Trailer Yakissoba

Um carrinho de comida que vira restaurante não é uma história difícil de se encontrar na quebrada, é o seu Zé que vende churros e abre uma “churreria” ou a dona Ana que faz aquela tapioca, faz sucesso e expande o negócio. A história se repete com protagonistas e sabores diferentes, mas infelizmente não na quantidade de vezes que gostaríamos, seja por motivos que já sabemos que envolvem falta de incentivo e verba para pequenos empreendedores na periferia, ou pelo simples fato de que muitos preferem morrer antes de ver a quebrada vencer.

Mas rolou no Canindé: acompanhada de um amigo, saí do extremo sul rumo ao metrô Armênia e, depois de caminhar pelos labirintos próximos a Av. do Estado, encontramos o restaurante tranquilo, e com azulejos brilhando de tão limpos. Seu Antônio e Dona Cleonice, que são os protagonistas da história do trailer Yakissoba, um simples carrinho saído da Av. Rio Bonito que se transformou num point com clima tranquilo e Itubaína barata, são reservados e até um pouco distantes.

Ao chegarmos, o atendente Bruno nos recepcionou com carisma e teve paciência com a nossa indecisão em relação ao tamanho do prato. Em uma segunda ida ao restaurante, acompanhada por outra amiga, ele a presenteou com um doce Dedo de Moça e um sorriso no rosto. Mas de volta à primeira visita, com o yakissoba de 1kg nas mãos, custando R$22 realidades e podendo alimentar aproximadamente 4 pessoas, sentamos ali mesmo e mandamos ver. Comemos muito bem e obviamente não conseguimos terminar tudo. Pedimos para embrulhar pra viagem e meu amigo levou para casa, jantou e almoçou no dia seguinte.

Feito na hora, o yakissoba vegetariano tem legumes brilhantes a dar de sobra e com aspecto de terem saído direto da feira e caído no meu prato, banhados com caldo suficiente para cobrir e temperar todos seus componentes. Falando em tempero, uma variedade considerável de molhos fica a disposição pra dar aquela tunada no prato, com molhos como o de alho e gergelim, mas com medo de estragar o que estava bão demais, decidimos deixar eles de lado. Os carnívoros não ficam de fora! A opção “normal” de yakissoba conta com carne ou frango, ou os dois, se você preferir. E também tem o chiquérrimo yakissoba de camarão, que é um dos sucessos da casa.

O rolê valeu a pena: das pistas da Av. Rio Bonito para as mesas quadradas do Canindé, a quebrada manda a ideia de que comida é resistência porque também diz sobre sobrevivência.

 

Dr. Naturalle

O setor de restaurantes vegetarianos vem crescendo na cidade de São Paulo. Segundo uma pesquisa do IBOPE, de 2012, cerca de 792.120 de paulistanos se dizem vegetarianos. Mas, apesar disso, poucas são as opções nas periferias da cidade. Por isso a procura pelo Dr. Naturalle é grande. Ele fica na Rua Agenor de Barros, na Vila Ponte Rasa, Zona Leste. O pico, que antes dava lugar a uma loja de produtos naturais, hoje também se tornou um restaurante vegetariano.

Aberto em julho de 2015, o Dr. Naturalle atende, principalmente, os trabalhadores da região – por estar localizado em uma área comercial da Vila Ponte Rasa. Professores de escolas próximas costumam comer por lá, mas para ganhar tempo, optam pela marmita. “Pedem tanta marmitex que quase não damos conta.”, conta Gabriela, 27 anos, filha dos donos, que é vegetariana desde que nasceu. Hoje Gabriela trabalha na cozinha do restaurante dos pais e lembra de quando a mãe Marilene, também vegetariana, a levava para comer em lugares muito distantes – por não terem essa opção perto de onde moram, na Patriarca. Ela conta que às vezes iam em restaurantes não focados no vegetarianismo e pediam algo sem carne: “Daí a atendente dizia ‘mas não é carne; é só presunto, é só frango, é só patê…’, o que indica que muitas vezes as pessoas não tem conhecimento sobre o vegetarianismo”.

