor acentuado do tomate seco.

Tem também a Cangaceiro, que é uma refeição inteira num prato com tapioca hidratada por cenoura e recheada com carne seca, catupiry, vinagrete e queijo coalho. Ao terminar esse prato, que dividi com outro repórter da Énois, a sensação foi a mesma que eu sinto ao lavar os pratos do almoço do primeiro dia de ano: “Depois dessa, vou deitar e rolar”. (Mas calma, nem toda tapioca vai te engordar loucamente. Na verdade, o que se sabe é que a tapioca é mais light que um pão, por exemplo, pois não tem glúten e não prejudica o andamento de metabolismos mais lentos). Para acompanhar a tapioca Cangaceiro você pode pedir o guaraná Jesus – um refrigerante típico do Maranhão, cor de rosa e de sabor achicletado, com toques de cravo e canela.

Estou para ver tapiocas mais saborosas, criativas e bem-servidas em São Paulo!

 

JLV Doces e Salgados

Pertão do Terminal de Ônibus do Campo Limpo, bem próximo do Projeto Arrastão e de frente para a Praça do Campo Limpo, é onde você pode comer ou encomendar os salgados mais saborosos de todos esse multiverso. Mais precisamente na Rua Joviano Pacheco de Aguirre, 235, a JLV Doces e Salgados se reinventa há 14 anos. Hoje, mesmo ali no meio de tanta informação e corre-corre, a pequena lanchonete sem muito destaque na rua surpreende pelo número de clientes.

Frequentada por pessoas das mais diversas, a JLV é um dos patrimônios históricos da quebrada. O ambiente pequeno da lanchonete já acolheu gerações e gerações de moradores da região. Exatamente por isso, crianças, adolescentes, adultos e idosos se relacionam ali, sempre com um sorriso no rosto.

O casal Valdemir e Luci, fundadores do lugar, trabalhou durante muitos anos em um buffet em Moema – buffet este que distribuía salgados para praticamente toda a grande São Paulo. Aprenderam as receitas da massa, dos temperos e principalmente como não ser generosos nos recheios, traço tipico dos pratos NÃO firmeza. Em pouco tempo a ideia de empreender foi tirada da gaveta e colocaram a mão na massa, lembrando da generosidade que faltava no antigo trampo. Na troca de ideia com a clientela e com o seu Valdemir, descobrimos que a história dos salgados, foi consolidada unanimemente pela mistura da massa leve e crocante, com a grande quantidade de recheio, forte e suculento. Todos custam a incrível e talvez mais atraente fortuna de R$3.

A especialidade da casa e o que de fato sai mais é a esfirra de carne. A esfirra é feita uma a uma, de maneira totalmente artesanal, e é extremamente importante que ao assar, a massa esteja sempre fofinha por dentro e crocante por fora. O melhor do recheio é que o tomate é colocado em excesso. Mas excessivamente com perfeição, porque dá um aspecto de frescor naquele montão de recheio, que faz da mistura, uma leveza divina. O salgado é tão bom, que botar ketchup ali seria heresia.

Na variedade do cardápio, além dos salgados você encontra bolo de brigadeiro, bolo trufado, torta de maracujá, bomba de chocolate, suco de goiaba, e outros iguarias. O produto mais barato são os sucos naturais, que custam R$ 2 cada garrafa de 200ml, e o produto mais caro é o quilo do bolo trufado, que custa R$47. Agora, imagina… Se o produto mais caro custa R$ 4,70/100g, o quanto você não pode comer com vintão? Se você quer ganhar uns quilinhos, de sorrisos e de histórias, sem dúvida alguma a lanchonete JLV vai te proporcionar as melhores.

