Ao chegar no Jardim Iracema, olhando pela janela do ônibus, começo a procurar. Muitos lugares vendem açaí por ali. Mas onde seria o tal lugar? Aquele lugar que carrega não só um famoso açaí na tigela, mas uma história de descobertas? Desço do ônibus, olho para o lado e… achei!
Em uma esquina, com as paredes roxas e amarelas, um espaço aberto, bem chamativo, numa pegada meio caiçara. Era o Quintal do Açaí. Falei que queria saber mais sobre o lugar e um homem alto e gentil veio me cumprimentar. Era Claudemir, o dono do estabelecimento.
Nascido e criado no bairro da zona Norte de São Paulo, ele foi até o Pará para saber um pouco mais sobre a fruta. Conheceu o açaí em 1994, mas só em 2004, ao sair do emprego, decidiu montar no quintal de casa, onde ficava a
roseira de sua mãe, um ponto de açaí. A ideia era levar o creme da fruta, ainda uma novidade, para aquela região.
Mas, para isso, ele pesquisou. Passou uma semana no Pará. E voltou uma verdadeira enciclopédia do açaí. Conta que naquele estado é comum famílias terem um pé de açaí no fundo do quintal de casa. Lá a fruta é consumida de forma integral, substituindo o feijão. “Lá a galera come açaí com farinha d´água e peixe assado”, diz.
A maneira como o Sudeste consome açaí é uma consequência da logística. “Durante o transporte, perdia-se muita fruta, então o pessoal começou a congelar. Daí surge o creme congelado do açaí, que a gente consome de diversas
formas”, explica.
O Quintal do Açaí atrai gente da cidade inteira. E isso se explica pelo cuidado que Claudemir tem com seu produto. O açaí deve ser mantido a -18ºC. E é preciso ter um controle de qualidade. “Existem algumas marcas que produzem açaí de vários fornecedores, alterando o sabor do creme. E muitas vezes, quando não há açaí suficiente, mistura-se beterraba com banana para completar a produção”, critica. Ele afirma que, ali no Quintal, o açaí vem de uma fazenda
e de uma indústria com controle de qualidade.
O Quintal do Açaí possui um cardápio tradicional, com açaí na tigela ou na barca e sucos de açaí com cupuaçu, maracujá, morango e até uma caipirinha de açaí. Vale destaque também para o famoso suco Levanta Cadáver, uma bebida feita de creme de açaí e paçoca. A mistura energética, bem diferente de como os paraenses consomem a fruta, faz sucesso em São Paulo: em dias de calor, Claudemir chega a vender 300 copos por dia.
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Publicado em agosto/2018. Estamos trabalhando para atualizar as informações do local 🙂