Esfihas Dozza

Osasco, cidade próxima à zona Oeste, na região metropolitana de São Paulo, é um lugar historicamente conhecido pela quantidade de imigrantes que acolheu em seus primeiros anos. Tanto pelo fato de ter sido fundada por um imigrante italiano (Antônio Agú), quanto pela abundância de imigrantes armênios que chegaram ao município em 1920, especifi camente no bairro de Presidente Altino (o estado de São Paulo possui cerca de 130.000 deles).

Entre esses imigrantes de origem árabe estavam os pais do senhor Dozza e da senhora Isabel, casal que inaugurou em 1956 um humilde comércio de esfihas e quibes pra viagem. O local era o mais tradicional e familiar que poderia ser: salgados típicos da cultura dos donos, feitos num local pequeno, com a cozinha aberta, negócio de fi lhos de imigrantes que leva o nome do primeiro dono.

No final dos anos 1990 e início dos anos 2000, com o falecimento dos fundadores, as fi lhas, genros e netos de seu Dozza e da senhora Isabel assumiram o negócio e o expandiram. De uma simples lanchonete árabe, o Esfi has Dozza se tornou um elegante e tradicional restaurante.

O cardápio, puramente árabe, inclui: esfi has com bastermã (carne seca armênia) e o creme tahine, quibes típicos armênios, michui de frango, espeto de kafta, arroz armênio, ninho de damasco e nozes, dolmá, tabule e chancliche. Os nomes podem ser difíceis de pronunciar mas são facilmente aceitos pela comunidade do bairro de Presidente Altino. As pessoas de lá adoram ir ao restaurante desfrutar das iguarias árabes e conversar com os donos, que estão sempre disponíveis.

O público do Dozza é tão fi el e apaixonado pelas esfihas que apenas comer no ambiente não era suficiente – comprar pra viagem também não. Por isso, ali mesmo são feitas as esfi has para serem vendidas congeladas.

“A ideia é fazer com que o cliente possa ele mesmo ter suas esfi has Dozza em casa”, diz Vanessa Aguileia, representante comercial do restaurante. Além da decisão de lançar as esfi has congeladas, Vanessa explica também o porquê de não haver opções mais brasileiras no cardápio. “Aqui, nós somos tradicionais.”

Por mais que peçam a inclusão de pudim de leite no cardápio de sobremesas, ou a presença de uma televisão no restaurante para que os clientes não percam um jogo do time do coração, o Dozza insiste em proteger sua identidade exclusivamente árabe em defesa do seu diferencial – a tradição.

Rock It

O município de Itapevi (na Grande São Paulo) tem vários bares, mas desde 2015 o Rock It supera em originalidade muitos bares de lá e tantos outros da capital paulista.

Quem entra no bar itapeviense se depara com discos de vinil nas paredes, sofás e chão xadrez, lustre de fitas cassete, mesas de sinuca e pôsteres de Elvis e de pin-ups. Parece um bar de rockabilly ou rock clássico. Mas não é só isso.

Francine Motta, a proprietária, afirma que, desde o começo, a ideia era abrigar todas as tribos, algo que ela mesma buscava. “Se quiséssemos fugir da rotina, as opções eram ir pra Barueri ou para o centro de São Paulo. E é um saco ter que ir pra longe para se divertir.”

Quem reclama de mesmice não tem problemas no Rock It. Cansou de rock? A próxima noite é de reggae. Tá a fim de dançar? Tem a de pop.

Não está no clima para ouvir música? Tem sinuca e fliperama. Quer só conversar e comer com a galera? O Rock It também serve pra isso – e muito bem.

A comida é tão caprichada quanto a sua decoração e programação musical: tem porções, pastéis e lanches, quase todos com opções veganas. Até a comida é ideológica, como tudo no bar que tem Primeiramente, Fora Temer em descrição de evento no Facebook e festas girl power só com mulheres discotecando. “Como muita gente se torna vegetariano ou vegano por questões ideológicas – em defesa dos animais ou da natureza –, a gente optou por oferecer a opção de substituir a carne em qualquer item do nosso cardápio”, explica Francine. Dá para pedir pastel, quibe, coxinha e qualquer um dos lanches de hambúrguer artesanal na versão soja – o preço é o mesmo.

