Restaurante da Camila / Espaço da Onça

“O sonho era estar perto do meu filho”, conta Camila Feitosa, 48 anos, nascida e crescida no bairro do Campo Limpo, periferia de São Paulo. Seu filho Davi é uma pessoa com deficiência (PCD) intelectual. “Eu tive vários problemas na infância. Violência doméstica agressões, isso me fez sair de casa cedo’’, diz Camia. Depois de um casamento que não deu certo e já com o filho, ela trabalhou em um supermercado por 8 anos e depois foi faxineira doméstica. Ralando muito, percebeu que valia muito mais a pena ser autônoma e voltou a estudar, mas não conseguia estar perto do filho como gostaria.

A guerreira queria fazer algo diferente, que transformasse sua vida, mas a dúvida se conseguiria estabilidade fazia com que não arriscasse. Então, um amigo que tinha uma lanchonete malsucedida no bairro do Campo Limpo, soube do desejo de Camila de abrir um negócio e ofereceu a ela um trabalho na tal lanchonete, ganhando R$ 800 por mês. “Para mim não compensava, eu tirava muito mais fazendo faxina’’. No dia seguinte, em uma palestra de aperfeiçoamento da carreira profissional, refletiu sobre os conselhos da especialista Ana Raia: “Ela disse que a gente precisava acreditar nos nossos sonhos. Eu não tive dúvidas’’.

Camila é extremamente grata por aquela palestra até hoje. Ao sair da escola, foi conversar com o dono da lanchonete fazendo uma contra proposta: que cedesse o espaço pelo aluguel no valor dos mesmos R$ 800. O espaço era bem pequeno e ficou menor ainda para o número de clientes já do primeiro mês. Após o sucesso, vendeu sua casa no bairro Vila das Belezas e logo encontrou um lugar adequado. “Eu estava realizando o meu sonho, podia tocar o meu negócio perto do meu filho’’.

A casa é modesta. Na parte da antiga garagem, mesas e cadeiras. No corredor, o espaço do self-service, uma TV e uma mesa de vidro redonda. À direita, o banheiro, masculino e feminino, que também serve para a família da Camila. Um pouco mais à frente, a cozinha da Camila; uma cozinha domestica, que conta com um fogão de 8 bocas, um pequeno forno, uma pia e muito amor.

“Eu começo a cozinhar às 06h e às 10h tem que estar tudo pronto, porque começam os pedidos via delivery’’. O almoço inclui arroz, feijão, salada, farinha e alguns molhos. Após o prato montado pelo próprio cliente, à vontade, ele mesmo solicita a mistura, que vem em um pratinho separado. As opções são: contra filé, filé de frango ou linguiça na cerveja. Em média saem 110 refeições por dia. Nas opções de sobremesa, o que faz sucesso é o pudim, preparado pela própria Camila. No local trabalham 3 pessoas, um entregador, um garçom e a chefe.

Camila acredita que seu sucesso na região do Campo Limpo deve-se muito ao amor pelo filho: “Eu acredito no amor que coloco na refeição’’.

Casa do Norte Nova Mandacaru

O restaurante Casa do Norte Nova Mandacaru fica no meio de uma das avenidas mais movimentadas da quebrada, a Avenida Itaberaba, no número 4629. A região é cheia de carros e busões, já que fica bem no miolo, pertinho do terminal, que faz a liga da quebrada com os centros.

Recém-reformada, a entrada da casa tá bonitona, com um letreiro brilhante, orgulho dos tiozinhos que ficam ali em frente resenhando, quase que o dia todo. Por ser pequeno na medida, dá uma sensação de conforto, e é muito convidativo independente do quanto você tenha para gastar. O rango mais barato do restaurante, o PF, custa R$ 10. O pico é frequentado por pessoas de diferentes idades, de todos os cantos de SP e até de fora, mas os clientes mais fiéis são ali da quebrada mesmo, os tiozinhos da resenha.