Publicado em janeiro/2017. Estamos trabalhando para atualizar as informações do local 🙂

Ô Pastel – O legítimo pastel de feira

Ei, você! Você mesmo, que está de passagem agora pelo Terminal João Dias, não passe tão rápido. Sei que está com pressa, mas juro que por trás desse aglomerado caótico de ônibus, metrôs, carros, gente e churrasco de rua existe um lugar em que vai fazer você querer ficar ali, observando tudo de longe por horas. Tá vendo aquele monte de comércio bem atrás da enorme Parada Itapaiúna? Observe um espaço grande, que lembra uma garagem. Ali dentro dá para perceber uma barraquinha vermelha de pastel. Pode entrar, que você não vai se arrepender. Provavelmente quem vai te recepcionar é a dona Sueli, a simpática e hospitaleira dona que abriu a Pastelaria Bem Legal há dois anos. Diz ela que não sabia absolutamente nada de pastel antes do empreendimento, mas você não vai acreditar nisso, quando provar alguma das 40 variedades de sabores servidos nesse paraíso pasteleiro.

Deslize os olhos pelas placas com sabores e deixe sua intuição te guiar na escolha, mas vou te dar a dica: os de pizza, carne e frango com Catupiry são os que fazem mais sucesso. Eles são muuuito bem recheados. E tem mais: a Sueli, criativa que é, teve a ideia de criar molhos que acompanhassem os pasteis, indo além do clássico vinagrete. Se liga: alho, alho e salsa, cebola e salsa, cebola e orégano, saladinha, apimentado e tomate – todos desenvolvidos especialmente para combinar com cada um dos sabores do cardápio. Isso é que é harmonização! O difícil vai ser escolher um só porque, acredite, você vai querer comer os molhos de colher.

Não bastasse todo esse dilema entre os pasteis salgados, os doces vão vir para complicar ainda mais sua a cabeça. Pense no seu chocolate favorito. Em seguida, coloque ele numa massa de pastel e frite. Já está delirando? Além dos tradicionais Romeu e Julieta, chocolate e as suas combinações com morango ou banana, você vai poder escolher entre pasteis de marcas famosas como Diamante Negro, Laka, Shot e Sensação. Onde mais você já viu algo parecido? No de Diamante Negro dá até para sentir os cristais crocantes no meio do chocolate derretido. Mas olha, mais uma dica, dessa vez da própria Sueli: o que ela mais gosta entre os sabores açucarados é o de doce de leite. Pode pedir ele coberto no açúcar com canela, sem medo. Para acompanhar tudo isso, um caldinho de cana é a melhor escolha. Você ainda pode pedir uns salgados ou então algum dos mais maravilhosos caldos quentes da cidade. Tem caldo verde, de costela com mandioca, mocotó, feijão com calabresa ou carne seca, mandioquinha com frango ou carne seca, piranha e sururu. Porque só fazer o melhor pastel da região não é o suficiente para a Sueli, não é mesmo?

E aí, valeu a pena conselho, né? Na verdade, se você seguiu ele direitinho, com certeza já deve estar até pensando na próxima visita e ficando em dúvida no próximo sabor que vai experimentar.

Atualização em 11/06/2020: A Sueli reformulou algumas ideias pro negócio, mudou de nome e de endereço e abriu o “Ô Pastel – O legítimo pastel de feira”, na mesma região! Ele fica na rua José Barros Magaldi, 23 – Jd São João 🙂

Ville Japan

Eu seguia cotidianamente pela Av. Sadamu Inoue, a principal via que liga o extremo sul da capital com o resto da cidade, quando vi uma série de placas vermelhas com formato de peixe e os dizeres “restaurante japonês”. Deixei meu coração ser guiado pelas setas que as placas traziam e desviei do caminho principal, entrando em uma ruazinha desconhecida. Ao entrar no Ville Japan, a impressão era de que eu acabara de atravessar um portal com poder de abrir um buraco na terra e transportar as pessoas para o outro lado do mundo. Poucos passos foram dados e, de repente, eu estava imerso em um mundo mágico e leve, composto por karaokê e peixe cru.

