(FECHADO) Churrasquinho do Seu Domingos

Em uma quebrada tão distante, fora do município de São Paulo, o ex-presidente da cooperativa de churrasco da cidade de Diadema, Seu Domingos, estaciona seu carrinho de churrasco bem no meio da Praça da Rua Treze de Maio, número 228 – localizada no Jardim Canhema, em Diadema. E é exatamente lá que você encontra o melhor churrasquinho desse mundão.

A praça da Rua Treze de Maio é um ambiente pra você se sentar, jogar conversa fora, apreciar um bom churrasco e reparar em como as pessoas estão sempre correndo. Um ambiente tranquilo, em um ponto estratégico do bairro. Tem gente que atravessa Diadema inteira atrás das iguarias de carne e faz questão de levar os churrasquinhos para casa. São pessoas das mais variadas, desde criancinhas comprando pro pai até senhoras de idade que compram o churrasco para comer no jantar.

Em 2002, Seu Domingos, ex-segurança de bancos, ficou desempregado por meses e precisava levantar uma grana para sobreviver. Foi aí que resolveu vender churrasco. Sem experiência alguma, começou como uma aventura que foi sendo vivida juntamente com um curso de cabeleireiro. Quê?! Ex-segurança de banco, churrasqueiro e cabeleireiro? Calma, que quanto mais a vida fica loka, mais ela fica daora. Bem no comecinho, ainda participando do curso de cabeleireiro, comentou com um dos professores que teria que largar as aulas para fazer uma grana, trabalhando integralmente como churrasqueiro. O professor quis ajudar; disse que manjava de churrasco e que tinha umas dicas que poderiam fazer o Seu Domingos ter um diferencial em seu carrinho. E realmente o ajudou. Passou receitas, modos de preparo, o tipo de carne e, em especial, o tempero secreto que faz a carne ficar suculenta de uma maneira única. As vendas foram um sucesso! Mesmo assim, Seu Domingos não se contentou. Além de ter melhorado a qualidade das carnes com processamentos e cortes, resolveu mexer no tempero do professor.

Por já ter sido motivo de longas brigas que dariam um livro, o segredo do tempero é guardado a sete chaves, e as únicas informações que obtivemos é que o churrasco é feito de “fraldinha maturada”, comprada de um fornecedor desde 2002, cortada e processada diariamente por Seu Domingos e sua esposa.

A especialidade da casa é o churrasco de carne e o diferencial é o já citado tempero secreto. O churrasquinho é tão bem feito que até as gorduras que ficam no espeto são temperadas. Lindimais! Depois de um tempo, aquele professor foi comer um espetinho e ficou surpreso. Ele notou uma grande diferença do tempero original que havia ensinado ao Seu Domingos. O mestre quis saber o segredo e, segundo o churrasqueiro, hoje, somente ele, o professor e sua esposa dominam essa arte do espetinho sagrado. Seu Domingos é rua até umas horas!

 

(FECHADO) Cozinha Libertária

Atravessei a cidade de SP rumo a São Miguel Paulista e, no meio das baldeações, uma pequena ansiedade me acompanhava. Não é todo dia que se conhece de perto o trampo dos parça de luta, não é mesmo? Chegando à estação Brás, entrei num trem velho e sem ar condicionado, rumo à estação Calmon Viana, e percebi o quão nítido é como a região determina a qualidade do transporte. Quanto mais quebrada, mais descaso. E a ansiedade, que me acompanhava desde a baldeação na Sé, se tornava mais presente e intensa.

Chegando na estação São Miguel, Ulisses, um dos cozinheiros libertários, me buscou na estação para irmos onde tudo acontece. No zigue-zague das ruas, sobe e desce das ladeiras, chegamos em uma ruazinha com estêncils estampados nos muros, que era o sinal de que havíamos chegado onde nasce e é produzida comida revolucionária.

A Cozinha Libertária surgiu na ocupação “Casa de Permacultura Maria do Espírito Santo”, em janeiro de 2015, que tinha como proposta disseminar o conheci mento de permacultura na quebrada. A ocupa ficava na região da Penha, mas infelizmente não foi pra frente. Entretanto, num ato de resistência, a cozinha ressurgiu como alternativa de pagar as contas da casa e fornecer uma comida vegana, saudável e de qualidade em São Miguel Paulista para geral da quebrada e para os trabalhadores que frequentam a região. A Cozinha trampa num esquema de delivery, então não é possível ir lá, sentar e prestigiar a comida, mas rola colar, trocar uma ideia firmeza com seus produtores e depois levar o prato quentinho pra comer no conforto de casa ou pedir que entreguem na sua goma – um dos bicicleteiros leva a comida pra você e sem poluir a cidade.