Quem fica na cozinha é a mãe de Francine. No começo, Dona Edna achou estranha a ideia de largar o emprego para abrir um bar, conta a filha. Hoje conhece toda a galera que cola lá eprepara os lanches nas noites de festa ou em eventos, como os Flash Days de tatuagem, saraus, bazares e encontros de carros antigos.

E, se ainda não estiver convencido de que vale a pena atravessar São Paulo pra curtir o Rock It, Flávia Teodoro, moradora da Brasilândia, diz que faz mais sentido fazer uma viagem de 26 km até lá do que uma de 8 km até a Vila Madalena. “Tô de saco cheio de bar blasé.”

O bar, criado para evitar ter que ir para o Centro se divertir, está trazendo gente de toda São Paulo para Itapevi.

(FECHADO) O Mestre do Pastel

Existem mais de 230 pastelarias no município de São Paulo. Ao menos são essas as contabilizadas até agora pelo site GuiaMais, isso se não contarmos as outras 129 que o site aponta haver em municípios vizinhos. Mesmo assim, há quem atravesse 35 km a partir do marco zero do Centro da cidade pra comer pastel em Itapevi, cidade próxima à zona Oeste da capital paulista.

A maioria das pastelarias da cidade não chama muito a atenção com seus pastéis tradicionais e pouco mais de quatro opções de recheios. O que fazer se eu gostar de frango, mas não de catupiry, ou de presunto, mas não de queijo, no bauru? E se eu quiser um pastel de pizza, mas não curtir tomate? E se eu gostar de todos os recheios de pastel, mas estiver enjoado do sabor da massa? A resposta para todas essas perguntas está no Mestre do Pastel, que serve opções de pastéis até então inéditas no município, e com um preço acessível.

Você pode pedir um pastel tradicional com cinco opções de recheios adicionais, um molho e dois temperos extras – tudo isso por R$ 7,90. Achou barato? Se, ao invés dessa opção, você preferir um pastel com um dos recheios especiais (bacalhau, camarão ou carne seca), o preço só aumenta R$ 1.

Mas caso queira tudo isso em uma massa inusitada, você precisa pedir o maior diferencial da casa. A pastelaria tem massas especiais nos sabores ervas finas, parmesão, apimentada e chocolate. As massas não se diferenciam apenas no paladar, mas também na visão: elas são coloridas! Tem pastel verde, amarelo, vermelho e marrom. “E não é corante!”, afirma Renan Barbosa – dono do local – ao contar que as cores das massas, encomendadas por um fornecedor exclusivo, vem dos próprios ingredientes.

Renan e sua esposa Joice, ambos empreendedores, abriram o restaurante em dezembro de 2016 com apenas três mesas, mas logo precisaram expandir para mais cinco mesas, além de oferecer a opção de delivery.

“Com o espaço menor, a casa lotava, ficava gente em pé. Já fui até na esquina da pastelaria pra atender cliente. Em menos de cinco meses, já tivemos condições de tornar o espaço maior para atender melhor o nosso público.” O dono explica o sucesso instantâneo que a pastelaria alcançou. “Não existe crise pra comida.”

Com tantas opções de pastel, o dono afirma que não pretende adicionar outras opções ao cardápio. Nada de lanches, sanduíches ou sorvetes. Nem bebida alcóolica. O Mestre do Pastel tem um único foco: do recheio à massa, “Somos especialistas em pastel”.

Mundi Batataria

Quando alguém para de comer carne, um dos maiores desafios é comer em fast-food. Não dá para ir aonde todo mundo vai e, ainda assim, comer muito. Nada de McDonald’s, Burger King ou KFC. Mas na Mundi tudo é possível. O foco deles é a batata. A Mundi Batataria é uma marca criada em Itapevi (município a oeste de São Paulo) pelo empreendedor Wellington Rabelo, quando este percebeu, junto a seus sócios, que faltava algo gostoso, barato, chamativo e que funcionasse para todos os públicos gastronômicos.

“O nosso público vai desde criança pequena até idoso. Todo mundo gosta de batata frita”, foram as palavras do fundador da marca, orgulhoso ao dizer que o primeiro quiosque da Mundi, inaugurado em 2011, fez muito sucesso logo no primeiro mês. A primeira lanchonete Mundi disputa a atenção dos fregueses com pastelarias, sorveterias e até mesmo um Subway (que em 2010 se tornou a maior rede de fast-food do mundo), e é um dos poucos lugares que nunca está vazio. Das 10h30 às 22h30, sempre tem alguém fazendo seu pedido e desfrutando das batatas Mundi.

