Brigadeiro misterioso só pode ser comprado na Vila Formosa
Texto e fotos por: Beá Lima
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O sino da igreja soa, os ponteiros acusam meio-dia: hora da saída na maioria das escolas da Vila Formosa. Aos poucos, os estudantes passam a se aglomerar no estabelecimento de esquina da Av. Renata com a Rua Carlito. “Cuidado com o cruzamento”, ouço minha vó falar enquanto me olha atravessar a rua – cena recorrente de uma memória distante e saudosista.
Brigadeiro é o nome da magia que faz gente grande voltar à Bomboniere Bom Doce só para apreciar: [piada ruim] o doce mais brasileiríssimo da cidade. Os ingredientes são cacau em pó, leite condensado e manteiga. “Só isso, dona Fátima?”, pergunto. Ela ri e afirma com ar de deboche: “Só isso”. Há com certeza um quarto ingrediente que jamais será revelado para minha tristeza e das possíveis próximas gerações. Porém, enquanto der pra adquirir a simpática bolinha marrom envolta por finas raspas de chocolate a R$2,50, o gosto da infância estará a salvo.
Mas nem sempre foi assim. Quando a Dona Fátima Dias ganhou essa receita de um antigo fornecedor, os primeiros exemplares tinham a consistência de uma pedra, segundo ela, que ainda complementa a “autozoação” ao contar que eles eram ótimos em caso de assalto, porque poderiam servir como arma para defesa. O mais louco de tudo isso é que a história do brigadeiro está intimamente ligada à proteção do patrimônio. O doce brasileiro ganhou fama em 1945, na campanha do milico brigadeiro Eduardo Gomes à presidência do Brasil. As mulheres passaram a trocar a guloseima por doações à campanha do candidato que não ganhou as eleições, mas propagou a receita do doce incrementado da Dona Fátima. O tempo passou, a receita foi sendo aprimorada e hoje, junto à outras especiarias como quindins, doces árabe e canudinhos de doce de leite, faz a renda da dona Fátima e mais duas funcionárias, a Antônia e a Cristina.
Outro sucesso da Bomboniere é o sorvete, sendo o sabor mais famoso o de leite ninho trufado. Existem outros 19 sabores, todos produzidos pelas mãos da senhora de 70 anos, e que, segundo a clientela, deixam no chinelo a massa de marcas tradicionais. Produzido com frutas frescas trazidas pelo filho da dona Fátima, Valdemir, a receita quase se perdeu quando uma franquia da Jundiá abriu as portas na mesma boa e velha Av. Renata. Desanimada. Dona Fátima chegou a ter um comprador firmado para o seu negócio e conta que só não vendeu porque Deus revelou: “A porta que eu abro ninguém fecha”. E assim se fez, após 1 ano e 6 meses, a franquia fechou e a Bomboniere lá ficou para nossa alegria. Amém! Ou melhor, Awoman – salve a Dona Fátima!
Destaque
Brigadeiro (R$ 2,50)
Preço Médio
R$ 5
Como Chegar
Desça no primeiro ponto da Avenida Renata e dê 4 passos em direção ao cruzamento com a Rua Fábio. A bomboniere está na mesma calçada, olhe para a esquerda.