Em janeiro de 2016, iniciada a época das jacas, o time de cozinheiros libertários formado por Oneide (mãe de Ulisses), Renato e Vinicius iniciou a produção de coxinhas veganas pra vender em eventos no centro e na periferia pra completar a renda da casa. Com jacas orgânicas colhidas nos arredores da vizinhança, as coxinhas têm um gosto sem igual. O sabor da jaca fresca sempre bem acentuado, coberta por uma massa bastante crocante, me faz lembrar que a anarquia tem gosto bom.

Quando as jacas estão fora de época, os guerrilheiros gastronômicos investem no PF, que é temperado com ingredientes como sal do himalaia, chia e amaranto e custa R$ 10. Rola também o prato do dia, a consultar na hora. Um dos favoritos é um hambúrguer coberto por queijos caseiros da Dona Oneide, que custa R$ 6, e mostra que uma comida de qualidade e saudável, pode ser, sim, barata e acessível para o morador da perifa.

 

(FECHADO) Baba Hassum

Um cliente chega invadindo a cozinha e pede por 5 esfirras. Sua mãe corre desesperada tentando impedir o filho, um garoto de 5 anos, de se jogar nos braços do simpático Hussein que se abaixa e recebe o garoto num abraço de urso.

Hussein, que aprendeu as artimanhas da culinária em solo libanês e na não concluída faculdade de gastronomia, é o cozinheiro e faz-tudo do nosso achado. Perdido na rua Rio Grande do Sul, o Baba Hassum é um estabelecimento pequeno e bem aconchegante, com azulejos brancos nas paredes que registram um antigo desejo de ser um açougue. A decoração delicada e simples foi feita por sua esposa brasileira Marcela. Ela conta que não é raro ver clientes sorridentes servindo uns aos outros, cobrando e ajudando o marido, que cria um clima família com sua energia contagiante e animada.

Após ter passado por lugares como os Emirados Árabes Unidos, o Kuwait, e claro, o famigerado centro de São Paulo, Hussein se encontra em São Caetano do Sul, no corre de uma vida melhor, acompanhado por Marcela, seu amor, que está ao seu lado há quase 4 anos. Cerca de um ano atrás, a brasileira o ajudou a abrir o pico no solo do ABC (DMRR) Paulista. Com um sotaque que não esconde suas raízes, Hussein fala entusiasmado sobre as comidas que vende, conhecimento que é herança de família: pão libanês, bolinho de carne moída ao ponto (também conhecida como kafta), rodelas de tomate, alface, homus (uma pasta de grão de bico e tahine), uma pasta de gergelim – tudo feito pelas mãos do dono.

A carne da kafta, assim como todas as carnes presentes no restaurante, é Halal, o que significa que o boi foi abatido de acordo com as normas muçulmanas, com respeito, e de cabeça pra baixo fazendo com que todo o sangue escorra e que ele morra com menos dor, tornando sua carne mais saborosa e livre de impurezas. À primeira dentada, a kafta é churrasco de gente diferenciada, porque o gostinho de alho permanece, mas, ao invés de vinagrete, vem o gostinho do tahine, que não é amargo, nem sem sal; é algo que fica ali, num meio termo e aliado ao homus toma um rumo macio e úmido lembrando um patê. O curioso é o acompanhamento. Além de mais uma porção de pastas árabes, o rango vem traz a miscigenação com o mundo ocidental em forma de batatas fritas; tanto dentro do lanche, como na bandeja ao lado do combo. Aliás, o combo, que é o item mais caro, custa R$ 28, alimenta duas pessoas e é o suficiente para só querer comer depois deste banquete um halawi (“raleu”) – doce árabe de consistência dura, mas que aparentemente é mole. A contradição é o tom dessa história.