Abner, marido de Marilene, e também dono do restaurante, não é vegetariano mas admira o movimento e considera importante ter pessoas vegetarianas no comando do fogão diariamente. “Por exemplo, temos a Jô, que também é vegetariana e trabalha com a Gabriela na cozinha. Já a Simone, de 32 anos, é atendente e também é vegetariana”” explica. Para Simone, que mora em Guainases, a existência de restaurante vegetariano na quebrada, aproxima as pessoas do movimento, que ainda é muito desconhecido por lá – e também no bairro onde mora.

A maioria de funcionários da loja não é vegetariana, mas a Gabriela disse que como eles comem lá sempre, acabaram se atentando mais para a alimentação saudável. “Eles curtem o movimento e isso acaba atingindo a vida pessoal deles também”, comemora.

Dr. Naturalle conta com cardápios que variam conforme os dias da semana e você pode comer a vontade por R$ 14,90 nas segundas-feiras. Nos demais dias, o valor é R$ 19,90. O destaque é a lasanha de berinjela que, segundo a Gabriela, é o que mais sai e o que mais atrai a curiosidade da galera, juntamente com os refogados de legumes.

 

Maia Salgadinhos

Quem entra, num dia da semana qualquer, normalmente no horário de saída das escolas da região, entre 12:20h e 13:00h, na primeira quadra do Maia, Vila Iolanda II, vê uma aglomeração de jovens e adultos, em uma rua estreita e pouco movimentada. Se a pessoa segue se aproximando, consegue ouvir os gritos famintos de: “Ô, moçaaaaaa!”, jeito como a galera costuma chamar a Ana Paula, dona do estabelecimento. Com suas senhas na mão, todo aquele povo aguarda ansiosamente o momento em que a “moça” irá trazer seus salgados e churros quentinhos e recém-fritos.

A primeira quadra do Maia, antes era conhecido por um antigo e já fechado estabelecimento, a Tia Carmem da Fogaça, e hoje carrega o peso de ter outro cantinho popular entre os moradores: O Maia Salgadinhos. “Agora vem gente de escola, professora, diretora, vem gente até de Suzano, de Mogi, só pra comprar aqui. Você tem noção disso?”, se espanta Ana Paula sobre a fama de seu PRÓPRIO estabelecimento. A Dona Ana Paula, de 55 anos, teve que deixar seu apartamento e ir para a 1ª quadra do Maia vender seus famosos mini-salgados, há 3 anos. “Ficou pequeno pra tanta demanda!”, conta.

A fama de seus quitutes começou quando o seu filho, Rai Eduardo, na época com 9 anos, saiu de casa com um saquinho de salgados, que seriam servidos na festa de aniversário dele, que não aconteceu por dificuldade financeiras. Ele dividiu os salgados com os amigos e eles ficaram maravilhados com a qualidade e pediram para a Ana Paula começar a vender. Quando esgotaram todos os salgados que eles tinham na geladeira, Ana Paula começou a fazer mais, tudo manualmente, e sem ter noção do sucesso e do impacto que aquele simples ato teria em sua vida. Hoje a cozinheira mora em um casa alugada e o Maia Salgadinhos ocupa o primeiro andar inteiro da casa. Lá, ela possui 5 máquinas que empanam os alimentos, fazem a massa e modelam até 2 mil salgadinhos por hora. Ela trabalha com duas funcionárias fixas: sua neta e sua filha.

Os mais vendidos são as coxinhas, que custam R$1,00 a quinzena, e os churros, com os sabores de doce de leite, chocolate e goiabada, que são vendidos por R$2,00 a quinzena. “Não é qualquer pessoa que é capacitada para isso,
não, porque muita gente fala assim: eu vou comprar uma máquina dessa e vender também’. Mas se for assim achando que já ganhou, vai quebrar a cara. Você tem que ter perseverança, pique e acreditar. Tem que ter aquilo no sangue”, diz Ana Paula. Ela até deixa dicas para quem quer começar nesse ramo: “Muita gente faz salgados, né? Você tem que ter o diferencial, ir atrás de novos sabores e estar sempre aberta para mudar”.