Seu Jeová, proprietário, adora chegar na humildade para conversar com os clientes e, numa dessas, foi nos contando que o restaurante, já existe há uns 40 anos. Foi criado, inicialmente, pelo seu Durval, e desde o começo ficou sempre no mesmo local, passando por poucas mudanças. No dia 17 de novembro de 2006, o seu Durval vendeu o estabelecimento para o Jeová. E qualé a do Jeová? Bom, ele sempre trabalhou em padarias, e já manjava fazer uns rangos daora, mas por ser de origem mineira não dominava tão bem a culinária nordestina. O que ele fez, então? Meteu o loco e vendeu uns rangos ruins? Não! Ele foi até o Centro de Tradições Nordestinas, contratou uma consultoria para as receitas que ele começaria a vender e procurou fazê-las com excelência. Jeová acabou acertando em cheio em uma receita depois da consultoria, e consolidou o prato como especialidade da casa: o famigerado baião de dois.

Incrivelmente tudo ali parece ser leve, incluindo o preço; R$ 38 o pequeno (serve 2 pessoas) e R$ 75 o grande (o mais caro do cardápio, que serve 4 pessoas de boa). Você pode escolher dois acompanhamentos entre filé de frango, pernil assado, carne seca ou carne de sol. Seguindo a especialidade da casa, o baião com as carnes seca e de sol (artesanal) são chave! O prato é acompanhado por uma mandioca perfeita, crocante por fora e molinha por dentro, e os grandes pedaços de queijo derretidos entre o feijão de corda e o arroz te darão um abraço!

Todos os pratos da casa são muito saborosos, e sempre ornam bem com a boa e velha pinga de alambique. Além das pingas, o drinque mais pedido é o Kariri com mel e limão, por R$ 5. A Casa do Norte Nova Mandacaru tem como di ferencial o grande seu Jeová e o melhor baião de dois que você vai comer na vida. A Casa do Norte Nova Mandacaru, sem dúvidas, é dona de um prato firmeza!

Casa da Árvore – Bar e Cultura

Atualização em junho/2020: Este lugar está fechado temporariamente devido à pandemia de COVID-19.

“Casa humilde de maderite/Mansão e os grafite/Tudo misturado/ Isso é Piritubacity!”. Essa música do Pollo, que estourou em 2011, era a única referência que eu tinha a respeito do bairro, localizado entre a zona Norte e a zona Oeste, antes do jornalismo me fazer atravessar a cidade e pegar pela primeira vez a Linha 7 – Rubi da CPTM para conhecer a Casa da Árvore, em Pirituba.

A primeira impressão do jornalista que vinha de longe era de que estava chegando na casa de um amigo. O climão leve e descontraído era ditado pela trilha que ia de Emicida a Planet Hemp e pela decoração viva e urbana, a começar pelo grande muro grafitado, com suas formas e cores saltando aos olhos e às lentes da minha câmera. Não podia esquecer que ainda era o jornalista e fotógrafo que vinha de longe para fazer um trabalho naquele lugar. E que lugar grande! Ao contrário de uma casa de árvore, espaço era o que não faltava ali.

Os três ambientes confortáveis já viram dias mais decrépitos. Quando Marcelo Mota, dono do pico, abriu o negócio em outubro de 2015, o lugar estava abandonado e esquecido. Com a ajuda de amigos, ele transformou a Casa da Árvore em um espaço onde poderiam ter uma comida boa e um ambiente cultural para confraternizar perto de casa. Deu tão certo que muita gente das redondezas e de fora passou a frequentar a casa, que ainda contará com duas pistas de skate gratuitas e um estúdio de música, que estão em construção. Enquanto o estúdio não fica pronto, o palco da área externa segura bem a parte musical, que recebe artistas de quebradas dos mais diversos estilos, todos os dias, valorizando ainda mais a cultura periférica.