O criador desse mundo é o chef Marcos Naka, que há seis anos abriu o restaurante no espaço onde antes era apenas sua casa. As placas de peixe são porque, segundo o próprio, ele “sempre entendeu muito de marketing”. O mais legal é que o Marcos não só idealizou tudo isso como também é o responsável pela construção da parada. Todos os elementos de madeira que compõem a decoração do lugar foram feitos por ele, que utiliza caixas de bacalhau reaproveitadas. Segundo o chef, as caixas são reforçadas para aguentar os impactos das viagens marítimas, o que resulta em um material de ótima qualidade para se transformar em figuras de peixes, crustáceos, dragões e samurais.

Um dos pratos mais vendidos no Ville Japan é o temaki, apresentado no cardápio nos tamanhos pequeno (R$ 9), normal (foto, R$ 19) e mega (R$ 25), mas mesmo o normal já é maior que todos os temakis que vi na cidade. Outro clássico, o yakissoba aparece em oito variedades, incluindo o inusitado Sabor do Nordeste. Ele foi criado após um pedreiro amigo do Marcos lançar o desafio: “No dia em que você fizer um prato com ingredientes do Nordeste, incluindo quiabo, eu como a sua comida”. Desafio aceito, nasceu o yakissoba que, além da tradicional massa com legumes, acompanha finas fatias de quiabo, tiras macias de filé mignon, linguiça (bem) apimentada, bacon, camarão e um ovo frito por cima (!!!). E não é que a mistura funciona? A porção média custa R$ 45 e alimenta muito bem 2
pessoas. É yakissoba com sustança! Eles ainda servem entrada (macarrão bifum e sushi), sobremesa (gelatina de duas camadas) e infusões de folhas de figo com mel ou gengibre em cachaça, tudo como cortesia!

O espaço ainda conta com pebolim, sinuca e, em uma das salas privativas para grupos, um Nintendo Wii! Sim, como nos tradicionais restaurantes japoneses, o Ville Japan tam bém tem aquelas salinhas que ficam geralmente reservadas para famílias – maior público do lugar. Dei a sorte de pegar o restaurante vazio e fazer dele todo uma sala privativa, um pequeno mundinho japonês só para mim, no meio do Jardim Marcelo. Tudo graças ao chamado dos peixes espalhados ali na avenida, facinho para todo mundo ver. Difícil agora só é dizer sayonara.

 

Restaurante da Marlene

Cambuci: a palavra que nomeia o bairro do Centro de São Paulo veio de uma fruta nativa da Mata Atlântica. Sua origem é o termo “kãmu-si”, ou “pote d’água” em tupi-guarani, devido à sua semelhança com o formato dos vasos de cerâmica que os índios produziam. O fruto – da família das goiabas e jabuticabas – está diretamente ligado à história do estado de São Paulo, pois, originalmente consumido pelos índios, passou a ser consumido pelos bandeirantes curtido na cachaça.

Apesar da importância histórica e ambiental, pouca gente conhece a fruta e a espécie chegou a ser ameaçada de extinção. Hoje esse quadro vem mudando e o cambuci se tornou um símbolo de preservação da Mata Atlântica, graças a estratégias como a Rota do Cambuci, um festival que teve sua primeira edição em 2009. Parelheiros, no extremo sul da capital, faz parte dessa rota. A 37km de distância do Marco Zero da cidade, na Sé, a região, com seu clima de interior e cercada por toda parte pelo verde da Mata Atlântica, foge completamente do perfil caótico e cinza do resto de São Paulo. É lá que estão localizadas as duas unidades do Restaurante e Pizzaria Marlene, que certamente possuem a melhor e mais sustentável comida caseira da região.