 

(FECHADO) Casa da Lagartixa Preta “Malagueña Salerosa”

A Casa da Lagartixa Preta era como um esconderijo para mim. Uma extensão da minha casa que só eu sabia como chegar; um bauzinho cheio de conhecimentos, vivências e gente gostosa pra se confiar e transbordar o que era mais íntimo. Ainda é um espaço de desconstrução; foi lá que deixei toda a roupa velha que me foi vestida pela sociedade, foi lá que me despi de máscaras, apresentei meus monstros, minhas angústias e minhas belezas, e permaneci assim. Depois de ter conhecido esse lugar, passei a me vestir de algo mais sincero, mais orgânico, mais eu e ainda permaneço assim.

A Casa da Lagartixa Preta “Malagueña Salerosa” é laboratório de vivências e práticas libertárias que fica no meio da babilônia santo andreense e que resiste há exatos 12 anos, onde acontece, também, a noite de pizzas veganas mais roots e barata da região. A casa carrega esse nome pela quantidade de lagartixas pretas que habitam o local, e o “Malaguenã Salerosa” foi uma homenagem ao vizinho Seu João que cantava essa música todas as manhãs.

Gerida pelo coletivo anarquista Ativismo ABC, a Casa da Lagartixa Preta não é um restaurante e, portanto, não tem funcionários. As pizzadas acontecem com a colaboração de todos e têm como objetivo pagar as contas da casa (como aluguel, luz, água, etc). O pessoal da casa cobra apenas R$ 18 por pizza revolucionária à vontade. O espaço é muito aconchegante e mesmo nos dias de pizzada mais lotados todo mundo fica bem confortável.

O rolê oferece atividades culturais, políticas e outros eventos bacanudos durante todo o mês, futebol de duas bolas (onde o objetivo é bugar geral), oficinas pro conserto de bikes pras minas, grupos de estudos, debates y otras cositas más estão inclusos.

O espaço se encontra na rua Alcides de Queirós, uma ruazinha tranquilex que atravessa o bairro Casa Branca e que tem uma vizinhança tranquila e amistosa. Pra chegar na casa, basta seguir as pixações anarcas da Av. Arthur de Queirós. Ao chegar na rua, não é muito difícil encontrar a casa, que tem muros estampados com frases e símbolos de luta e resistência.

 

(FECHADO) Rei da Batata

Orégano, cheddar, bacon, calabresa, mostarda, ketchup, filé de frango, barbecue, queijo parmesão, Catupiry, churrasco, molho da casa e, como acompanhamento pra tudo isso, funk. É assim que os frequentadores do Rei da Batata podem fazer seus pedidos: combinando um, dois, três ou todos os ingredientes. Se você for vegetariano, pode pedir uma porção com: orégano, cheddar, mostarda, ketchup, barbecue, queijo parmesão, Catupiry e molho da casa. Caso seja vegano, pode tirar os queijos e ainda assim se deliciar com o mar de tempero e molhos.

E se você for com a galera e quiser compartilhar um prato, vale provar a super batata com azeitona, ovo de codorna e camarão. Ela é gigante e serve bem 10 pessoas. Vem inclusive numa caixa de pizza – pra vocês terem uma ideia do tamanha da parada.

Sempre que você for comer por ali, vai notar a presença de um… Menino. O nome dele é Lucas Alves – mas não necessariamente você vai notá-lo, porque ele é um jovem de 18 anos, muito tímido, quase não fala. Anota os pedidos dos clientes com um sorriso leve no rosto e logo vai conversar com o Rato, que é o cara que cuida da chapa. Lucas é, na verdade, o dono do estabelecimento. Foi ele quem, há um ano, pra suprir necessidades financeiras da família, decidiu abrir, no seu bairro, o Jardim Marilu, na Zona Leste de São Paulo, o Rei da Batata. Hoje, o lugar se tornou popular entre os moradores. O estabelecimento fica na antiga garagem da avó de Lucas, dona Albertina, de 60 anos. O lugar foi criado pelo xovem, mas hoje é administrado pela família quase toda. Na garagem do Rei, todo mundo põe a mão na massa. A mãe, a tia e o Lucas fazem de tudo, menos o Rato – o Rato é só o cara da chapa.

Os jovens são clientes fieis. Tem a galera da escola, César Donato Calabrez, a 2 minutos dali, que estuda no período noturno, e que sai 23h e vai direto para o Rei, especialmente às sextas-feiras. Tem também uma turma que vai sempre no final de semana, já que ao lado do Rei da Batata existe o Espeto da Vila, uma tabacaria que complementa o rolê.