Indo para o cardápio; o jornalista, fotógrafo e especialista em gastronomia que vinha de longe precisava provar e avaliar tecnicamente algumas das receitas principais da casa. Dentre lanches, porções e pratos propriamente ditos, fui na clássica combinação hambúrguer e Coca-Cola. Os hambúrgueres de 110g e 220g não trazem toda aquela firula gourmet das hamburguerias artesanais, apesar de serem preparados lá mesmo. Ainda bem, pois isso não combinaria com o clima. O que chega à mesa é um hambúrguer no ponto, macio, muito bem temperado e suculento, com acompanhamentos que cumprem o seu papel, complementando perfeitamente o sabor. Roots, extremamente honesto e apetitoso, é daqueles lanches que dá vontade de cair de boca sem garfo, faca ou cerimônia, como fazemos entre amigos.

O jornalista, fotógrafo e especialista em gastronomia que vinha de longe saiu de lá se sentindo apenas Guilherme e não vê a hora de levar os amigos para atravessarem a cidade e se sentirem em casa também.

Doce Feitiço Rotisseria

Atualização em junho/2020: Este lugar está fechado temporariamente devido à pandemia de COVID-19.

É bem ali, na Rua Moraes de Apocalipse nº 129, entre uma UBS e um piscinão cheio de nada, que você vai encontrar a rotisseria com os bolos mais delicinha desse brasilsão véio e sem porteira. Em um ambiente pequeno, que chama a atenção pela beleza e cuidado com os detalhes, mesmo que sem lugares pra sentar, a diversificada clientela da região dá uma pausa na rotina do corre-corre e pede aquele pedaço de bolo, que na real mesmo, mais parece um sonho.

A Doce Feitiço Rotisseria, no auge dos seus 19 anos de história, começou com vendas casuais. As receitas, com um toque especial da família, sempre foram feitas pelas irmãs Rosana e Lena, e eram vendidas unicamente para amigos e familiares. Os bolos eram tão bons, que na primeira oportunidade de expandir essas vendas para além do círculo mais próximo, elas apostaram todas suas fichas em um negócio. Compraram a antiga loja de doces, deram um tapa no visual e estão na rua há quase duas décadas.

Para quem vai lá para lá pegar algo salgado, a rotisseria conta com um cardápio muito amplo: arroz, saladas, aves, carnes, massas…. Mas o principal são as sobremesas, que se destacam pelas receitas próprias e por nenhum uso de produto industrializado. Os preços são a maioria por quilo, variando de R$22 até R$68,80 e o produto mais barato é o cuscuz, por R$14 o quilo.

As receitas de bolos das irmãs variam em mais de 35 sabores. Diamante Negro, bem-casado e brigadeiro saem bastante, mas a especialidade da casa é o fofíneo bolo de ameixa. 100 gramas do delicioso bolo custam R$ 4,30, e o bicho é tão lindão, que antes de morder, dá vontade de fazer umas fotos. Mas aí quando você morde… Malandro… Aquela massa branca macia, juntinha do doce de leite, do coco ralado, da leve camada de açúcar de confeiteiro e com o toque final do gosto de ameixa, te dão uma calorosa sensação de que um bom bolo pode facilmente resolver qualquer guerra. O mundo livre s/a cantava “Deixe esse bolo de ameixa e vem mexer comigo”. No caso desse bolo, não dá pra deixar.

 

Paraíso da Cachaça

Encontrar o Paraíso da Cachaça não é uma missão muito difícil. Ao caminhar pela Avenida Direitos Humanos, na região do Lauzane Paulista, você pode ver, à distância, mesas na calçada, gente tatuada, maços de cigarro nas mesas, cerveja, jovens e velhos barbados. Conforme vai rolando uma aproximação, não terá certeza se realmente está na Zona Norte de São Paulo ou em plena Califórnia, num bar de motoqueiros dos anos 60. A trilha sonora é composta pelo rock ‘n’ roll e o burburinho de seus frequentadores na calçada da rua.