Publicado em janeiro/2017. Estamos trabalhando para atualizar as informações do local 🙂

Tapiocaria Paladares do Sertão

Atualização em junho/2020: Este lugar está fechado temporariamente devido à pandemia de COVID-19.

O encontro da Paraíba com a Vila Flórida se deu graças aos irmãos Alves Nogueira, que há 3 anos abriram a Tapiocaria Paladares do Sertão, para compartilhar com a vizinhança a receita mais preciosa da família: a tapioca. A Tapiocaria fica numa rua majoritariamente residencial de Guarulhos, mas o sucesso dos produtos, que não se restringem aos 23 sabores de tapiocas, foi tanto que os empreendedores já pensam em ampliar o espaço.

Além das tapiocas, você pode consumir pratos típicos como o Rubacão (baião de dois), pães, bolos e biscoitos caseiros, cocadas, molhos exclusivos da tapiocaria, como o chutney de abacaxi com pimenta, entre outras especialidades da casa.

Para incorporar ao cardápio o clima arretado de Cidinha e Antônio, todas as receitas são nomeadas por expressões paraibanas que causam um verdadeiro tirinete na cuca do paulistano.

Aprumadas, as massas saem da simplicidade branca da goma de mandioca e ganham cores e sabores através da hidratação com diferentes ingredientes. A técnica tradicional de hidratar a goma com água vem do estado de origem, Paraíba e, aliada a ela, Antônio, que se formou em Gastronomia, agrega elementos da culinária contemporânea, hidratando o subproduto da mandioca com sucos de cenoura, beterraba, couve, limão, além de vinho e café, o que resulta num magote de tapiocas únicas.

Na Tapiocaria Paladares do Sertão é impossível se manter sibita. O bucho tem cores que saltam os zói e cheiros que prendem as venta. Ah, a Sibita Baleada, o sabor mais barato do cardápio (R$5) é perfeito para acompanhar um café. Leva apenas manteiga de garrafa no recheio. É simples e bela, como o cordel e toda a cultura nordestina. O sabor preferido da Cidinha, que prepara tudo com uma alegria tão grande, quanto o tamanho das tapiocas, é o Calango do Nordeste (R$15). Peito de peru, queijo branco, cream cheese, rúcula e pedaços de tomate seco te levam a uma experiência saborosa, de gostos opostos que se complementam, como a cremosidade leve do cream cheese e o sabor acentuado do tomate seco.

Tem também a Cangaceiro, que é uma refeição inteira num prato com tapioca hidratada por cenoura e recheada com carne seca, catupiry, vinagrete e queijo coalho. Ao terminar esse prato, que dividi com outro repórter da Énois, a sensação foi a mesma que eu sinto ao lavar os pratos do almoço do primeiro dia de ano: “Depois dessa, vou deitar e rolar”. (Mas calma, nem toda tapioca vai te engordar loucamente. Na verdade, o que se sabe é que a tapioca é mais light que um pão, por exemplo, pois não tem glúten e não prejudica o andamento de metabolismos mais lentos). Para acompanhar a tapioca Cangaceiro você pode pedir o guaraná Jesus – um refrigerante típico do Maranhão, cor de rosa e de sabor achicletado, com toques de cravo e canela.

Estou para ver tapiocas mais saborosas, criativas e bem-servidas em São Paulo!

 

JLV Doces e Salgados

Pertão do Terminal de Ônibus do Campo Limpo, bem próximo do Projeto Arrastão e de frente para a Praça do Campo Limpo, é onde você pode comer ou encomendar os salgados mais saborosos de todos esse multiverso. Mais precisamente na Rua Joviano Pacheco de Aguirre, 235, a JLV Doces e Salgados se reinventa há 14 anos. Hoje, mesmo ali no meio de tanta informação e corre-corre, a pequena lanchonete sem muito destaque na rua surpreende pelo número de clientes.

Frequentada por pessoas das mais diversas, a JLV é um dos patrimônios históricos da quebrada. O ambiente pequeno da lanchonete já acolheu gerações e gerações de moradores da região. Exatamente por isso, crianças, adolescentes, adultos e idosos se relacionam ali, sempre com um sorriso no rosto.