O Rei da Batata, com seu cardápio lotado de opções e com um ambiente simples, mudou a cara do quarteirão da Praça William Alexandro Dias Vaz, que é apelidada de rua de lazer pelos próprios moradores. Ao lado do estabelecimento, por exemplo, tem uma praça que antes ficava vazia e hoje, de quarta a sexta, das 17:00h às 01:00h, horário e dias de funcionamento do Rei da Batata, é possível ver famílias reunidas e até crianças usufruindo do parquinho. “Eu gosto desse trabalho porque a gente reúne diversas pessoas de estilos diferentes pra não só comerem, como estarem juntas”, orgulha-se o chapeiro Rato, de 33 anos, que é primo do Lucas.

As batatas simples custam entre R$5,00 e R$25,00 e podem vir acompanhadas de bacon, calabresa e qualquer um dos 13 acompanhamentos listados no inicio do texto. Já as batatas para compartilhar com a galera, custam de R$35,00 e R$50,00 e podem vir com ovo de codorna e camarão. Além das batatas, rolam também lanches com hambúrguer artesanal. Você tem a opção só lanche ou combo, que vem com a batata e refri junto.

(FECHADO) Street Burguer

Luan Ribeiro quando pequeno sonhava em ser jogador de futebol e nos campos da vida conheceu seu melhor amigo Diego Gama. Os dois jogavam juntos em um time de várzea do Jardim Ibirapuera nos anos 2000. Luan se destacou como goleiro e quase foi profissional. Diego, por sua vez, embarcou na carreira de grupo Pega Samba. A amizade dos dois se fortificou após a morte do pai do Luan, em 2004.

Luan largou a carreira de futebol por conta da depressão da mãe. ‘’Só tinha eu pra cuidar dela. Família é família, sempre em primeiro lugar’’ disse Luan. Após largar a carreira de goleiro precocemente, aos 18, começou a trabalhar em um banco, onde ficaria por oito anos. Diego largou a carreira de música para trabalhar em uma clinica cirúrgica, e por lá também ficou oito anos. A gastronomia nunca foi a meta dos dois.

“A gente sempre fala que na quebrada não tem nada, mas sempre que eu ia na casa do Diego, ele inventava umas receitas’’ lembra Luan. Após o inicio da crise econômica, Luan perdeu seu emprego no banco, e Diego ficou desempregado pouco depois. Ficaram mais ou menos um ano parados, até que, durante um encontro com o amigo em comum, foram praticamente intimados a abrir seu próprio negócio, ‘’Luan, por que você não faz algo com Diego? Sua avó tem o Salão…’’. Isso clareou a cabeça dos dois, que ficaram por meses pensando qual seria o negócio perfeito. “A gente não sabia muita coisa, nós dois nunca trabalhamos em cozinha profissional, mas a gente gostava de hambúrguer’’, lembra Luan. Começaram a desenvolver o plano de negócio perfeito, pediram para a avó segurar o salão e passaram a desenvolver suas receitas mágicas. ‘’Ninguém acreditou que daria certo. Só a gente.’. Os dois amigos, então, partiram da lógica ‘’Eu só vendo o que eu como’’. Logo as madrugadas na cozinha viraram laboratório e os dois passaram noites e noites criando receitas e desenvolvendo os pratos do futuro negócio.

No Street Burguer são servidos hambúrgueres artesanais, batatas rústicas, cervejas mexicanas e até hambúrguer vegetariano. Após três meses do lançamento, o número de clientes já é o dobro do esperado. O sucesso do local é o Combo Mexicano, que conta com hambúrguer bovino (180g) grelhado e recheado com queijo, maionese de ervas, cheddar e é finalizado com guacamole e nachos. Acompanham o lanche firmeza uma cerveja mexicana e batatas rústicas, tudo em perfeita sincronia.

O sonho dos amigos é abrir um espaço maior, que além de mesas e cadeiras tenha palco para os artistas locais. Depois de já terem conseguido conquistar os moradores do Jardim Ibirapuera e região, a meta é chegar mais longe: eles também já estão atendendo por agendamento em festas e eventos. Quem dera se todo mundo só vendesse o que comesse.

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