Como as poucas mesas dentro do bar estão sempre cheias, você terá de sentar lá fora: a música não é alta, dá pra conversar em bom tom, sem precisar gritar, exceto quando você for chamar o garçom: o único cara que fica atendendo a galera é muito gente fina, mas precisa cuidar de muitas mesas, portanto, pra chamar o mestre, você vai ter que elevar a voz.

O mestre Bola irá lhe dar algumas recomendações de cervejas: realmente, a carta da casa é bastante variada, com brejas nacionais, holandesas, inglesas, alemãs… Você pode encontrar Lagers, Weisses, IPAs e Pilsens geladas e muito saborosas. Comparativamente, os preços são mais justos do que os encontrados em qualquer bar descolado no centro da capital.

Para forrar o estômago, o bolinho de carne é uma delicia. Além de combinar muito com as brejas, vem sempre quentinho. A carne é temperada com cheiro verde, sal, cebola e pimenta do reino. A massa é bem macia e a casquinha bem crocante… O preço fica em 4 mangos. E, segundo o Carlão, dono do bar, a receita é de sua vó, que só entregou o passo a passo para ele. Não adianta insistir, você não vai conseguir a receita.

Se você não estiver a fim de beber uma breja e prefere um drink, a especialidade da casa é a gengibrina. Feita com cachaça artesanal e raspas de gengibre (o resto da receita é segredo de estado!), ela é servida trincando de gelada e esquenta a alma de qualquer um que prová-la. Para experimentar a deliciosa bebida, você paga apenas 6 dinheiros em um copo americano de 300ml e 3 reais num “shot”.

Pra combinar com a bebida de raiz, a dica é que você peça uma porção de bolinho de carne seca, desenvolvido por Carlão, em busca de uma variedade maior para os salgados do seu estabelecimento. “Curtimos inovar”, resume minimalista.

“Venho aqui pra experimentar as cachaças, tem (envelhecida no) carvalho, (na) umburana… Cada coisa”, diz Daniel, frequentador assíduo do estabelecimento e dono de um lava-rápido da região. Sem barba, jaqueta de couro ou óculos aviador, ele conta: “Fui no Rock in Rio 1991, eu curto rock, Guns, Metallica, tá ligado?”. Conhecer o Carlão, o Bola e pessoas novas faz parte do rolê. E não se pode ir lá somente para os drinks deliciosos ou pros rangos diferenciados, mas também pela experiência rústica de colar na casa mais pauleira da Zona Norte.

Novos Veganos

Inaugurada em 26 de agosto de 2016, a hamburgueria Novos Veganos chegou na zona leste de São Paulo para atender uma demanda de veganos-vegetarianos-simpatizantes carente na região. O local fica perto de uma Avenida movimentada e seu entorno é animado e cheio de gente atraída por diversas opções de comida e bebida vendidas na mesma rua.

Trazer essa opção de comida sem crueldade animal para a quebrada se tornou a missão dos proprietários-namorados-veganos jornalistas Natalia Cirillo e João Steves, quando perceberam que não havia algo do tipo na ZL. As opções de vegetarianos que eles conheciam, como consumidores, não eram acessíveis nem em matéria de local, nem de preço. Criativos, batizaram cada lanche com um trocadilho, em menção a algumas personalidades que lutam ou lutaram por causas sociais ou pelo divulgação do vegetarianismo. Como por exemplo, o Eddie Vegger – em homenagem ao cantor vegetariano e líder do Pearl Jam, Eddie Vedder.

Para a criação das receitas e opções dos lanches, eles reuniram um grupo de, nas palavras do João, “monstros da culinária”. Cada um ficou encarregado de criar um sabor de hambúrguer, de pão ou queijo (lembrando que eles trabalham com opções de queijos vegetais). Todos estes “monstros sagrados” são pequenas empresas, como o Morrones, um food truck de comida vegana a preços acessíveis.