O casal Valdemir e Luci, fundadores do lugar, trabalhou durante muitos anos em um buffet em Moema – buffet este que distribuía salgados para praticamente toda a grande São Paulo. Aprenderam as receitas da massa, dos temperos e principalmente como não ser generosos nos recheios, traço tipico dos pratos NÃO firmeza. Em pouco tempo a ideia de empreender foi tirada da gaveta e colocaram a mão na massa, lembrando da generosidade que faltava no antigo trampo. Na troca de ideia com a clientela e com o seu Valdemir, descobrimos que a história dos salgados, foi consolidada unanimemente pela mistura da massa leve e crocante, com a grande quantidade de recheio, forte e suculento. Todos custam a incrível e talvez mais atraente fortuna de R$3.

A especialidade da casa e o que de fato sai mais é a esfirra de carne. A esfirra é feita uma a uma, de maneira totalmente artesanal, e é extremamente importante que ao assar, a massa esteja sempre fofinha por dentro e crocante por fora. O melhor do recheio é que o tomate é colocado em excesso. Mas excessivamente com perfeição, porque dá um aspecto de frescor naquele montão de recheio, que faz da mistura, uma leveza divina. O salgado é tão bom, que botar ketchup ali seria heresia.

Na variedade do cardápio, além dos salgados você encontra bolo de brigadeiro, bolo trufado, torta de maracujá, bomba de chocolate, suco de goiaba, e outros iguarias. O produto mais barato são os sucos naturais, que custam R$ 2 cada garrafa de 200ml, e o produto mais caro é o quilo do bolo trufado, que custa R$47. Agora, imagina… Se o produto mais caro custa R$ 4,70/100g, o quanto você não pode comer com vintão? Se você quer ganhar uns quilinhos, de sorrisos e de histórias, sem dúvida alguma a lanchonete JLV vai te proporcionar as melhores.

Publicado em janeiro/2017. Estamos trabalhando para atualizar as informações do local 🙂

Ô Pastel – O legítimo pastel de feira

Ei, você! Você mesmo, que está de passagem agora pelo Terminal João Dias, não passe tão rápido. Sei que está com pressa, mas juro que por trás desse aglomerado caótico de ônibus, metrôs, carros, gente e churrasco de rua existe um lugar em que vai fazer você querer ficar ali, observando tudo de longe por horas. Tá vendo aquele monte de comércio bem atrás da enorme Parada Itapaiúna? Observe um espaço grande, que lembra uma garagem. Ali dentro dá para perceber uma barraquinha vermelha de pastel. Pode entrar, que você não vai se arrepender. Provavelmente quem vai te recepcionar é a dona Sueli, a simpática e hospitaleira dona que abriu a Pastelaria Bem Legal há dois anos. Diz ela que não sabia absolutamente nada de pastel antes do empreendimento, mas você não vai acreditar nisso, quando provar alguma das 40 variedades de sabores servidos nesse paraíso pasteleiro.

Deslize os olhos pelas placas com sabores e deixe sua intuição te guiar na escolha, mas vou te dar a dica: os de pizza, carne e frango com Catupiry são os que fazem mais sucesso. Eles são muuuito bem recheados. E tem mais: a Sueli, criativa que é, teve a ideia de criar molhos que acompanhassem os pasteis, indo além do clássico vinagrete. Se liga: alho, alho e salsa, cebola e salsa, cebola e orégano, saladinha, apimentado e tomate – todos desenvolvidos especialmente para combinar com cada um dos sabores do cardápio. Isso é que é harmonização! O difícil vai ser escolher um só porque, acredite, você vai querer comer os molhos de colher.

