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O veganismo e a comida como resistência política na periferia

Texto e fotos por: Ísis Naomí

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Atravessei a cidade de SP rumo a São Miguel Paulista e, no meio das baldeações, uma pequena ansiedade me acompanhava. Não é todo dia que se conhece de perto o trampo dos parça de luta, não é mesmo? Chegando à estação Brás, entrei num trem velho e sem ar condicionado, rumo à estação Calmon Viana, e percebi o quão nítido é como a região determina a qualidade do transporte. Quanto mais quebrada, mais descaso. E a ansiedade, que me acompanhava desde a baldeação na Sé, se tornava mais presente e intensa.

Chegando na estação São Miguel, Ulisses, um dos cozinheiros libertários, me buscou na estação para irmos onde tudo acontece. No zigue-zague das ruas, sobe e desce das ladeiras, chegamos em uma ruazinha com estêncils estampados nos muros, que era o sinal de que havíamos chegado onde nasce e é produzida comida revolucionária.

A Cozinha Libertária surgiu na ocupação “Casa de Permacultura Maria do Espírito Santo”, em janeiro de 2015, que tinha como proposta disseminar o conheci mento de permacultura na quebrada. A ocupa ficava na região da Penha, mas infelizmente não foi pra frente. Entretanto, num ato de resistência, a cozinha ressurgiu como alternativa de pagar as contas da casa e fornecer uma comida vegana, saudável e de qualidade em São Miguel Paulista para geral da quebrada e para os trabalhadores que frequentam a região. A Cozinha trampa num esquema de delivery, então não é possível ir lá, sentar e prestigiar a comida, mas rola colar, trocar uma ideia firmeza com seus produtores e depois levar o prato quentinho pra comer no conforto de casa ou pedir que entreguem na sua goma – um dos bicicleteiros leva a comida pra você e sem poluir a cidade.

Em janeiro de 2016, iniciada a época das jacas, o time de cozinheiros libertários formado por Oneide (mãe de Ulisses), Renato e Vinicius iniciou a produção de coxinhas veganas pra vender em eventos no centro e na periferia pra completar a renda da casa. Com jacas orgânicas colhidas nos arredores da vizinhança, as coxinhas têm um gosto sem igual. O sabor da jaca fresca sempre bem acentuado, coberta por uma massa bastante crocante, me faz lembrar que a anarquia tem gosto bom.

Quando as jacas estão fora de época, os guerrilheiros gastronômicos investem no PF, que é temperado com ingredientes como sal do himalaia, chia e amaranto e custa R$ 10. Rola também o prato do dia, a consultar na hora. Um dos favoritos é um hambúrguer coberto por queijos caseiros da Dona Oneide, que custa R$ 6, e mostra que uma comida de qualidade e saudável, pode ser, sim, barata e acessível para o morador da perifa.

 

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