O preparo dos pedidos é revezado entre João e Natália, alternando os dias. Um dos mais pedidos é o Grande Vegano, monstro com três hambúrgueres de quinoa com soja, catupisalsa, vegarela, catupiveg, rúcula, alface, tomate, cebola roxa, bacon vegetal tudo servido no pão de cebola. Outra opção um pouco menor é o Bnegrão de Bico. De acompanhamento, você encontra no Novos Veganos batata frita tradicional e uma batata frita da casa, com
queijo e bacon de soja, e também as onion rings – cebolas empanadas e fritas. O combo vem com refrigerante e quem quiser ficar alegrinho pode experimentar as opções de cervejas artesanais.

O ambiente é jovem e ativista, com público composto de grupos de amigos ou famílias e casais preocupados com questões ambientais, sociais e políticas. O clima da casa é descontraído, com música alta, de preferência rock. O atendimento e serviço ainda está em processo de adaptação, por conta do pouco tempo de funcionamento, mas os dois sócios-namorados, João e a Natallia, são atenciosos e comunicativos. Como João me disse, “todas as pessoas envolvidas no projeto Novos Veganos, não querem apenas vender lanches, mas fazer do mundo um lugar melhor, sem crueldade ao animais. Fazer do veganismo algo acessível a mais gente”.

 

Como chegar

Contato
Tel: 
Facebook

Horário de funcionamento

Destaque 

Preço médio 
R$30

Formas de pagamento 
Dinheiro, cartões de débito, crédito e VR

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Flor de Liz

“O melhor vegetariano de Osasco”, assim me foi apresentado o Restaurante Vegetariano Flor de Liz, localizado no centro comercial da cidade da região oeste da Grande São Paulo. Com tamanha propaganda, decidi que o vegeta de Oz tinha que entrar no nosso guia gastronômico das quebradas e fui conferir a qualidade do seu rango. Colando no local, no entorno da Praça Duque de Caxias, pouco depois das ruas do centro comercial, damos de cara com uma área com mesas ao ar livre, vista para a praça, muitas árvores, pássaros, crianças e alguns senhores(as) mais “experientes”. O restaurante é arejado e espaçoso, tem algumas paredes de madeira e é bem amplo. O ambiente é tranquilo e silencioso, com uma música baixa, quase imperceptível.

E como a parada começou? Lizandra Meira, vegetariana, tinha dificuldade de encontrar bons picos para comer, em Osasco, com preço acessível e que não incluíssem crueldade animal em suas receitas. Para encontrar comida sem carne, fora de casa, ela tinha, invariavelmente, que se deslocar até São Paulo. Se Liz não queria mais ir até a montanha, resolveu fazer a montanha vir até Liz e montou, há 2 anos e 9 meses, seu próprio restaurante, o Flor de Liz, para atender a demanda vegetariana e vegana da cidade.

O esquema no Flor de Liz é o “coma à vontade por valor fixo”. Ele oferece uma variedade de opções em seu serviço, como arroz integral, feijoada vegana, proteína de soja, diversos vegetais, legumes, saladas, pizza vegana e torta vegana. Para sobremesa as opções incluem: bolos, doces e canjica. Faz parte do pacote, ainda, opções de suco que variam durante a semana.

Aos finais de semana o preço é um pouco mais salgado, mas a variedade aumenta: yakisoba, tempurá de legumes, legumes salteados, festival de salgados e kibe de forno são algumas das opções que o consumidor encontra. A comida é fresca, levemente temperada e saborosa. Pra quem come pouco ou quer gastar menos, além do self-service, é possível fazer marmitex.

O Flor de Liz é uma opção para uma refeição completa, agradável, acessível para os vegetarianos/veganos que moram – ou estão de rolê – por Oz.

Cantinho do Bolo Caseiro

A movimentada região central de Itaquera, bairro da zona leste de São Paulo, tem muitas opções para quem precisa fazer um lanche rápido, mas nada parecido com o que encontramos no Cantinho do Bolo Caseiro. Com recentes 3 anos de existência, o lugar é um diferencial no bairro, com preços acessíveis e sabores de qualidade – uma boa opção de café ou chá da tarde para quem estiver passando pela região ou para quem precisa de um espaço confortável para trabalhar, animado por doses de açúcar e cafeína.