Não bastasse todo esse dilema entre os pasteis salgados, os doces vão vir para complicar ainda mais sua a cabeça. Pense no seu chocolate favorito. Em seguida, coloque ele numa massa de pastel e frite. Já está delirando? Além dos tradicionais Romeu e Julieta, chocolate e as suas combinações com morango ou banana, você vai poder escolher entre pasteis de marcas famosas como Diamante Negro, Laka, Shot e Sensação. Onde mais você já viu algo parecido? No de Diamante Negro dá até para sentir os cristais crocantes no meio do chocolate derretido. Mas olha, mais uma dica, dessa vez da própria Sueli: o que ela mais gosta entre os sabores açucarados é o de doce de leite. Pode pedir ele coberto no açúcar com canela, sem medo. Para acompanhar tudo isso, um caldinho de cana é a melhor escolha. Você ainda pode pedir uns salgados ou então algum dos mais maravilhosos caldos quentes da cidade. Tem caldo verde, de costela com mandioca, mocotó, feijão com calabresa ou carne seca, mandioquinha com frango ou carne seca, piranha e sururu. Porque só fazer o melhor pastel da região não é o suficiente para a Sueli, não é mesmo?

E aí, valeu a pena conselho, né? Na verdade, se você seguiu ele direitinho, com certeza já deve estar até pensando na próxima visita e ficando em dúvida no próximo sabor que vai experimentar.

Atualização em 11/06/2020: A Sueli reformulou algumas ideias pro negócio, mudou de nome e de endereço e abriu o “Ô Pastel – O legítimo pastel de feira”, na mesma região! Ele fica na rua José Barros Magaldi, 23 – Jd São João 🙂

Ville Japan

Eu seguia cotidianamente pela Av. Sadamu Inoue, a principal via que liga o extremo sul da capital com o resto da cidade, quando vi uma série de placas vermelhas com formato de peixe e os dizeres “restaurante japonês”. Deixei meu coração ser guiado pelas setas que as placas traziam e desviei do caminho principal, entrando em uma ruazinha desconhecida. Ao entrar no Ville Japan, a impressão era de que eu acabara de atravessar um portal com poder de abrir um buraco na terra e transportar as pessoas para o outro lado do mundo. Poucos passos foram dados e, de repente, eu estava imerso em um mundo mágico e leve, composto por karaokê e peixe cru.

O criador desse mundo é o chef Marcos Naka, que há seis anos abriu o restaurante no espaço onde antes era apenas sua casa. As placas de peixe são porque, segundo o próprio, ele “sempre entendeu muito de marketing”. O mais legal é que o Marcos não só idealizou tudo isso como também é o responsável pela construção da parada. Todos os elementos de madeira que compõem a decoração do lugar foram feitos por ele, que utiliza caixas de bacalhau reaproveitadas. Segundo o chef, as caixas são reforçadas para aguentar os impactos das viagens marítimas, o que resulta em um material de ótima qualidade para se transformar em figuras de peixes, crustáceos, dragões e samurais.

Um dos pratos mais vendidos no Ville Japan é o temaki, apresentado no cardápio nos tamanhos pequeno (R$ 9), normal (foto, R$ 19) e mega (R$ 25), mas mesmo o normal já é maior que todos os temakis que vi na cidade. Outro clássico, o yakissoba aparece em oito variedades, incluindo o inusitado Sabor do Nordeste. Ele foi criado após um pedreiro amigo do Marcos lançar o desafio: “No dia em que você fizer um prato com ingredientes do Nordeste, incluindo quiabo, eu como a sua comida”. Desafio aceito, nasceu o yakissoba que, além da tradicional massa com legumes, acompanha finas fatias de quiabo, tiras macias de filé mignon, linguiça (bem) apimentada, bacon, camarão e um ovo frito por cima (!!!). E não é que a mistura funciona? A porção média custa R$ 45 e alimenta muito bem 2
pessoas. É yakissoba com sustança! Eles ainda servem entrada (macarrão bifum e sushi), sobremesa (gelatina de duas camadas) e infusões de folhas de figo com mel ou gengibre em cachaça, tudo como cortesia!

O espaço ainda conta com pebolim, sinuca e, em uma das salas privativas para grupos, um Nintendo Wii! Sim, como nos tradicionais restaurantes japoneses, o Ville Japan tam bém tem aquelas salinhas que ficam geralmente reservadas para famílias – maior público do lugar. Dei a sorte de pegar o restaurante vazio e fazer dele todo uma sala privativa, um pequeno mundinho japonês só para mim, no meio do Jardim Marcelo. Tudo graças ao chamado dos peixes espalhados ali na avenida, facinho para todo mundo ver. Difícil agora só é dizer sayonara.

