Salsichão

Na calçada do maior cemitério da América Latina, Cemitério da Vila Formosa, fica a famosa lanchonete Salsichão. O nome sugestivo é mais uma das peculiaridades do local. O restaurante nunca produziu iguarias da culinária alemã, tampouco vendeu dogão. Na real, o nome vem de uma história bizarra contada por Manuel Basílio, sócio da lanchonete: no antigo endereço, quando ele e Wagner Sebonchine ainda não eram sócios, a Vila Carrão conheceu sua primeira hamburgueria há 50 anos.

O rolê era ideal para a larica da madrugada, especialmente quando exigia carne suculenta, bem temperada, acompanhada de bacon e ovos delicadamente batidos compondo o sabor suave de uma boa maionese caseira. O cenário do lugar contava com uma tubulação extensa de cor alaranjada que chamava atenção e lembrava uma enorme salsicha de Itu. Os clientes, que sempre tiveram uma relação de parceiragem com os cozinheiros, apelidaram o local escrevendo em cima da tubulação inspiradora: Salsichão. Na mão dos novos sócios, a lanchonete já assoprou 24 velinhas e as tubulações laranjas ficaram no antigo endereço, que não suportou a demanda de clientes que a lanchonete atingiu.

Todos os lanches – cerca de 8.000 vendidos por mês – incluem carne e outros derivados de origem animal, mas, para os vegetarianos, boas notícias: o Wagner sempre encontra um jeitinho de satisfazê-los substituindo ingredientes ou criando receitas exclusivas com o famoso “o que tem pra hoje”. O diferencial é revelado pelo o chefe da cozinha: “tem que ser amigo, parceiro do cliente” e é isso que se percebe ao olhar o clima da galera trabalhando, uma piada aqui e outra ali e nem se percebe que o Salsichão atende até a 1 da manhã todo final de semana.

O cardápio varia de R$10 a R$30, sendo o valor mais alto destinado a pratos mais elaborados como os beirutes que, além de seguir as características tradicionais dos cardápio, tem o toque especial das iguarias salsichanoenses – a receita de hambúrguer caseiro e a maionese. Quanto ao tamanho das guloseimas, todos os pratos fazem juz ao aumentativo “SalsichÃO”, o beirute servindo facilmente duas pessoas.

Experimentamos o X-Bacon e a porção de batata canoa, ambos acompanhados da maionese exclusiva da casa, que é feita com pó de ovo, num esquema kilo a kilo para não correr o risco de estragar e ser consumido no mesmo dia, como pede a recomendação da Anvisa. O hambúrguer é feito por Wagner que se recusa a usar outra carne que não seja o coxão mole: “Carne aqui, só a de primeira”. Tudo no ponto: bacon por todos os lados, gema meio a meio [durinha por fora, cremosa por dentro], queijo prato derretido e o hambúrguer temperadinho como almôndega de vó. Para fechar a conta, o melhor pedido é a torta holandesa da Regina Cacau, uma fornecedora de sobremesas do Salsichão. Cremosa e com um chocolatinho meio amargo bem distribuído sobre o creme de baunilha, a torta contem ainda bolachas que levam o nome daquela banda que mistura os melhores ritmos do Pará.

(FECHADO) Street Burguer

Luan Ribeiro quando pequeno sonhava em ser jogador de futebol e nos campos da vida conheceu seu melhor amigo Diego Gama. Os dois jogavam juntos em um time de várzea do Jardim Ibirapuera nos anos 2000. Luan se destacou como goleiro e quase foi profissional. Diego, por sua vez, embarcou na carreira de grupo Pega Samba. A amizade dos dois se fortificou após a morte do pai do Luan, em 2004.

Luan largou a carreira de futebol por conta da depressão da mãe. ‘’Só tinha eu pra cuidar dela. Família é família, sempre em primeiro lugar’’ disse Luan. Após largar a carreira de goleiro precocemente, aos 18, começou a trabalhar em um banco, onde ficaria por oito anos. Diego largou a carreira de música para trabalhar em uma clinica cirúrgica, e por lá também ficou oito anos. A gastronomia nunca foi a meta dos dois.

“A gente sempre fala que na quebrada não tem nada, mas sempre que eu ia na casa do Diego, ele inventava umas receitas’’ lembra Luan. Após o inicio da crise econômica, Luan perdeu seu emprego no banco, e Diego ficou desempregado pouco depois. Ficaram mais ou menos um ano parados, até que, durante um encontro com o amigo em comum, foram praticamente intimados a abrir seu próprio negócio, ‘’Luan, por que você não faz algo com Diego? Sua avó tem o Salão…’’. Isso clareou a cabeça dos dois, que ficaram por meses pensando qual seria o negócio perfeito. “A gente não sabia muita coisa, nós dois nunca trabalhamos em cozinha profissional, mas a gente gostava de hambúrguer’’, lembra Luan. Começaram a desenvolver o plano de negócio perfeito, pediram para a avó segurar o salão e passaram a desenvolver suas receitas mágicas. ‘’Ninguém acreditou que daria certo. Só a gente.’. Os dois amigos, então, partiram da lógica ‘’Eu só vendo o que eu como’’. Logo as madrugadas na cozinha viraram laboratório e os dois passaram noites e noites criando receitas e desenvolvendo os pratos do futuro negócio.

No Street Burguer são servidos hambúrgueres artesanais, batatas rústicas, cervejas mexicanas e até hambúrguer vegetariano. Após três meses do lançamento, o número de clientes já é o dobro do esperado. O sucesso do local é o Combo Mexicano, que conta com hambúrguer bovino (180g) grelhado e recheado com queijo, maionese de ervas, cheddar e é finalizado com guacamole e nachos. Acompanham o lanche firmeza uma cerveja mexicana e batatas rústicas, tudo em perfeita sincronia.

O sonho dos amigos é abrir um espaço maior, que além de mesas e cadeiras tenha palco para os artistas locais. Depois de já terem conseguido conquistar os moradores do Jardim Ibirapuera e região, a meta é chegar mais longe: eles também já estão atendendo por agendamento em festas e eventos. Quem dera se todo mundo só vendesse o que comesse.

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