Aberta em 1989, pela Dona Marlene, a primeira casa era inicialmente um bar. Em 2006, ela passou a desenvolver receitas com frutas nativas, que deram tão certo que três anos depois passaram a fazer parte da Rota do Cambuci. O restaurante self-service muda o cardápio todos os dias, de acordo com a qualidade e preço dos produtos na semana. Ainda assim, alguns pratos são verdadeiros clássicos, como a moqueca de peixe, o peixe à milanesa e a espetacular costelinha de porco no molho agridoce de cambuci, que desmancha na boca e combina perfeitamente com o sabor ácido e adocicado da fruta. Vale ressaltar também que todas as ervas e folhas são orgânicas, compradas de produtores da região. O preço é muito camarada e para acompanhar a comida, nada melhor que o suco de cambuci, também ácido e adocicado na medida certa. Uma paleta de cambuci com leite condensado é perfeita para fechar o almoço. Outras delícias caseiras feitas com a fruta também podem ser encontradas no restaurante, como geleias, musses e cachaças.

“Quando comecei, Parelheiros era bem menor, mas não cresceu tanto econômica e culturalmente falando. É preciso de muito trabalho para que os moradores daqui tenham mais contato com as nossas frutas”, diz a simpática Dona Marlene, que abriu a segunda unidade do restaurante em 2015 e também dá oficinas culinárias sobre as frutas nativas em diversos pontos da cidade. Com sua rica simplicidade transmitida tanto na fala, quanto na comida, ela se tornou uma figura importante na divulgação da região. É daquelas pessoas com um jeito gostoso, que dá vontade de colocar dentro de um potinho, ou de uma compota, e levar para casa.

 

 

Point do Milho Verde

Quando decidiu abrir um negócio na periferia da Zona Norte de São Paulo, Sr. Israel fez uma viagem até Goiás. A ideia era pesquisar a culinária local para trazer alguma novidade que fosse diferente de tudo que já tinha visto no bairro que mora há 36 anos. No Largo da Parada, a maioria dos comércios são de roupas e farmácias. Mas quando ele chegou, eles não existiam. Feliz e contente, abriu, em 2003, o Point do Milho Verde. Uma espécie de restaurante-lanchonete que funciona o ano todo, independente do clima.

Mal sabia ele que, treze anos depois, o destaque do Point seria não o carro-chefe e ingrediente que dá nome ao lugar, mas o self-service de açaí com creme de cupuaçu. Creme que ele mesmo produz e se orgulha em dizer que “os concorrentes até vendem açaí na tigela, mas o esquema de self-service é uma exclusividade do Point”. A poupa é congelada e dissolvida na fábrica em Taipas, na mesma Zona Norte.

Assim como o ambiente, o cardápio também é amplo. Toda variação de um mesmo tema – o milho – está contemplada lá. As pamonhas recheadas doces, de côco e Romeu e Julieta, são as mais vendidas e custam R$ 7,00. São fofinhas, leves e têm um gosto suave, mas sem deixar a desejar na doçura. Apostas não tão tradicionais de recheio que deram muito certo na combinação.

O Point é bastante frequentado por famílias com crianças e clientes já conhecidos da casa, tem decoração toda de madeira – o que dá um clima mais rústico ao local. Nas cadeiras que ficam perto da entrada, o caos da cidade e o clima interiorano se harmonizam: você vai se sentir na beira da estrada (talvez de Goiás) e, de vez em quando, é acordado do sonho com uma buzina te lembrando que ainda é São Paulo. Os funcionários são em sua maioria mulheres, incluindo Nalva, a baiana que cozinha outro destaque da casa nas noites frias da Zona Norte: os caldos, que são colocados em cumbucas, que se mantém aquecidas sobre o fogão industrial.

Os clientes podem escolher o sabor e se servir, com direito a torradas e temperos à vontade. Os sabores vão desde feijão até o próprio caldo verde. Mas de mandioca com carne seca é o mais procurado. É saboroso, bem temperado, consistente e tomar na cumbuca pequena, que custa R$ 10,00, faz você se sentir aquecido por dentro.

 

Pular para o conteúdo