 

Restaurante da Marlene

Cambuci: a palavra que nomeia o bairro do Centro de São Paulo veio de uma fruta nativa da Mata Atlântica. Sua origem é o termo “kãmu-si”, ou “pote d’água” em tupi-guarani, devido à sua semelhança com o formato dos vasos de cerâmica que os índios produziam. O fruto – da família das goiabas e jabuticabas – está diretamente ligado à história do estado de São Paulo, pois, originalmente consumido pelos índios, passou a ser consumido pelos bandeirantes curtido na cachaça.

Apesar da importância histórica e ambiental, pouca gente conhece a fruta e a espécie chegou a ser ameaçada de extinção. Hoje esse quadro vem mudando e o cambuci se tornou um símbolo de preservação da Mata Atlântica, graças a estratégias como a Rota do Cambuci, um festival que teve sua primeira edição em 2009. Parelheiros, no extremo sul da capital, faz parte dessa rota. A 37km de distância do Marco Zero da cidade, na Sé, a região, com seu clima de interior e cercada por toda parte pelo verde da Mata Atlântica, foge completamente do perfil caótico e cinza do resto de São Paulo. É lá que estão localizadas as duas unidades do Restaurante e Pizzaria Marlene, que certamente possuem a melhor e mais sustentável comida caseira da região.

Aberta em 1989, pela Dona Marlene, a primeira casa era inicialmente um bar. Em 2006, ela passou a desenvolver receitas com frutas nativas, que deram tão certo que três anos depois passaram a fazer parte da Rota do Cambuci. O restaurante self-service muda o cardápio todos os dias, de acordo com a qualidade e preço dos produtos na semana. Ainda assim, alguns pratos são verdadeiros clássicos, como a moqueca de peixe, o peixe à milanesa e a espetacular costelinha de porco no molho agridoce de cambuci, que desmancha na boca e combina perfeitamente com o sabor ácido e adocicado da fruta. Vale ressaltar também que todas as ervas e folhas são orgânicas, compradas de produtores da região. O preço é muito camarada e para acompanhar a comida, nada melhor que o suco de cambuci, também ácido e adocicado na medida certa. Uma paleta de cambuci com leite condensado é perfeita para fechar o almoço. Outras delícias caseiras feitas com a fruta também podem ser encontradas no restaurante, como geleias, musses e cachaças.

“Quando comecei, Parelheiros era bem menor, mas não cresceu tanto econômica e culturalmente falando. É preciso de muito trabalho para que os moradores daqui tenham mais contato com as nossas frutas”, diz a simpática Dona Marlene, que abriu a segunda unidade do restaurante em 2015 e também dá oficinas culinárias sobre as frutas nativas em diversos pontos da cidade. Com sua rica simplicidade transmitida tanto na fala, quanto na comida, ela se tornou uma figura importante na divulgação da região. É daquelas pessoas com um jeito gostoso, que dá vontade de colocar dentro de um potinho, ou de uma compota, e levar para casa.

 

 

Point do Milho Verde

Quando decidiu abrir um negócio na periferia da Zona Norte de São Paulo, Sr. Israel fez uma viagem até Goiás. A ideia era pesquisar a culinária local para trazer alguma novidade que fosse diferente de tudo que já tinha visto no bairro que mora há 36 anos. No Largo da Parada, a maioria dos comércios são de roupas e farmácias. Mas quando ele chegou, eles não existiam. Feliz e contente, abriu, em 2003, o Point do Milho Verde. Uma espécie de restaurante-lanchonete que funciona o ano todo, independente do clima.

Mal sabia ele que, treze anos depois, o destaque do Point seria não o carro-chefe e ingrediente que dá nome ao lugar, mas o self-service de açaí com creme de cupuaçu. Creme que ele mesmo produz e se orgulha em dizer que “os concorrentes até vendem açaí na tigela, mas o esquema de self-service é uma exclusividade do Point”. A poupa é congelada e dissolvida na fábrica em Taipas, na mesma Zona Norte.