Renata, fundadora do Cantinho do Bolo Caseiro, era fisioterapeuta, mas resolveu mudar de ramo, usando como trunfo algumas receitas de família. Começou preparando, ela mesma, os bolos que vendia e, de um ano pra cá, transformou o lugar numa confeitaria e cafeteria. Hoje, Renata não prepara mais as delícias da casa, mas segue administrando o lugar e vigiando tudo de perto, desde o preparo até o atendimento. As receitas dos bolos, em sua maioria, são de família.

Os destaques são o “Bolo cremoso de milho” e o “Bolo de festa de morango” – que podem ser encomendados inteiros ou comprados em pedaços no salão da loja. O bolo – molhado, cremoso, macio, suavemente doce, com morangos frescos – é o mais pedido para encomendas. Na casa, também são vendidos outros sabores de bolo caseiro como churros, abacaxi e nozes. Eles podem ser levados na hora ou encomendados e entregues até no mesmo dia, dependendo da disponibilidade. Além disso, o local conta com uma lista de bebidas quentes, como café expresso, capuccino e chocolate. Para quem está com fome e precisa de algo salgado, existem as opções de sopa, em determinados horários, e também tortas. Para encomendas de festas, rola a opção de bolo de pasta americana, tudo feito por uma equipe de confeiteiros e ajudantes, ali mesmo – com exceção dos salgados para a festa, que são terceirizados.

O local é arejado, claro e tranquilo. Sua música ambiente quase imperceptível e a disponibilidade de wi-fi livre e tomadas no canto das mesas atrai quem está trabalhando ou em reunião, mas também podem ser encontrados, neste cantinho de Itaquera, casais, grupos de amigos e famílias inteiras.

A decoração é outro diferencial do espaço idealizado por Renata. Existe até um espaço reservado para apresentação e venda de artesanatos como, panos de mesa decorativos e bonecos típicos da cultura mineira. Renata me explica que, pelo menos uma vez ao ano, ela vai até o sul de Minas Gerais para conhecer, conversar e entrar nos ateliês de artesãos locais, de onde traz os produtos para vender, além de usar alguns itens na decoração do salão, trazendo um toque ainda mais caseiro para o Cantinho.

Publicado em janeiro/2017. Estamos trabalhando para atualizar as informações do local 🙂

Trailer Yakissoba

Um carrinho de comida que vira restaurante não é uma história difícil de se encontrar na quebrada, é o seu Zé que vende churros e abre uma “churreria” ou a dona Ana que faz aquela tapioca, faz sucesso e expande o negócio. A história se repete com protagonistas e sabores diferentes, mas infelizmente não na quantidade de vezes que gostaríamos, seja por motivos que já sabemos que envolvem falta de incentivo e verba para pequenos empreendedores na periferia, ou pelo simples fato de que muitos preferem morrer antes de ver a quebrada vencer.

Mas rolou no Canindé: acompanhada de um amigo, saí do extremo sul rumo ao metrô Armênia e, depois de caminhar pelos labirintos próximos a Av. do Estado, encontramos o restaurante tranquilo, e com azulejos brilhando de tão limpos. Seu Antônio e Dona Cleonice, que são os protagonistas da história do trailer Yakissoba, um simples carrinho saído da Av. Rio Bonito que se transformou num point com clima tranquilo e Itubaína barata, são reservados e até um pouco distantes.

Ao chegarmos, o atendente Bruno nos recepcionou com carisma e teve paciência com a nossa indecisão em relação ao tamanho do prato. Em uma segunda ida ao restaurante, acompanhada por outra amiga, ele a presenteou com um doce Dedo de Moça e um sorriso no rosto. Mas de volta à primeira visita, com o yakissoba de 1kg nas mãos, custando R$22 realidades e podendo alimentar aproximadamente 4 pessoas, sentamos ali mesmo e mandamos ver. Comemos muito bem e obviamente não conseguimos terminar tudo. Pedimos para embrulhar pra viagem e meu amigo levou para casa, jantou e almoçou no dia seguinte.