Quadrados e com a aparência de uma casinha de desenho animado e com o mascote da marca (uma batata frita com chapéu de chef) no telhado arroxeado, os quiosques já viraram pontos de referência. Seja pelos folhetos com imagens de batatas com rosto, pelas bandeirinhas colocadas nas porções, ou até mesmo pelo jingle que vez ou outra toca na rádio dos quiosques da batataria, existe muita identidade envolvendo a marca Mundi.

São três tipos de batata – palito, rústica e xadrez. Você ainda pode escolher entre nove coberturas para as batatas (ou, se quiser, comer as nove todas de uma vez): molho barbecue, cheddar cremoso, alho e ervas, molho caseiro, mostarda com mel, bacon, mussarela, catupiry e calabresa. Toda essa variedade também está disponível para cobrir outras porções de salgados.

“As batatas ainda são nosso foco”, diz Wellington defendendo o nome e a proposta original da marca. “Tanto que adicionamos coxinhas e açaí ao cardápio, mas junto vieram dois novos tipos de batata.”

O que a batata da Mundi tem de diferente das batatas de tantos restaurantes fast-food e bares que existem pela cidade? Eles usam a batata europeia com a coloração da polpa e o sabor mais fortes. O especialista explica que a maioria dos restaurantes preza por batatas de sabor menos acentuado e de corte mais fino porque, nesses lugares, elas são o acompanhamento de um lanche ou prato. Lá, elas são o prato principal.

Samambaia Bar & Lanches

Quem caminha à noite pelo Tatuapé já deve ter notado a quantidade de barzinhos na região, que mais parecem cópias dos da Vila Madalena e do centro expandido. Esses bares atendem ao público jovem da região, que sofreu um boom imobiliário e tem atraído cada vez mais pessoas de outros lugares.

Aparentemente despretensioso, o Samambaia Bar & Lanches é a união do saudosismo bairrista com as paixões de Carol e Tiago, ambos criados no Tatuapé. A dupla decidiu abrir um negócio após terminar a faculdade de ciências sociais. Tiago queria ver no bairro o antigo movimento, com pessoas que se conhecem e estabelecimentos que fortalecem a cultura local.

O som ambiente é gerado por uma vitrola, alimentada pelos mais de 300 discos que eles têm na casa. “Aqui não tem reprodução automática. Nós temos que parar o que estamos fazendo e ir trocar. E isso acaba nos trazendo de volta pra realidade”, falou Carol. “Para nós, os algoritmos não servem para nada. Preferimos o fator humano”. Sempre que possível o bar promove “atividades extracurriculares”, como flash tattoos e projeções de filmes independentes.

A casa tem um cuidado especial com as bebidas, privilegiando a variedade e os pequenos produtores. Há muitas opções de cachaças, separadas por regiões do Brasil. Se preferir algo gelado, aposte nos chopes. Sempre com pelo menos duas opções, as bebidas são trocadas semanalmente, oferecendo maior variedade e marcas menos conhecidas. Tiago pode dar uma aula sobre cervejas, basta solicitar. Toda segunda-feira tem chope em dobro.

Para comer, o carro-chefe é um clássico de boteco: moela. Comprada da avícola mais antiga do bairro, é cozida na cerveja preta, temperada com especiarias e servida em uma cumbuquinha com salsinha (colhida da horta do próprio bar) e uma cesta de pães. “A ideia é servir um prato que é muito conhecido entre os mais velhos, mas com uma cara nova para a geração atual”, conta Rafael, mestre-cuca do bar e amigo de longa data dos donos. A porção pode ser dividida entre duas pessoas numa boa. A ideia do cardápio é combinar elementos da culinária contemporânea aos gostos dos donos e à proposta do ambiente. Entre as opções estão desde ovos coloridos a pratos mais sofisticados.

Um dos resultados dessa mistura – e o preferido de Carol, vegetariana –, é o lanche vegano de legumes marinados no pão ciabatta. O pão, feito com farinha orgânica e com fermentação natural, produzido e entregue no bar por uma amiga da Carol, é recheado com abobrinha e berinjela seladas na chapa, acompanhadas de rúcula e tomate confit. É de lamber os dedos literalmente: você vai lamber o tempero que ficar em seus dedos e rezar para o sabor não ir embora jamais.

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