Assim como o ambiente, o cardápio também é amplo. Toda variação de um mesmo tema – o milho – está contemplada lá. As pamonhas recheadas doces, de côco e Romeu e Julieta, são as mais vendidas e custam R$ 7,00. São fofinhas, leves e têm um gosto suave, mas sem deixar a desejar na doçura. Apostas não tão tradicionais de recheio que deram muito certo na combinação.

O Point é bastante frequentado por famílias com crianças e clientes já conhecidos da casa, tem decoração toda de madeira – o que dá um clima mais rústico ao local. Nas cadeiras que ficam perto da entrada, o caos da cidade e o clima interiorano se harmonizam: você vai se sentir na beira da estrada (talvez de Goiás) e, de vez em quando, é acordado do sonho com uma buzina te lembrando que ainda é São Paulo. Os funcionários são em sua maioria mulheres, incluindo Nalva, a baiana que cozinha outro destaque da casa nas noites frias da Zona Norte: os caldos, que são colocados em cumbucas, que se mantém aquecidas sobre o fogão industrial.

Os clientes podem escolher o sabor e se servir, com direito a torradas e temperos à vontade. Os sabores vão desde feijão até o próprio caldo verde. Mas de mandioca com carne seca é o mais procurado. É saboroso, bem temperado, consistente e tomar na cumbuca pequena, que custa R$ 10,00, faz você se sentir aquecido por dentro.

 

Pantcho’s House Burguer

Cheddar, presunto e anéis de cebola empanada cobertos por molho de mostarda e mel no pão australiano artesanal: esse é o Chico Cheddar, o hambúrguer mais pedido da casa. Na cozinha, os hambúrgueres são feitos pelo Ricardo, o Pantcho, que descobriu ter talento pra coisa depois de muito ao assumir a cozinha nas reuniões entre amigos que fazia em casa, junto com a companheira Regiane.

Entrar no Pantcho’s House Burguer é como estar em um filme do Tarantino. Parece uma lanchonete americana dos anos 80, com luz baixa, sofás, vinis e pop-art. “Vocês estão no lugar errado”, já ouviu Ricardo, certa vez, de um cliente. Mas o casal escolheu abrir seu negócio no Grajaú justamente por perceber que não tinha nada parecido na quebrada onde moram. Os dois tocam o dia-a-dia do lugar e fazem questão de tornar tudo muito pessoal. Todos os nomes dos hambúrgueres são referências aos seus bichinhos de estimação e pessoas importantes para eles. O Chico Cheddar, por exemplo, é uma homenagem ao pai da Regiane. Tem também o Gato Rei, que acompanha carne bovina, uma “exagerância” de bacon, queijo prato, cebola e maionese especial no pão artesanal, e custa.

O Clássico 70 é o mais barato da casa, mas a Regiane garante que não deixa a desejar para os outros: hambúrguer bovino, coberto com fatias de queijo, acompanhado por tomate e cebola sob uma camada de maionese especial no pão artesanal. E, ah, para adicionar fritas ou anéis de cebola empanado ao seu burguer, você paga mais R$ 4,50. Como opção de bebida, o Choco Kit Kat, feito com um sorvete que é receita de uma confeitaria local, têm pedaços de chocolate, palitos de Kit Kat. O atendimento é atencioso e você pode explorar o cardápio pedindo aos funcionários dicas sobre seus lanches e acompanhamentos favoritos. Na trilha sonora não podia faltar Criolo, um dos muitos artistas do Grajaú que fazem parte da identidade da hamburgueria. PS: dê atenção especial ao desenho da capa do cardápio, também, obra de outro artista local.

Aqui, casais jovens, idosos e grupos de amigos se encontram em plena quinta-feira à noite, num clima de conforto e descontração. Muita gente chega ao Pantcho’s por meio da página do Facebook, que tem uma identidade visual profissa. É que a Regiane é designer e aplica muito do que aprendeu pra alavancar o negócio, que antes era delivery e há dois meses tem local fixo na região.

AVISO: A hamburgueria fecha às 23h. Mas existe o risco do Tim Maia no vinil não deixar você querer sair. Os funcionários que me perdoem, mas precisei dançar.

 

 

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