Feito na hora, o yakissoba vegetariano tem legumes brilhantes a dar de sobra e com aspecto de terem saído direto da feira e caído no meu prato, banhados com caldo suficiente para cobrir e temperar todos seus componentes. Falando em tempero, uma variedade considerável de molhos fica a disposição pra dar aquela tunada no prato, com molhos como o de alho e gergelim, mas com medo de estragar o que estava bão demais, decidimos deixar eles de lado. Os carnívoros não ficam de fora! A opção “normal” de yakissoba conta com carne ou frango, ou os dois, se você preferir. E também tem o chiquérrimo yakissoba de camarão, que é um dos sucessos da casa.

O rolê valeu a pena: das pistas da Av. Rio Bonito para as mesas quadradas do Canindé, a quebrada manda a ideia de que comida é resistência porque também diz sobre sobrevivência.

 

(FECHADO) Baba Hassum

Um cliente chega invadindo a cozinha e pede por 5 esfirras. Sua mãe corre desesperada tentando impedir o filho, um garoto de 5 anos, de se jogar nos braços do simpático Hussein que se abaixa e recebe o garoto num abraço de urso.

Hussein, que aprendeu as artimanhas da culinária em solo libanês e na não concluída faculdade de gastronomia, é o cozinheiro e faz-tudo do nosso achado. Perdido na rua Rio Grande do Sul, o Baba Hassum é um estabelecimento pequeno e bem aconchegante, com azulejos brancos nas paredes que registram um antigo desejo de ser um açougue. A decoração delicada e simples foi feita por sua esposa brasileira Marcela. Ela conta que não é raro ver clientes sorridentes servindo uns aos outros, cobrando e ajudando o marido, que cria um clima família com sua energia contagiante e animada.

Após ter passado por lugares como os Emirados Árabes Unidos, o Kuwait, e claro, o famigerado centro de São Paulo, Hussein se encontra em São Caetano do Sul, no corre de uma vida melhor, acompanhado por Marcela, seu amor, que está ao seu lado há quase 4 anos. Cerca de um ano atrás, a brasileira o ajudou a abrir o pico no solo do ABC (DMRR) Paulista. Com um sotaque que não esconde suas raízes, Hussein fala entusiasmado sobre as comidas que vende, conhecimento que é herança de família: pão libanês, bolinho de carne moída ao ponto (também conhecida como kafta), rodelas de tomate, alface, homus (uma pasta de grão de bico e tahine), uma pasta de gergelim – tudo feito pelas mãos do dono.

A carne da kafta, assim como todas as carnes presentes no restaurante, é Halal, o que significa que o boi foi abatido de acordo com as normas muçulmanas, com respeito, e de cabeça pra baixo fazendo com que todo o sangue escorra e que ele morra com menos dor, tornando sua carne mais saborosa e livre de impurezas. À primeira dentada, a kafta é churrasco de gente diferenciada, porque o gostinho de alho permanece, mas, ao invés de vinagrete, vem o gostinho do tahine, que não é amargo, nem sem sal; é algo que fica ali, num meio termo e aliado ao homus toma um rumo macio e úmido lembrando um patê. O curioso é o acompanhamento. Além de mais uma porção de pastas árabes, o rango vem traz a miscigenação com o mundo ocidental em forma de batatas fritas; tanto dentro do lanche, como na bandeja ao lado do combo. Aliás, o combo, que é o item mais caro, custa R$ 28, alimenta duas pessoas e é o suficiente para só querer comer depois deste banquete um halawi (“raleu”) – doce árabe de consistência dura, mas que aparentemente é mole. A contradição é o tom dessa história.

 

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